domingo, 31 de agosto de 2014

E como dizia Pessoa: «Há três espécies de Portugal....»




«Há três espécies de Portugal, dentro do mesmo Portugal; ou, se se preferir, há três espécies de português.
Um começou com a nacionalidade: é o português típico, que forma o fundo da nação e o da sua expansão numérica, trabalhando obscura emodestamente em Portugal e por toda a parte de todas as partes do Mundo. Este português encontra-se, desde 1578, divorciado de todos os governos e abandonado por todos. Existe porque existe, e é por isso que a nação existe também.
Outro é o português que o não é. Começou com a invasão mental estrangeira, que data, com verdade possível, do tempo do Marquês de Pombal. Esta invasão agravou-se com o Constitucionalismo, e tornou-se completa com a República. Este português (que é o que forma grande parte das classes médias superiores, certa parte do povo, e quase toda a gente das classes dirigentes) é o que governa o país. Está completamente divorciado do país que governa. É, por sua vontade, parisiense e moderno. Contra sua vontade, é estúpido.
Há um terceiro português, que começou a existir quando Portugal, por alturas de El-Rei D. Dinis, começou, de Nação, a esboçar-se Império. Esse português fez as Descobertas, criou a civilização transoceânica moderna, e depois foi-se embora. Foi-se embora em Alcácer Quibir, mas deixou alguns parentes, que têm estado sempre, e continuam estando, à espera dele. Como o último verdadeiro Rei de Portugal foi aquele D. Sebastião que caiu em Alcácer Quibir, e presumivelmente ali morreu, é no símbolo do regresso de El-Rei D. Sebastião que os portugueses da saudade imperial projectam a sua fé de que a famí1ia se não extinguisse.
Estes três tipos do português têm uma mentalidade comum, pois são todos portugueses mas o uso que fazem dessa mentalidade diferencia-os entre si. O português, no seu fundo psíquico, define-se, com razoável aproximação, por três característicos: (1) o predomínio da imaginação sobre a inteligência; (2) o predomínio da emoção sobre a paixão; (3) a adaptabilidade instintiva. Pelo primeiro característico distingue-se, por contraste, do ego antigo, com quem se parece muito na rapidez da adaptação e na consequente inconstância e mobilidade. Pelo segundo característico distingue-se, por contraste, do espanhol médio, com quem se parece na intensidade e tipo do sentimento. Pelo terceiro distingue-se do alemão médio; parece-se com ele na adaptabilidade, mas a do alemão é racional e firme, a do português instintiva e instável.
A cada um destes tipos de português corresponde um tipo de literatura.
O português do primeiro tipo é exactamente isto, pois é ele o português normal e típico. 
O português do tipo oficial é a mesma coisa com água; a imaginação continuará a predominar sobre a inteligência, mas não existe; a emoção continua a predominar sobre a paixão, mas não tem força para predominar sobre coisa nenhuma; a adaptabilidade mantém-se, mas é puramente superficial — de assimilador, o português, neste caso, torna-se simplesmente mimético.
O português do tipo imperial absorve a inteligência com a imaginação — a imaginação é tão forte que, por assim dizer, integra a inteligência em si, formando uma espécie de nova qualidade mental. Daí os Descobrimentos, que são um emprego intelectual, até prático, da imaginação. Daí a falta de grande literatura nesse tempo (pois Camões, conquanto grande, não está, nas letras, à altura em que estão nos feitos o Infante D. Henrique e o imperador Afonso de Albuquerque, criadores respectivamente do mundo moderno e do imperialismo moderno) (?). E esta nova espécie de mentalidade influi nas outras duas qualidades mentais do português: por influência dela a adaptabilidade torna-se activa, em vez de passiva, e o que era habilidade para fazer tudo torna-se habilidade para ser tudo.» - FERNANDO PESSOA, Sobre Portugal - Introdução ao Problema Nacional

"Banco bom, banco mau, ou parábola (politicamente incorrecta)" - Ana Luísa Amaral



Banco bom, banco mau, ou parábola (politicamente incorrecta), artigo da Ana Luísa Amaral

«“Espelho meu, espelho meu, haverá banco de espírito mais santo do que o meu?” Isto perguntava o rei, enquanto se mirava e remirava em frente do seu espelho luzidio, agora rasgado ao meio... 

“Espelho meu, espelho meu, haverá banco de espírito mais santo do que o meu?” Isto perguntava o rei, enquanto se mirava e remirava em frente do seu espelho luzidio, agora rasgado ao meio, uma brecha em ziguezague, muito bem concebida pelos seus ministros e depois executada pelos lacaios que ronronavam, felizes, passeando pelo palácio, de barriguinha cheia, porque eram autorizados a comer os restos do faisão e das perdizes assadas que sobravam da mesa real.

Mas o espelho, cindido que estava, respondia a duas vozes. Ora dizia, do seu lado mais aforístico, e até razoavelmente culto: “O teu banco tem o espírito mais santo de todos, o teu banco é rico, logo, tu também o és”, ora afirmava, em tom cortante e incisivo: “O teu banco é mau.”

Por estranho que pareça, nenhuma das respostas inquietava muito o rei. É claro que a primeira lhe era mais tranquilizadora, sobretudo por ser lisonjeira. Mas a segunda também não o fazia perder o sono, que geralmente lhe surgia suave e repousado: é que, depois da declaração aparentemente sobressaltante, o segundo lado do espelho esclarecia, murmurando ao ouvido do rei “... mas não te preocupes, porque a ti propriamente não acontece nada, nem a ti, nem aos teus, nem aos ministros que te aconselham e protegem, e tu continuarás de espírito santo e rico”. E mais dizia, ainda em murmúrio: “Há uns bancos que conheço, os saxões chamam-lhes um nome estranho, diz-se offshore, que quer dizer fora da costa, como um navio ao largo. Não serão, claro, de espírito tão santo como parecia ser o teu, mas para o caso servem muito bem.”

Estes esclarecimentos, ditos em sussurro pelo espelho, só pelo rei eram ouvidos, embora ele depois os transmitisse aos seus ministros, que se regozijavam. Escondidos atrás das portas, os lacaios iam ouvindo também, e o regozijo era-lhes igualmente grande, porque significava mais restos de perdizes assadas e de faisão.

Porém, para qualquer camponês (ou camponesa, bem entendido, mas a partir de agora tudo surgirá no masculino, até porque esta é uma história politicamente incorrecta), saber que havia um “banco mau” e um “banco bom” era motivo de desassossego – palavra que, de resto, um jogral mais tarde até haveria de pôr em livro, embora lhe desse outro sentido. Mas os camponeses eram pouco esclarecidos, gente rude e sem instrução, pobrezinhos que, por mais que plantassem, pouco colhiam, e o pouco que colhiam era-lhes retirado, precisamente porque eram camponeses e rudes, e portanto merecedores de desprezo. Um círculo vicioso, ou, em linguagem mais popular, uma pescadinha de rabo na boca. E havia até ministros do rei, que, quando os camponeses mais jovens se queixavam, os aconselhavam, magnanimamente, a ir para as Cruzadas, dizendo que essa havia sido uma vocação campesina muito antiga; quanto aos camponeses mais velhos, era gleba até ao fim da vida, para eles aprenderem a não serem rudes, e a não terem idade já um pouco avançada, e a não enfermarem de, ainda por cima, serem pobres.

O que mais desassossegava os camponeses era precisamente a resposta a duas vozes. Como podia um banco onde se reflectiam espíritos e santos partir-se ao meio, como o espelho do palácio real, e tornar-se “banco bom” e “banco “mau”? Isto se perguntavam, sem resposta. É que eles sabiam pouco de sacos de moedas trocados de mão em mão, debaixo de mesas e de tronos, ou de favores a convidar a mais favores, ou de como era possível fazer guerras para encher ainda mais os sacos de moedas. Bom e mau, na língua dos camponeses, que eram a esmagadora maioria das criaturas que viviam naquele reino, eram palavras muito simples, que queriam dizer exactamente isso: ou seja, bom queria dizer bondoso, ou quase perfeito, e mau queria dizer maldoso, ou condenável. Como os padres, que eram visitas constantes no palácio real, lhes tinham ensinado, ser bom significava ainda ser recompensado mais tarde (que a recompensa tardava, mas havia de chegar depois, lá no Céu); ser mau significava arder nas chamas eternas do Inferno. E, na curta vida que era a deles, ser mau tinha as suas consequências: ir para a prisão, ser chicoteado, ou até decapitado ou enforcado. Isso era o que dava ser mau.

Ora, decapitações ou enforcamentos, no caso do banco partido ao meio, nem vê-los. E chicote, também não. Nem sequer prisão. Claro que se dizia (mas isto eram rumores) que havia um ministro do rei que havia sido preso, mas era a fingir, porque de facto tinha-lhe bastado uma bolsa de moedas de ouro para ficar refastelado, a descansar no palácio do rei. Dizia-se até (mais rumores, decerto) que a bolsa lhe fora dada pelos outros ministros e que até o próprio rei lá tinha posto meia dúzia de moedas. E que mais reis haviam ajudado. Isto se dizia, entre os camponeses, mas eles eram, como se sabia, gente rude e pouco instruída. E, ainda por cima, pobre. Portanto, para eles não havia respostas. Quanto ao rei, eram sempre as mesmas duas, uma a seguir à outra, por vezes alternadas: ora “banco bom” e “banco mau”, ora “banco mau” e “banco bom”, sendo que a diferença, em termos práticos, era nenhuma.

Esta história não tem muito fim, nem é politicamente correcta, para desassossego de quem a possa um dia ouvir. Porque, à semelhança da imagem que aparece a meio, a do círculo vicioso, que em linguagem popular se diz pescadinha de rabo na boca, o fim é quase sempre igual e repetido. O rei continuou a olhar-se ao espelho, mais ou menos cindido, e a perguntar do seu espírito e do seu banco. Noutros reinos, outros reis iriam perguntar-se o mesmo. E, depois de um pouco de inquietação, todos descansariam com as respostas ouvidas, que diriam os seus bancos santos e de espírito promissor, mesmo podendo ser maus. E nada disto seria incongruente para eles, nem para os ministros, que haviam de descansar também, como os lacaios, espreitando atrás de portas, esperando colher as migalhas das mesas reais.

Nada mudaria. Só os camponeses – e a mudança neles era mais uma questão de intensidade. Ou seja, ficariam cada vez menos instruídos, mais rudes e mais pobres, uns já sem Cruzadas para onde partir, porque os reinos eram todos mais ou menos parecidos, e isto aconteceria de uma forma global, os outros presos para sempre à gleba, até ao fim das suas vidas.

A não ser que, um belo dia, mas isso só acontece nas histórias de fim imoral, pegassem nas enxadas e nas foices e nos ancinhos, e em tudo aquilo que estivesse à mão, e despedaçassem de vez todos os espelhos. Isto, claro, se conseguissem entrar nos palácios, o que era muito, muito difícil, e quase inverosímil. Mas não impossível.» - Artigo de Ana Luísa Amaral, escritora, publicado no jornal “Público” em 28 de agosto de 2014

sábado, 30 de agosto de 2014

"Estado-Bucha e Estado-Estica" - Luis Nazaré, Jornal de Negócios


Estado-Bucha e Estado-Estica, por Luis Nazaré, Jornal de Negócios
«Quem abomina o Estado nunca será competente na gestão da sua máquina – no limite, tudo fará para a exterminar.» 

«1. A primeira condição para se ser um bom profissional, em qualquer ramo, é gostar-se do ofício. Quem não gosta de jogar à bola nunca dará um bom futebolista, quem não se delicia com os prazeres da mesa nunca fará vida de chef. Quem abomina o Estado nunca será competente na gestão da sua máquina – no limite, tudo fará para a exterminar. Os apelos ao actual Governo para que avance no domínio da reforma do Estado só obterão como resposta novos cortes nas prestações sociais e nos salários dos funcionários públicos. Não adianta exigir-se-lhe mais. 

Três anos bastaram para que o funcionamento da Administração Pública regredisse pelo menos uma década. Aos condicionamentos do programa de austeridade aliaram-se as tenazes burocráticas da Praça do Comércio, numa festa revivalista de controleirismo financeiro. Se lhes juntarmos um regime de contratação pública kafkiano, uma política de rebaixamento dos serviços e uma total inépcia reformadora da governação, encontraremos as razões para o desespero dos cidadãos e dos agentes económicos. 

Para trás, fica um rol de promessas caídas sem combate. A racionalização de organismos estatais, a eliminação de tecidos adiposos, a alienação programada de imóveis supérfluos e as economias na contratação de serviços externos são os exemplos mais gritantes. Sem surpresa, porque pouco ou nada se esperava, a desburocratização e a modernização administrativa foram varridas das preocupações governamentais. 

2. A reforma do Estado é uma tarefa árdua e instante. Sem um desígnio político e um programa de acção de médio-prazo, perseguido com abnegação e competência, a burocracia instalada e a inércia levarão sempre a melhor. Não se consegue transformar a máquina estatal num aparelho ao serviço dos cidadãos e das empresas através de cortes cegos, congelamento de aquisições, asfixia dos serviços, por mais que as circunstâncias orçamentais sejam difíceis. À parte as reduções salariais, a actual situação é a praia dos burocratas. 

Uma vez assumida a prioridade política e assentes as responsabilidades públicas, o desafio chama-se gestão. Primeiro, há que fazer o trabalho de casa – analisar com a profundidade certa as atribuições e as estruturas organizacionais, dissecar os processos administrativos e operacionais, definir objectivos e métricas. Segundo, reengenhar. Terceiro, partir para o combate, com uma estratégia selectivamente radical e progressiva. Pelo meio, agregar as competências e os recursos necessários para assegurar o processo de transformação. Entre estes, os humanos são o nó górdio. 

Décadas de administrativismo imobilista e de insuficiente rejuvenescimento dos quadros de pessoal transformaram muitos funcionários públicos, designadamente os seus dirigentes superiores e médios, em resistentes à mudança. Por outro lado, as sucessivas machadadas nas condições de trabalho das suas áreas especializadas conduziram à saída dos melhores e ao natural empobrecimento do leque de competências nobres – em particular, as económicas e as jurídicas. No actual contexto, é ilusório pensar que os recursos próprios da Administração Pública são bastantes para assegurar a condução ou o acompanhamento das matérias mais complexas e impactantes. Em quantidade e em qualidade, o Estado está magro de recursos humanos qualificados. 

3. No plano local, o cenário não é mais radioso do que na Administração central. Vítimas dos mesmos constrangimentos administrativos, as autarquias penam para se libertarem de atavismos internos e externos, num quadro de escassez de meios humanos qualificados e motivados. Para muitos, o caminho encontrado foi a criação das famigeradas empresas municipais como forma de agilizar a gestão (para alguns, sabemo-lo, o propósito foi bem menos virtuoso). Por pouco tempo, que o preconceito e a mão visível da Praça do Comércio lhes cortaram as pernas. 

É, assim, com curiosidade que vamos assistir (iremos?) à passagem da gestão dos transportes urbanos de Lisboa e Porto para mãos camarárias. Se uns consideram que o movimento, idêntico ao da maioria das cidades europeias, faz todo o sentido, outros (por vezes, os mesmos) enjeitam-no por considerarem as câmaras incapazes de uma gestão eficiente. Enquanto o pau vai e vem, sei de uns quantos privados que aguardam tranquilamente pelo seu dia.»

segunda-feira, 25 de agosto de 2014

"E que tal se penhorassem um rim?" ou "ao ponto a que ainda havemos de chegar"!

"E que tal se penhorassem um rim?" pergunta o João Luis Barreto Barreto Guimarães
«....Para o Governo não há doentes pobres, apenas delinquentes, por isso há que os acossar! Não interessa se a taxa moderadora é mais um imposto encapotado. Não lhes passa pela cabeça que não seja por vigarice (mas por mera pobreza) que a maioria desses doentes não paga uma factura que começa perigosamente a parecer uma despesa de medicina privada.
Ora, é pertinente recordar que dos 5052 processos instaurados nos tribunais judiciais de primeira instância para recuperar créditos entre Janeiro e Março deste ano, 61,3% não conduziram à liquidação efectiva da dívida, ou seja, quase dois terços ficaram efectivamente sem pagamento! E que das insolvências decretadas pelos tribunais, 68,2% correspondiam a pessoas singulares, isto é, mais de dois terços dos visados não tinham comprovadamente nada - rien, niente, nothing - com que pagar. Porquê? Porque já tinham perdido tudo: casa, carro, rendas, salário e dignidade.
Mas será que no Ministério da Saúde não há quem atinja que há doentes a quem as políticas da troika levaram tudo? Doentes que não fugiram - nem fugirão - para lado nenhum, somente sobrevivem na vergonha de não ter como pagar serviços aos quais, desesperadamente, vão continuar a precisar de recorrer? Ou será que essas luminárias vêem os doentes à imagem e semelhança de certos banqueiros, felizes por terem enganado o Estado em 10 euros, como se de 10 mil milhões se tratasse?
O triste, neste país, é que este tipo de injúria sobre quem já vive injuriado é para continuar. Assim como assim, tolhidos pela dor e pelo sofrimento, não tendo mais nada com que pagar, enquanto cada doente tiver dois rins as finanças podem sempre vir sobre um dos dois para pagar dívidas em falta, porque alguns pacientes, em desespero, são bem capazes de o entregar. Mas o melhor mesmo é calar-me, não vá estar para aqui a dar ideias. Esta gentinha já mostrou que é mesmo capaz de tudo.»

domingo, 24 de agosto de 2014

"O SUPORTE DO SUCESSO" - O que realmente importa e o quanto importa para nós?



Reflictamos sobre isto. "O SUPORTE DO SUCESSO" - O que realmente importa e o quanto importa para nós?  
«No que decidimos, quanto pesa o que os outros pensam sobre nós? Quão escravo me posso eu tornar da opinião dos outros? Há quem nunca chegue a ser quem é porque se perde em jogos de aparências. Como se o valor de alguém se medisse pela forma como os outros o veem. Isso é o falso sucesso.
Preocupados com o que os outros pensam, fazemos muito para conseguir um elogio. Mas a verdade é que os louvores e as críticas valem o que vale quem os faz. Que importa pois agradar a muitos se nenhum deles for competente? Não será melhor uma palavra de louvor de alguém que sabe, do que o aplauso de uma multidão de ignorantes?
Em busca do falso sucesso, muita gente pequena julga que é por pisar os outros que se faz maior. Julgam ficar com mais luz por encobrir a dos demais.
Procuremos ser o melhor que nos for possível. Na exata medida de toda a nossa determinação. Não seremos os melhores. Mas, até nisso, a humildade é o que potencia os maiores aperfeiçoamentos, uma vez que quem se julga muito bem não se dará ao trabalho de se superar.
Os orgulhosos são quase sempre inúteis. Enchem o peito de vazio e acham que ninguém repara. Julgam-se grandes, mas estão apenas inchados.
Persegue-se uma espécie de sucesso que não existe. Tudo tem um preço e quase nunca é em dinheiro. As vidas que, tantas vezes, invejamos carregam, por baixo do brilho do ouro, crimes pesados contra a paz e a felicidade. Não só porque o verdadeiro sucesso é difícil de alcançar, mas também pela quantidade de coisas negativas que arrasta consigo.
A vaidade e o orgulho intoxicam, de forma quase fatal, qualquer virtude ou mérito que acompanham.
Há quem se veja sempre maior do que é. Quem teima em não aceitar que somos todos humildes e que sem humildade não há virtude alguma. Até o orgulho mais apurado se disfarça de humildade.
Talvez só aqueles que vivem de perto com os que lutam pelo verdadeiro sucesso fazem ideia do que tal significa. Quantas vezes são eles os que mais acabam por perder? E que sofrem só de ver sofrer…
O suporte do sucesso é o trabalho invisível a que obriga. O risco que implica, uma vez que por si só, o trabalho não o garante. Quanto maior o sucesso, maior o risco de se perder e de fazer perder quem julga merecê-lo. Aliás, o sucesso quase nunca dura muito. É fugaz. Não há lugares seguros em lado algum.
Poucos admiram quem é capaz de manter a excelência no tempo. Reinventando-se. Lutando sempre pelo que pretende alcançar. A contínua aparição de novidades parece ser mais importante que a superação constante de um mesmo protagonista.
O verdadeiro sucesso acontece como consequência de uma luta permanente de aperfeiçoamento em vista de algo nobre. Longe das luzes e dos outros. Porque a genialidade por maior que seja, sem trabalho, perde-se. Por maior e melhor orientado que seja o esforço, o sucesso não é garantido. E é um risco…
A fama atrai muito mais maldade, suspeita e inveja do que se julga. Os orgulhosos e vaidosos não gostam nada de quem lhes faça frente com a verdade. Poucas são as pessoas que aceitam bem que alguém seja melhor do que elas.
Não se deve avaliar ninguém pelo que consegue, mas sim por aquilo que pretende.
O orgulho impede-nos de ver quem somos. A vaidade leva-nos a ser escravos da opinião alheia. Porque nos iludimos com a possibilidade de um verdadeiro sucesso sem um preço elevado. O sucesso exige uma dedicação que implica sacrifícios. Alguns, de coisas bem comuns.
Qualquer coroa tem espinhos escondidos.» - José Luís Nunes Martins, jornal i, 23 de agosto de 2014

quinta-feira, 21 de agosto de 2014

O que significa ser um seguidor De Molay, hoje?


Que é ser um seguidor De Molay hoje?
Segundo Ramon Llull, no seu Livro da Ordem de Cavalaria, “É um homem de virtudes.” 
Virtude (virtus), de vir (virilidade, vigor, homem, masculinidade). 
Conceitualmente, significa força, poder, eficácia de uma coisa, algo merecedor de admiração, que tornaria quem a possui uma pessoa melhor, moral e intelectualmente. 
Desde Platão a Aristóteles, o conceito foi entendido, para o primeiro (virtudes cardeais), como uma capacidade de realizar uma tarefa determinada; para o segundo (virtudes morais ou excelência moral), como um hábito racional, que tornaria o homem bom. 
Estas quatro virtudes cardeais (prudência, justiça, fortaleza e temperança) — pontos referenciais para a potência do homem —, eram utilizadas por todos os pensadores medievais. 
Tomás de Aquino ainda defendeu o conceito de virtude aristotélica como uma consequência dos hábitos humanos, mas sobretudo como uma hipótese de perfeição da potência (a capacidade de ser alguma coisa) voltada para a vida e para a acção. E aproveitou este sistema referencial para demonstrar que só as virtudes morais poderiam ser chamadas de cardeais, pois exigiriam a disciplina dos desejos (rectitudo appetitus), contribuindo assim, como mais nenhumas, para a virtude perfeita. Esta é a base de todas as citações medievais posteriores sobre as virtudes cardeais, inclusive de Ramon Llull, que se vale principalmente da ideia de virtude como um hábito.
Por outro lado, as virtudes teologais. 
Encontram-se em São Paulo, na sua Primeira Epístola aos Coríntios. 
Ao comentar o uso e a hierarquia dos carismas — um dos problemas cruciais do cristianismo primitivo — São Paulo, trata da importância da caridade (“Ainda que eu falasse línguas, as dos homens e as dos anjos, se eu não tivesse a caridade, seria como um bronze que soa ou como um címbalo que tine”). No final desta passagem, São Paulo fala das três virtudes teologais: fé, esperança e caridade, sendo que a caridade — no sentido grego de ágape, um amor de dilecção e de doação, que quer o bem do próximo, sem fronteiras, que busca a paz no sentido mais puro, o amor que é a própria natureza de Deus — e por isso a caridade é a maior de todas elas (Bíblia de Jerusalém, 1Cor, 13, 13, 2.166). 
O capítulo VI do Livro da Ordem de Cavalaria expõe as virtudes teologais (fé, esperança e caridade), virtudes cardeais (justiça, prudência, fortaleza e temperança) e os vícios ou sete pecados capitais (gula, luxúria, avareza, preguiça, soberba, inveja e ira). 
A fé é o alicerce do cavaleiro: dela decorrem a esperança e a caridade. 
Quanto à Justiça, através dela o cavaleiro teria o conhecimento do mal e a possibilidade de evitar as injúrias., as calúnias e as infâmias. Serviria ao cavaleiro todos os dias da sua vida e não somente em combate. Já a prudência sim, seria uma virtude sobretudo necessária na guerra. Com ela, o cavaleiro conheceria os presságios, o bem e o mal, esquivar-se-ía aos golpes e venceria as batalhas. Com a temperança, o cavaleiro viveria na perfeição filosófica, sem excessos nem faltas. Mas seria com a fortaleza que o cavaleiro combateria todos os vícios, os sete pecados que poderiam levá-lo às “...carreiras pelas quais vai-se aos infernais tormentos que não têm fim”.
De todas as virtudes, a fortaleza seria a mais necessária ao cavaleiro, pois com ela combateria a luxúria, a avareza, a preguiça, a soberba e a inveja, pecados mortais que assolariam a cavalaria da época. Na descrição dos vícios, Ramon dá exemplos de como os cavaleiros eram tentados. Por causa de sua riqueza, necessária ao seu ofício, a soberba tentava o cavaleiro, montado no seu potente cavalo (podendo ser tentado a esquecer que é o cavalo que dá o nome ao cavaleiro e não ao contrário), guarnecido com todas as suas armas. Ele só teria forças para combater a soberba através da fortaleza e humildade, que o lembrariam a razão pela qual se tinha feito e tinha sido cavaleiro.
O mais importante e concluindo.
A proposta utópica do Livro da Ordem de Cavalaria nunca pôde realizar-se. 
O século XIV, com o fortalecimento das monarquias europeias, a Guerra dos Cem Anos e a Grande Peste, marcou o fim dos projectos cavaleirescos e dos sonhos de harmonia do sistema feudal baseado no conhecimento das virtudes e dos vícios criados pelos clérigos — e de leigos como Ramon Llull. Terminava a Idade Média. 
Este tratado, além de ser um projecto civilizador cristão, é um registo tardio de um ideal, o ideal cavaleiresco, um sonho aviltado pelos homens de então. 
Mas é um sonho desafiador. E é um sonho intemporal e intergeracional. 
É esta A Hora! É este O Tempo! É este O Lugar!
Aceitamos a árdua e inóspita, mas triunfante e lusitana tarefa de reerguer o sonho e o ideário.
É o momento de os tornar Obra.
Portugal templário urge e surge. Impõe-se.
Cavaleiros e Damas, há um só cavalo para montar. Com ele, seja a trote seja a galope, expulsemos os vendilhões desta terra santa. O estandarte é o mesmo: o do empenho na esperança de um Mundo Melhor. 
Ainda hoje como antanho.

REGRA PRIMITIVA DA ORDEM DO TEMPLO: "Não sejais acriminador nem murmurador do povo".

Invoco aqui a necessidade sistemática de cada um lutar contra si mesmo e não ceder às humanas tentações menores que nos cercam. Assim, da REGRA PRIMITIVA DA ORDEM DO TEMPLO, Tradução, introdução e notas, de Manuel J. Gandra, destaco uma regra que me parece fundamental nesta questão que é de trabalhar, em cada um, de todos, com todos e para todos, a harmonia do Templo. “Ne eris criminator, nec sussurro in populo” (Levítico, XIX, 16): "Não sejais acriminador nem murmurador do povo". Um Templário não julga os outros pela sua aparência nem por constatações vulgares. Entende um Irmão como tal, sem dedo nem olho julgador e incriminador. Os homens, e, no caso, os Cavaleiros, medem-se pelos seus actos. Dar a mão ao outro e criar a união na Égregora é fundamental nesse trabalho. Nesta pré-disposição de estar bem com o outro e de preservar a harmonia dentro do Templo, recordo estas palavras santas: "Não julguem, para que vocês não sejam julgados. Pois da mesma forma que julgarem, vocês serão julgados; e a medida que usarem, também será usada para medir vocês. "Por que você repara no cisco que está no olho do seu irmão e não se dá conta da viga que está em seu próprio olho? Como você pode dizer ao seu irmão: 'Deixe-me tirar o cisco do seu olho', quando há uma viga no seu? Hipócrita, tire primeiro a viga do seu olho, e então você verá claramente para tirar o cisco do olho do seu irmão." (Mateus 7:1-5). Ou, preferindo as palavras pessoanas: "Cada um é muita gente. Para mim sou quem me penso, Para outros - cada um sente O que julga, e é um erro imenso." - Fernando Pessoa. A individualidade tem de reforçar o grupo, carregando as imperfeições humanas, mas apaziguando-as com o amor fraternal. "Se compreendêssemos, nunca mais poderíamos julgar." disse André Malraux. Compreender é já um exercício desse apego fraternal. O Cavaleiro luta dentro de si e, muitas vezes, contra si. Também nele habitam dragões e seres menores. Tomada para si essa luta, ela é contínua. Mais limpo, mais compreensivo, o Cavaleiro é mais compreendido. E é essa união espiritual que é a sua esteira, o seu punho e o seu suporte. "Creio para compreender, e compreendo para crer melhor." afirmou, ensinando-nos, Santo Agostinho de Hipona. O sentido do meu indicador para ti, Meu Irmão, só pode ser de afeição. Que poupe para mim o meu próprio acto de acusação se assim não for. AM

Irmãos Templários: “Estai, pois, firmes, tendo cingidos os vossos lombos com a verdade, e vestida a couraça da justiça”.


Não traço aqui qualquer paralelismo - e podia traçá-lo - entre uma armadura e uma capa (ambos pertença de um Cavaleiro (Templário ou medieval) - por comparação e confrontação histórica, mas deixo aqui algumas analogias que nos remetem para uma certa reflexão. 
Paulo disse em Efésios 6.14 – “Estai, pois, firmes, tendo cingidos os vossos lombos com a verdade, e vestida a couraça da justiça”.
O cinto serve para prender firmemente a armadura contra o corpo, e dá sustento a espada.
Porquê "cingidos" com a Verdade? Soldados de Cristo! Não esqueçamos "isto"! Em nome de quem? À Glória de quem? Soldados libertadores porque Jesus tem a verdade e só Ele é a verdade absoluta e libertadora. Assim nos diz João 14.6 – “Disse-lhe Jesus: Eu sou o caminho, e a verdade e a vida; ninguém vem ao Pai, senão por mim”. Estes Soldados seguiam ("navegavam") um Caminho, uma Verdade, uma Porta, um Salvador, que é Jesus. Esquecemos, por vezes, este aspecto. Soldados de uma Força Maior em nome de Alguém Maior. 
O cinturão da verdade obriga o cavaleiro ao cinto da verdade, da sinceridade. E é de uma vida nessa verdade e nessa sinceridade que o Cavaleiro dá testemunho e exemplo.
É como se a verdade (cinto muito apertado no corpo do gladiador/ soldado) moldasse os seus movimentos atinando-o para a Causa que o move: a luta pelos ideais cristãos e humanistas. Esta Verdade tem de ser a mesma que disciplina o relacionamento interpessoal entre os Cavaleiros. A Verdade está entre eles e delimita as suas condutas, não de maneira frouxa e liberal, mas com o propósito da correção e do reconhecimento da verdade, e é a complacência que serve de agente dominador nesta opção.
Já a couraça da armadura possuía duas partes: uma para cobrir o peito e a outra, nas costas, para proteger órgãos vitais do corpo até as pernas. A extensão deste item de segurança pessoal, realça o sentido de protecção e o tamanho (latitude/ longitude) da justiça de Cristo. A posição do revestimento frontal e na retaguarda destaca a maravilhosa garantia, de amparo e segurança, pelos méritos do Cordeiro. Portanto, a couraça, que, consoante se lhe dê uma figuração mais real ou mais simbólica, é vista como uma capa ou como uma armadura, importa, carrega nos ombros do Cavaleiro, essa responsabilidade imensa, por inteiro, porque a comparada à justiça de Cristo. 
Essa armadura/capa é usada, sem subterfúgios e sem omissões, pelo Cavaleiro, que a usa, com oportunidade e adequação, nas batalhas e situações adversas da vida.
A pergunta que fica só pode ser esta: se ainda não é Cavaleiro tem interesse em (re)vestir-se como tal, sem condições, sem modos e sem termos? Está mesmo disposto a provar da couraça de Cristo? Se já é Cavaleiro, toma consciência, todos os dias da sua vida, de que tem de dar provas de reconhecimento e de merecimento dessa couraça? A todos vos abraço, amigos e Irmãos. AM

'FALA O DIRETOR-GERAL', José Miguel Silva, no Le Monde Diplomatique


«Caros accionistas, a eleição dos nossos candidatos veio demonstrar, uma vez mais, que a democracia funciona e nada temos a temer. Agora é atacar as derradeiras guarnições de mais-valia (como fundos de pensões e monopólios naturais), que a janela desta crise é preciosa, mas não dura, se até o CEO tem limites e o petróleo nos começa a falhar.
A classe média continua a pernear no tapete rolante da dívida, mas os média têm feito uma excelente cobertura e ninguém desconfia de nada – é dar-lhe toda a corda de esperança que reclama, para que no momento certo o alçapão se abra sem alarde e suavemente nos livremos desta roda de bocas inúteis, que já só atrasa o andamento da economia.
Resta o problema dos relapsos e dos enraivecidos, que vociferam pelas ruas “não pagamos” e motim.
Mas são, convenhamos, conduzidos por gatinhos escaldados, sem crédito nem guizos nem projecto coerente. Nada que seduza o coração dos isolados, como o provam as sondagens e o misto de admiração e inveja que continuamos a despertar nas cobaias.
Mas nem tudo são rosas, cavalheiros, pois se o clima emocional da populaça é tele-regulável, o mesmo não se pode dizer da frente ecológica, onde poderosas forças de bloqueio se concentram como gases deletérios, esgotamentos, externalidades que ameaçam gravemente o nosso modo de vida. Em poucas palavras: não cabe mais ninguém na ratoeira do progresso industrial.
Sete mil milhões de bocas engodadas pelo isco do consumo rivalizam por recursos limitados, que pertencem por direito natural aos nossos netos.
Começou a grande dança de cadeiras, e nunca como hoje a presciência valeu tanto no mercado evolutivo. Felizmente, somos nós quem determina
quando a música termina e a corrida começa.
Temos na mão o queijo, a faca e o conto de fadas da modernidade, temos por nós a confusão do inimigo, o fantasma da desordem, a esperança e o vazio dos desesperados, além da nova lei de segurança interna. Assim, e embora seja cedo para celebrar (pois a história, mesmo de trela ao pescoço, não deixa de ser um animal imprevisível), hão de concordar, cavalheiros, que as coisas estão bem encarreiradas. Todavia, não podemos vacilar.
O capital unido jamais será vencido! Há que pôr a compaixão na gaveta e no terreno uma vontade de ferro, pois avizinha-se a batalha decisiva desta guerra de classes. E, passada a turbulência, cá estaremos, accionistas do futuro, para herdar a Terra.» - 'FALA O DIRETOR-GERAL', José Miguel Silva, no Le Monde Diplomatique – Edição Portuguesa Janeiro 2014

Como se qualifica um lider de uma maioria volvidas 14 declarações de inconstitucionalidade?


E cá estamos nós, felizes e contentes, danados de satisfeitos, volvidos 14 diplomas inconstitucionais, com a mesma - sim, a mesmíssima - maioria parlamentar que aprovou a primeira. Será preciso evidência mais esclarecedora do que esta para qualificar o lider? 
4 de Abril de 2012 - É declarada a inconstitucionalidade das normas constantes dos artigos 1.º, n.ºs 1 e 2, e 2.º do Decreto n.º 37/XII da Assembleia da República - o diploma que criminalizava do enriquecimento ilícito. Ficou determinado que estariam a ser violados os princípios da presunção da inocência e da determinabilidade do tipo legal.
5 de Julho de 2012 - É declarada a inconstitucionalidade das normas constantes dos artigos 21.º e 25.º, da Lei n.º 64-B/2011, de 30 de dezembro - o Orçamento de Estado para 2012. Ficou determinado que a suspensão do pagamento dos subsídios de férias e de Natal aos funcionários públicos e aposentados violava o princípio da igualdade.
5 de Abril de 2013 - É declarada a inconstitucionalidade das normas constantes dos artigos 29.º, 31.º, 77.º e do 177.º, n.º 1, da Lei n.º 66-B/2012, de 31 de dezembro - o Orçamento de Estado para 2013. Ficou determinado que a suspensão do subsídio de férias dos funcionários públicos, a redução de salários estendida à docência e investigação, a redução do subsídio de férias dos pensionistas e a contribuição dos subsídios de desemprego e doença violavam os princípios da igualdade e da proporcionalidade. 
24 de Abril de 2013 - É declarada a inconstitucionalidade da norma constante da 2.ª parte do n.º 1 do artigo 8.º, conjugada com as normas dos artigos 4.º e 5.º, todos do Anexo ao Decreto n.º128/XII - o diploma que criava o Tribunal Arbitral do Desporto. Ficou determinado que estaria a ser violado o direito de acesso aos tribunais e o principio da tutela jurisdicional efetiva.
28 de Maio de 2013 - É declarada a inconstitucionalidade das normas constantes dos artigos 2.º, n.º 1 e 3.º, n.º 1, alínea c) do Decreto n.º 132/XII, das normas constantes dos artigos 2.º, 3.º, 63.º, n.ºs 1, 2 e 4, 64.º, n.ºs 1 a 3, 65.º e 89.º a 93.º do Anexo I ao mesmo decreto, das disposições normativas constantes dos anexos II e III do mesmo Decreto, dos artigos 25.º, n.º 1, alínea k) e primeira parte do n.º 2 do artigo 100.º, conjugadas com as normas dos artigos 101.º, 102.º, 103.º, n.º 1, e 107.º e, consequentemente, dos artigos 104.º a 106.º e 108.º a 110.º, todos do Anexo I ao Decreto 132/XII, e do artigo 1.º do Decreto n.º 136/XII - dois diplomas: um que estabelecia o estatuto das comunidades intermunicipais e a transferência de competências do Estado para as autarquias locais e um outro que consagrava as revogações necessárias para a proposta entrar em vigor. Ficou determinado que estaria a ser violada a divisão administrativa do poder local consagrada constitucionalmente e a proibição de órgãos de soberania, de região autónoma ou de poder local poderem delegar os seus poderes noutros órgãos em situações não previstas na constituição e na lei.
29 de Agosto de 2013 - É declarada a inconstitucionalidade das normas constantes do n.º 2 do artigo 18.º, enquanto conjugada com a segunda, terceira e quarta partes do disposto no n.º 2 do artigo 4.º, do n.º 1 do artigo 4.º e da alínea b) do artigo 47.º do Decreto n.º 177/XII - o diploma que estabelecia o regime da requalificação dos funcionários públicos. Ficou determinado que estariam a ser violados os princípios da tutela da confiança e da proporcionalidade, assim como a garantia da segurança no emprego.
26 de Setembro de 2013 - É declarada a inconstitucionalidade das normas constantes do n.º 2 e n.º 4 do artigo 368.º, do n.º 2 do artigo 9.º e do n.º 2, n.º3 e n.º5 do artigo 7.º da Lei n.º 7/2009, de 12 de fevereiro, com a redacção dada pela Lei n.º 23/2012, de 25 de junho - o Código do Trabalho (com a alteração de Junho). Ficou determinado que estaria a ser violada a proibição de despedimentos sem justa causa, assim como os direitos das associações sindicais e o principio de que os direitos, liberdades e garantias só podem ser restringidos para salvaguardar outros direitos ou interesses constitucionalmente protegidos.
20 de Novembro de 2013 - É declarada a inconstitucionalidade das normas constantes do n.º 1 e do n.º 2 do artigo 8.º, conjugadas com as normas dos artigos 4.º e 5.º, do Anexo da Lei n.º 74/2013 - o diploma que criava o Tribunal Arbitral do Desporto. Ficou determinado que estaria a ser violado o direito de acesso aos tribunais, em articulação com o princípio da proporcionalidade, e o principio da tutela jurisdicional efetiva.
19 de Dezembro de 2013 - É declarada a inconstitucionalidade das normas constantes das alíneas a), b), c) e d) do n.º 1 do artigo 7.º do Decreto n.º 187/XII - o diploma que estabelecia um novo regime de convergência de pensões da Caixa Geral de Aposentações e da Segurança Social. Ficou determinado que estaria a ser violado o princípio da confiança, "ínsito no princípio do Estado de direito democrático".
18 de Fevereiro de 2014 - É declarada a inconstitucionalidade das normas constantes da norma do artigo 381º, n.º 1, da Lei 20/2013, de 21 de fevereiro - a alteração ao Código de Processo Penal, na interpretação segundo a qual o processo sumário aí previsto é aplicável a crimes cuja pena máxima abstratamente aplicável é superior a cinco anos de prisão. Ficou determinado que estariam a ser violadas as garantias de processo criminal.
19 de Fevereiro de 2014 - É declarada a inconstitucionalidade da proposta de realização de referendo aprovada pela Resolução da Assembleia da República nº 6-A/2014, o Projecto de Resolução 857/XIII - o referendo sobre a possibilidade de co-adoção pelo cônjuge ou unido de facto do mesmo sexo e sobre a possibilidade de adoção por casais do mesmo sexo, casados ou unidos de facto. Ficou determinado que estaria a ser violada a exigência legal de que "cada referendo recairá sobre uma só matéria, devendo as questões ser formuladas com objectividade, clareza e precisão" e que os assuntos propostos a referendo "justificariam a abertura do referendo ao universo eleitoral" que abrangesse todos os cidadãos portugueses recenseados.
30 de Maio de 2014 - É declarada a inconstitucionalidade das normas constantes dos artigos 33.º, 115.º, n.º1 e 2 e 117º, n.ºs 1 a 7, 10 e 15, da Lei n.º 83-C/2013, de 31 de dezembro - o Orçamento de Estado para 2014. Ficou determinado que o corte dos salários dos funcionários públicos a partir de 675 euros, a redução das pensões de sobrevivência e a tributação dos subsídios de desemprego e de doença violavam os princípios da igualdade e da proporcionalidade.
15 de Agosto de 2014 - É declarada a inconstitucionalidade das normas conjugadas dos artigos 2.º e 4.º, n.ºs 2 e 3, do Decreto n.º 264/XII - o diploma que regulamentaria os cortes salariais na função pública. Ficou determinado que estaria a ser violado o princípio da igualdade.
15 de Agosto de 2014 - É declarada a inconstitucionalidade das normas constantes dos artigo 2.º e 4.º do Decreto n.º 262/XII - o diploma que criaria a chamada "contribuição de sustentabilidade". Ficou determinado que estaria a ser violado o princípio da proteção da confiança, "ínsito no princípio do Estado de Direito democrático".

sábado, 16 de agosto de 2014

«BPN: Os sacrifícios que nos podiam ter evitado»


Muito bom o artigo da Visão «BPN: Os sacrifícios que nos podiam ter evitado».
O BPN pesa 2202,5 milhões nas contas do Estado. Que medidas de austeridade correspondem a esse buraco? 
Vejamos.
A 2 de novembro de 2008, Teixeira dos Santos, então ministro das Finanças do executivo de Sócrates, anunciou a "morte" do Banco Português de Negócio, por estar "em eminente situação de rutura financeira", na sequência de se ter detetado um buraco de €700 M. Até dezembro de 2013, segundo o relatório do Tribunal de Contas divulgado esta semana, a nacionalização do BPN e a constituição e funcionamento das sociedades-veículo Parups e Parvalorem [para onde foram os ativos "tóxicos" e/ou potencialmente recuperáveis] custaram aos cofres do Estado €2 202,5 M€. 
Façamos um paralelismo: com a chegada da troika a Portugal e sobretudo com as muitas medidas de austeridade (cortes de salários e/ou subsídios e aumentos de impostos) que entretanto foram tomadas. Algumas poderiam ter sido evitadas? Vejamos quais:
- Subsídio de Natal - O Governo entrou em funções e anunciou logo um corte de 50% do subsídio de Natal acima do salário mínimo. O desconto foi aplicado ao valor excedente a €485 euros. A medida rendeu €800 M. Os funcionários públicos e do setor estatal têm, desde 2011, cortes salariais que variam entre 3,5% e 10% acima dos €1 500. O Governo quis baixar esse mínimo para os €675, mas o TC chumbou. Em 2013, o Estado poupou €734 M.
- Ao bolso dos reformados - Vamos em 1534 M. Se juntarmos outra medida, aproximar-nos-emos dos 2446 M, um pouco mais do que a dimensão do buraco: primeiro foi a Contribuição Especial de Solidariedade sobre as pensões acima de €1 350, e, agora, o Governo quer substituí-la, de forma definitiva, pela Contribuição de Sustentabilidade (CS) taxa de 2% a 3,5% nas pensões acima de 1000 €. A CES retirou aos pensionistas €540 M e a CS está avaliada em €372 M. A ação combinada dos cortes no subsídio de Natal, da CES e da Contribuição de Solidaredade já pagava, assim, a totalidade do buraco do BPN. Sobravam uns trocos... Mas há mais.
- As férias, em 2012 - Em 2012, os funcionários públicos e do setor empresarial do Estado, assim como os pensionistas, ficaram sem subsídios de Natal e de férias. O TC viria a chumbar esta medida, mas anuiu a sua aplicação nesse ano. Poupança: €2 mil M. 
- E os impostos, claro - Vítor Gaspar, então ministro das Finanças, anunciou, em outubro de 2012, "um enorme aumento de impostos". A redução de 8 para 5 escalões de IRS representou um encaixe de €2,05 mil M. É muito? Sim, mas se o Estado os tivesse transferido diretamente para o BPN, ainda não seria suficiente. Precisaria de juntar a receita da sobretaxa de IRS, no valor de 3,5% sobre o salário líquido (descontando o ordenado mínimo, que é €485), uma medida que valeu €750 M. Sobraria, agora, o equivalente à... Contribuição de Solidariedade.
E então em que ficamos? Vamos hoje, amanhã e sempre lembrar-nos do que foi o tsunami BPN? Em imagens, fica aqui um resumo. AM

sexta-feira, 15 de agosto de 2014

Espada de Simon Bolivar oferecida à Grande Loja da Venuzuela

Registo com apreço e júbilo que a espada de um dos maçons mais conhecidos da América Latina, Simón Bolívar (iniciado na maçonaria em 1803, na Loja "Lautaro", em Cádis, Espanha), acaba de entrar na posse da Grande Loja da Venezuela. A Sociedade Bolivariana da Venezuela ofereceu o artefato à Loja Estrella Bolívar nº. 118, fundada há 65 anos em 24 de julho. 
Aproveito para deixar aqui alguns apontamentos.
«Na Loja "Lautaro", discutia-se sobre os princípios de "liberdade, igualdade e fraternidade", sobre a dignidade do homem e a possibilidade de converter em Repúblicas às colónias espanholas de América. A verdade é que a Loja "Lautaro", fez germinar na mente de Bolívar, a ideia de acabar com o domínio espanhol na Venezuela, para semear ali a semente da liberdade para o resto da América do Sul.»
«Bolívar recebeu o grau de Companheiro, o segundo na maçonaria simbólica, numa Loja francesa em 11 de Novembro de 1805. Sobre essa cerimónia existe um documento, guardado no arquivo do Supremo Conselho do Grau 33.° para a República de Venezuela. Desde que chegou a Paris, Bolívar frequentava a Loja "Mãe Escocesa de Santo Alexandre da Escócia", onde assistiu ao número regulamentar de sessões para se fazer credor da respectiva ascensão.»
«Em Maio de 1806, quando Bolívar já preparava sua viagem de regresso a Venezuela, foi elevado ao Grau de Mestre, na mesma Loja "Mãe Escocesa Santo Alexandre da Escócia"...»
«Nos últimos anos, apareceram provas da alta hierarquia maçónica do Libertador Bolívar, o qual não se limitou ao Grau de Mestre, antes chegou ao cume do escocismo, que é o Grau 33.°. O Libertador Bolívar, em 1923, tinha conseguido indiscutível prestígio continental.»
« Simón Bolívar, Libertador da América do Sul, Revolucionário e Maçon passou ao Oriente Eterno em 17 de Dezembro de 1830, na Quinta San Pedro Alejandrino, em Santa Marta...»
Estes apontamentos foram retirados do blogue A Partir Pedra, após adaptação e tradução do NMQI Rui Bandeira. AM

sexta-feira, 8 de agosto de 2014

Preocupações - O BES-BOM e o BES-MAU!

Às sextas-feiras assaltam-me sempre algumas preocupações que me envenenam o sossego do fim de semana. Estando a banhos de iodo (ódio!) Cavaco e Passos [diz que o corre-corre dos beija-mãos é uma canseira - é um problema dos "padrinhos"!], pergunto-me: Se os homens de mão, vulgo paus mandados, vulgo controleiros, vulgo lambe-botas, dos mandantes dos palacetes sitos em Belém e em S. Bento, meterem água (faz-lhes tanta falta o mar Salgado, que se foi ... mas volta!) no caso do BES-BOM, onde o Estado deu um empurrãozinho nele colocando subrepticiamente o "capital" da troika, quem pagará os prejuízos e devolverá o dinheiro de que todos temos estado solidariamente a pagar juros? - empréstimos forçados a lembrar Salazar! «[O Governo viu-se] obrigado a agravar a carga tributária (…). Vê-se agora igualmente forçado a elevar ainda algumas taxas indiretas (…). São superiores a 200 000 000$00 os novos sacrifícios pedidos então e agora ao povo português, esforço que, a realizar-se integralmente, pode ser classificado de heroico nas condições atuais da nossa economia.» - António de Oliveira Salazar, no preâmbulo do seu primeiro Orçamento de Estado]. Quando os acionistas do BES-MAU abrirem os olhos e perceberem que foram expropriados sem aviso nem consentimento e resolverem reivindicar em tribunal as indemnizações a que tenham direito, quem as pagará? - sim, porque, juridicamente, existem fortes hipóteses de os tribunais lhes darem razão. E, já agora, isto que "temos" e que adoptou o nome de "Governo", cognome "A Corja", vai continuar a mover-se como se fosse um grupo teatral, de cujas más actuações não se retiram quaisquer consequências, ou, finalmente, alguém vai perceber que isto é uma associação de malfeitores? Isto, só para tentar passar o fim de semana mais descansada .... tanta vilanagem tem dado cabo da minha beleza! AM

Que os políticos enriquecem depressa .... pobres são os vencimentos, ricas são as alvíssaras!

Tem toda a razão Maria José Morgado quando afirmou, há uns anos, que “Há políticos pobres que ao fim de uns anos estão milionários”. Mas não será com as módicas quantias disponibilizadas pelo erário público para nos esfolarem! Aliás, não se diz que alguém "é" político, diz-se que "está" na politica. Quanta verdade! Os políticos enriquecem rapidamente porque lêem muito. Leitura obrigatória em férias, segundo os assessores desinformados: Cavaco Silva: "O Dever da Verdade". António José Seguro: "Um político assume-se". Paulo Portas: "20.000 Léguas Submarinas". Durão Barroso: "O Homem que queria salvar o mundo". Miguel Relvas: "Não basta mudar as moscas". Pedro Mota Soares: "Diários de Motocicleta". Assunção Cristas: "Gestão de tempo para mulheres ocupadas". Aguiar Branco: "A Arte da Guerra". Paula Teixeira da Cruz: "A rapariga que sonhava com uma lata de gasolina e um fósforo". Nuno Crato: "O Mestre Escola". Paulo Macedo: "Saúde para Totós". Dito isto, também recomendo a Maria José Morgado: "A Mulher que prendeu a Chuva". AM - segue comprovativo das esmolas auferidas pelos bem-aventurados.

Portfolio de Catherine Deneuve,


Imagens de um belo portfolio de Catherine Deneuve, assinado por Dominique Isserman e publicado na edição de Maio da revista L'Officiel.

Ó Silly-Season! Falta de sol, abundância de Festa! Um País ao relento!


Silly season? Onde? Já nos damos ao luxo de sem aguardar a época da loucura sazonal termos silly's season's esfriadas e cinzentas! Isto é que é uma riqueza! 
- Como qualificar a actuação de Carlos Costa, dito governador do BdP, no caso BES? É de loucos!
- Como interpretar a pressão de Cavaco, camuflada com interesses nacionais, europeus e outros (ao que dele conhecemos, provavelmente, também os seus!) ao Tribunal Constitucional? É de loucos!
- Como compreender que um grupo de pequenos accionistas descobriu que foi enganado pelo BdP, que "omitiu" (encobriu, acobertou?) a verdade sobre a situação do BES, quando houve aumento de capital? É de loucos!
- Como é que ninguém percebeu que já se deu a reforma do Estado, com a realização de um conselho de ministros clandestino? É de loucos!
- Como é que se espera que Passos se tenha tentado demarcado da decisão do governo sobre o caso BES? É de loucos!
- Como é que se converte Marques Mendes em mensageiro ministerial (quanto receberá a criatura por esta tarefa adicional?), todos os santos sábados à noite na SIC? É de loucos!
- Como é que se mente descaradamente aos contribuintes convencendo-os de que não vai sair do seu bolso o sacrosanto empréstimo da continha do Espírito Santo? É de loucos!
- Como é que se pretende que ninguém se aperceba de que, para além de uma nacionalização do BES, foram ainda expropriados os accionistas? É de loucos!
- Como é que alguém se espanta com a gestão ruinosa resultante do conhecido toque de midas de Santana Lopes à frente da Santa Casa da Misericórdia? É de loucos!
- Como é que se pretenderia que a Santa Casa da Misericórdia de Lisboa não imitasse, como em todos os governos, usem que fraldas usem, não se tivesse convertido numa coutada dos partidos do governo? É de loucos!
Este ano vai longe o sol que amuou com a negritude da alma portuguesa! Mas, em compensação, a silly season política-económica está como nunca esteve! A nossa vida não está muito, mas mesmo muito, melhor? Claro que está. Mesmo sem sol, arde-nos o bolso. É milagre de muito andor, mas particularmente, do Espírito Santo (passe a blasfémia que já rezei umas avé-marias em conformidade!)! AM

Aposto em falhas de memória fraudulentas! Ou em fraudes consentidas! Ou em inverdades silenciadas!


Definitivamente, há dias em que já não suporto mais tanta aldrabice camuflada em falhas de memória. Carlos Costa, em resposta a João Galamba, garante (a partir dos 9 minutos e 16 segundos) que, na comunicação de domingo, não se referiu a "fraude". 
A confirmar que Banco de Portugal conhecia, desde setembro de 2013, a situação fraudulenta/operações de financiamento fraudulento [leia-se descapitalização do banco], confrontei o agora dito pelo dito e provado pelas gravações automáticas da tvi24. O que Carlos Costa disse exactamente foi isto:«por último, gostaria de deixar uma nota que me parece importante, eu diria mesmo muito importante, para perceber os desenvolvimentos do BES ao longo do ultimo ano. o GES, através de entidades não financeiras e não sujeitas à supervisao do Banco de Portugal e situadas em muitos casos em jurisdições que são de difícil acesso, desenvolveu um esquema de financiamento FRAUDULENTO entre empresas do grupo. a experiência internacional evidencia que esquemas deste tipo são muito difíceis de detectar antes de entrarem em ruptura, em especial quando a actividade é desenvolvida em várias jurisdições. repito: este tipo de esquemas normalmente só é identificado quando entra em ruptura. o BdP conseguiu identificar uma ponta do problema porque desenvolveu uma acção de inspecção que foi para lá do perimetro de supervisão, uma auditoria às empresas não financeiras que constituem os principais clientes do banco. (...) quando esta ponta do problema foi identificada em setembro de 2013, o BdP desenvolveu uma política de isolamento dos riscos do BES em relação às restantes empresas do grupo. esta politica foi progressivamente reforçada ao longo do último ano e foi no quadro do aperto do cerco que o BdP estabeleceu que as empresas do GES começaram a entrar em incumprimento.’»
Está, pois, claro que Carlos Costa, desde setembro de 2013, pelo menos suspeitava de fraude relacionada com o BES [financiamento fraudulento das empresas do grupo através do banco], única razão que justifica a "sua" acção (do BdP) isolando o banco que levou as empresas a soçobrar. Se isto não subsume uma fraude, deve andar por muito perto, ou será apenas uma inverdade ou uma inexactidão, ao estilo ministerial. Há todo um novo vocabulário a reaprender com esta gente. Camuflada a verdade pelos midia por razões que se compreendem, que haja um cidadão ou outro que escarafunche a verdade e a exponha. Fraude, sim, houve fraude. Pode ter começado pela "tentativa"! Mas a pergunta a colocar face à rápida solução a dar ao caso (os accionistas do BES foram expropriados, decorre da lei, sim, decorre até da lei europeia, mas não deixaram de ser expropriados!) só pode ser esta: foi fraude consentida? E aí restam as questões que ninguém coloca: como, quando, quem e porquê? AM

O Povo condenado aos trabalhos de Sísifo!


«.... Como Sísifo, estamos eternamente condenados a empurrar montanha acima um fardo insuportavelmente pesado para, chegados a cume, resvalarmos de volta ao ponto de partida e recomeçarmos o mesmo percurso. Em cada ciclo particular de esforço, não faltará quem nos assegure que estamos quase a chegar ao final das nossas penas. Porém, uma e outra vez, acabaremos por reconhecer a inutilidade dos sacrifícios. Do modo como as coisas se apresentam, não parece haver lugar para nós dentro do euro.» . Lisboa, 1 de Maio de 2013, OS TRABALHOS DE SÍSIFO, João Pinto e Castro, Economista. Professor Convidado da Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa.