quinta-feira, 15 de abril de 2010

A estupidez dos vencedores - Parte III

Sobretudo, porém, o milagre neoliberal na América Latina é uma ilusão estatística, porque as altas taxas de crescimento se referem a um ponto de partida que foi o resultado da "década perdida" e de uma desindustrialização brutal. Somente se pode falar de "êxitos" quando os dados estatísticos não procedem do período anterior a 1988 ou, no máximo, 1985. Considerando-se um período mais extenso, não há êxito nenhum, senão que apenas estagnação, pois, no melhor dos casos, o crescimento compensou as perdas dos anos 80, e este "efeito da base secundário" esgotar-se-á em pouco tempo. Segundo um relatório do Banco de Desenvolvimento lnteramericano, de novembro de 1994, a América Latina nem conseguiu superar os problemas mais graves e a pobreza continua aumentando.
Maior ainda é a enganação estatística na Europa Oriental. Mesmo nos países de exibição do neoliberalismo, a Polónia, a Hungria e a República Tcheca, as reformas, no sentido da economia de mercado, fizeram recuar em até 40% desde 1989 a produção das indústrias transformadoras. O crescimento aparentemente alto, proclamado desde 1993-94 como "a grande mudança", refere-se evidentemente ao novo ponto de partida, depois de um surto enorme de desindustrialização. Do mesmo modo, poderíamos dizer que um cadáver se encontra a caminho da recuperação, porque continuam crescendo suas unhas. Mais para o Leste, nem crescem mais as unhas das economias nacionais mortas. Na Rússia, onde já quase durante uma década a economia de mercado é idolatrada, a produção industrial diminuiu desde 1989 em mais de 50%. E na Roménia, depois das primeiras reformas, no sentido da economia de mercado, a miséria da população cresceu tanto, que pessoas torturadas pela fome até invadem jardins zoológicos para abater os animais.
Nem é preciso falar de África. Até agora, o balanço global do neoliberalismo e das reformas, no sentido da economia de mercado, revela uma única catástrofe. Alguém disse que o socialismo era uma idéia nobre, porém, não feito para o homem real. A economia de mercado globalizada nem chega a ser uma idéia nobre. Não funciona e não é nem um pouco rentável para a grande maioria. A era neoliberal não demorará tanto tempo quanto a era do socialismo e do keynesianismo. Pois o neoliberalismo nada mais foi que a ideologia de moda conveniente para a estupidez dos vencedores, num momento histórico de susto. Se for aumentada outra vez a dose do remédio neoliberal, somente poderá constar no relatório final: "Cirurgia bem-sucedida, paciente morto". Evidentemente, também não há volta à antiga economia estatal. A humanidade ainda não se deu conta de que, com o fim de uma época, ficaram obsoletos os dois lados do antigo conflito e que urge inventar algo fundamentalmente novo.