O 5 de Outubro de 1910 marca a viragem da História Portuguesa no dealbar do Século XX, cheia de esperança nos valores da Revolução Francesa e tão significativa para os direitos civis, políticos e, de alguma forma ainda que muito tímida, sociais. A revolução republicana foi feita por homens e por mulheres que, lutando por ideias patrióticos, prosseguiram o seu sonho e tornaram-no realidade a 5 de Outubro de 1910. Cabe-me destacar alguns nomes deste movimento republicano que escolhi, não ao acaso, mas com cuidado histórico e político, Adelaide Cabete, Ana de Castro Osório, Carolina Beatriz Ângelo e Maria Veleda – todas elas militantes da Liga Republicana de Mulheres Portuguesas. Estas mulheres destacaram-se intelectualmente, escreveram para os jornais da época, defenderam a educação das mulheres, defenderam o sufrágio feminino, lutaram pelos direitos de cidadania que acalentaram na luta pela República e que a República não lhes conferiu de forma plena. Adelaide Cabete e Carolina Beatriz Ângelo pertenciam as duas à Maçonaria através de uma loja de adopção, já que as lojas maçons eram exclusivamente masculinas. Estas duas mulheres, ambas formadas em medicina, bordaram as bandeiras desfraldadas na Praça do Município no dia 5 de Outubro, o que é bem demonstrativa da confiança que o movimento republicano lhes tinha. Carolina Beatriz Ângelo invocando a sua condição de chefe de família - já que era viúva, e de pessoa letrada - condições exigidas para o exercício do voto, exerceu o seu direito em 1911, tendo a legislação sido alterada em 1913, ficando expresso, na letra da lei, que as mulheres não podiam votar. Grande parte dos Republicanos pensava que reconhecer o direito de voto às mulheres era muito perigoso, porque, segundo eles, a grande maioria das mulheres estava sob forte influência dos padres e da igreja. Ana de Castro Osório foi uma grande activista Republicana e uma das mais importantes feministas no panorama português do início do século XX. Dizia sobre o feminismo, “ao contrário do que pensavam pessoas ignorantes ou desprevenidas, não se tratava da luta da mulher contra o homem, nem a substituição do patriarcado pelo matriarcado”, já que “a questão prende-se com a necessidade de franquear a entrada da mulher na vida social e política, de a dignificar”. Teófilo Braga, entre outros intelectuais da época, acompanhou, leu e conheceu os trabalhos desta mulher no campo da pesquisa etnográfica de contos e lendas. Por fim, Maria Veleda, também ela maçon - considerada na época por vezes, demasiado “vermelha” - , é uma das mais importantes representantes do feminismo proletário e grande lutadora ao lado dos mais importantes republicanos da época como Afonso Costa, João Chagas entre outros. Estas mulheres fizeram a História da República, ao lado dos homens notáveis que habitualmente citamos. O Estado Novo acabou com os sonhos de igualdade destas e de outras mulheres que se lhes seguiram como Elina Guimarães. Só 64 anos depois da República, em Abril de 1974 o sonho e a esperança da igualdade voltaram ao panorama português.
Volvidos 36 anos sobre o 25 de Abril, alguns dos ideiais e sonhos por que estas mulheres lutaram continuam por concretizar, em grande parte. A concretização plena e universal da cidadania, independentemente de se ser homem ou mulher, passa por compreender que a igualdade não é uma causa exclusiva das mulheres, mas sim um princípio democrático, assente no princípio da imparcialidade e no princípio da representatividade. O que me parece ser a mensagem óbvia - e a nossa obrigação é continuar a chamar a atenção para a premência da mesma - através da memória dos homens e mulheres da Primeira República, dos heróis e heroínas que, durante 48 anos, lutaram contra a ditadura, e, daqueles e daquelas que fizeram o 25 de Abril de 1974, é a de sermos porta vozes do combate às desigualdades, que, ao fim e ao cabo, não é mais que a afirmação da coerência ideológica dos princípios republicanos.
Volvidos 36 anos sobre o 25 de Abril, alguns dos ideiais e sonhos por que estas mulheres lutaram continuam por concretizar, em grande parte. A concretização plena e universal da cidadania, independentemente de se ser homem ou mulher, passa por compreender que a igualdade não é uma causa exclusiva das mulheres, mas sim um princípio democrático, assente no princípio da imparcialidade e no princípio da representatividade. O que me parece ser a mensagem óbvia - e a nossa obrigação é continuar a chamar a atenção para a premência da mesma - através da memória dos homens e mulheres da Primeira República, dos heróis e heroínas que, durante 48 anos, lutaram contra a ditadura, e, daqueles e daquelas que fizeram o 25 de Abril de 1974, é a de sermos porta vozes do combate às desigualdades, que, ao fim e ao cabo, não é mais que a afirmação da coerência ideológica dos princípios republicanos.