A sociedade portuguesa, sector politiquice/politiqueiros, ostenta, actualmente, um tal nível de hipocrisia e cinismo, como há muito não se via. A parecer um grupo de coristas do Folie Bérgeres armadas em púdicas. Como se todos, perante um elevado padrão de moral saído não se sabe de onde, se tivessem, de repente, motivados pelo seu próprio discurso de beatitude, convertido em Guardiãos do regime. Desconhece-se que, qualquer um dos políticos com assento no Parlamento, tenha, nas suas fileiras, graduados de comportamento assim tão apurado, que possam atirar pedras a propósito de tudo e mais alguma coisa. Dou como exemplo a história de José Sócrates ter assinado projectos de casas quando era exclusivo na AR. Definitivamente, os socialistas não aprenderam nada com os Governos do PSD?! A que pretexto se cai - se é que "caíu" é o termo - numa esparrela tão primária? É coisa de meninos de escola, valha-me Deus! Então já não se arranjam uns primos, amigos, afilhados, sobrinhos, para assinar os trabalhinhos?! Isto é mais que elementar! Assumir, à vontade, e sem constrangimentos, estes actos - previsivelmente perfeitos para virem a público na altura oportuna - para servirem de arma de arremesso aos rivais, tem custos! Há muito tempo que os filiados "não governamentalizáveis" - leia-se os que não ocupam cargos públicos a que inerem incompatibilidades - e, ainda mais, os "governamentalizados, deviam saber dar a volta a estas situações e saber tocar a pandeireta, de modo, a permanecerem intocáveis e a mostrarem uma vidinha irrepreensível! Mas esta malta do PS tem destas coisas! Assinar com o seu próprio nome projectos, senhor Primeiro-Ministro!!?? Raios o partam, até parece que José Socrates nunca pensou, ainda que no plano das meras hipóteses, ser PM!! Então, não me diga que não conhece engenheiros de outros partidos que, por que ocupam cargos com inerentes incompatibilidades, fazem projectos e tudo e mais alguma coisa mas que os dão a assinar, prudente e cautelosamente, a familiares, amigos, ex-sócios e afins?! Em que o mundo é que o senhor vive?! O "Público", dois anos depois, volta à carga com esta novela sem pés nem cabeça. Continua, com a avidez de um iletrado, a vascular a vida do primeiro-ministro nos anos 80 e 90, fascinado por factos absolutamente irrelevantes. Independentemente de Sócrates ter ou não recebido o subsídio de exclusividade no Parlamento, à época, essa condição não era incompatível com o exercício de funções profissionais não remuneradas, o que significa que, ou nos mostram os respectivos recibos verdes - provando que cada um corresponde ao pagamento do respectivo serviço (projecto) - ou calem-se. Os senhores jornalistas conhecem muito mal os nossos governantes do passado e as vidinhas com que sempre se regalaram sem que ninguém lhes ousasse apontar o dedo! Porque apontar o dedo, na altura, tinha consequências! Depressa, o "apontado" virava o tabuleiro, contra-argumentava, passava palavra, e tinha-se a carreira empratelada e arrumada em dois tempos! Os senhores não têm falta de liberdade de expressão. O que os senhores têm é uma verborreia insaciável! O fim das ocultas "leis da rolha" que vigoravam, naqueloutro tempo, em que as chefias de nomeação política nos prendavam ou com um sermão ou com uma sanção (até disciplinar!), só porque ousávamos tocar nos seus imaculados "pecados" (até porque ninguém os considerava como tal, dado que eram rotina aceite e tolerada pelos seus pares), fez com que viesse a lume esta característica de jornalismo-pavão! Se. naqueles saudosos tempos, falássemos com um jornalista para lhe dar estas "notícias", ele dizia-nos logo que isso não era "notícia"! Sim, porque, quem hoje sugere a aplicação da "lei da rolha", no seu próprio partido, já a aplicava, no terreno, em relação a subordinados, colaboradores e "nomeados-dependente", com elevada mestria e zelo! Hoje, um certo tipo de jornalista usa os meios ao seu alcance para alardir e repetir factos inconsequentes, sabendo, de antemão, que nada nem ninguém o incomodará, nem a si nem à "fonte", com tais "revelações"! Claro que os senhores jornalistas já nem se lembram desse tempo! e, dele, muito menos, têm saudades! Mas, nós, o público, começamos a sentir algum saudosismo daquele temor reverencial! Porque nos poupava a ler tanta miúdice e coscuvilhive, extraordinariamente insignificante, de cada vez que abrimos um jornal! É caso para dizer: volta, PSD, estás perdoado!