sexta-feira, 23 de abril de 2010

A paisagem urbana da Europa no século XVIII



No final do séc. XVIII, como resultado da emergência do conflito de conhecimentos políticos, económicos e culturais ocorridos durante cerca de dez séculos, surge uma crise marcada por importantes modificações institucionais, a aplicação do progresso cientifico ás tecnologias produtivas, e um crescimento demográfico, associado ao crescimento económico. Acontecimentos que levaram a uma mudança radical com consequências importantes na modificação na paisagem Urbana na Europa: o aumento da produção industrial, a mecanização dos sistemas produtivos, o surgimento de novas vias de comunicação (caminhos de ferro, barco a vapor) e uma maior deslocação da população rural para as cidades.
A maquina também teve uma repercussão decisiva no desenvolvimento das cidades, já que os antigos núcleos urbanos se mostravam incapazes de absorver todas as mudanças devido a revolução industrial e á consequente alteração do seu tradicional ritmo de vida.
O que poderia ser interpretado como um simples aumento quantitativo, de acordo com o rápido incremento demográfico que obrigou a superar os históricos recintos murados, acabou por se converter numa profunda transformação estrutural. Determinou inclusivamente o auge de uma nova ciência: o urbanismo , ocupada em conjugar o respeito pela propriedade privada, com as necessárias infra-estruturas sociais atendendo a novos factores que de acordo com os novos ideias, condicionam a cidade moderna. A prioridade de uma ou outra componente dá lugar a dois modelos de urbanismo claramente diferenciados. No 1º, concebido como mais uma operação económico, o papel regulador dos poderes políticos limitou-se á ordenação do solo, á racionalização da gestão prévia, ao regulamento e alinhamento das edificações, á dotação de infra-estruturas e serviços públicos. No 2º, planeado como reforma estrutural, têm mais importância as soluções globais destinados não só a melhorar a qualidade de vida dos cidadãos, mas também transformar o comportamento da própria sociedade, o que esta mais de acordo com as tendências progressistas ligadas ao socialismo. As realizações do 1º tipo englobadas sob o termo periféricas, conduzem a uma cidade distinta diferenciada tanto dos núcleos precedentes como do carácter idílico dos projectos utópicos. Uma cidade para uma nova sociedade em que a burguesia como classe dominante impõe uma nova ordem baseada no racionalismo, no liberalismo, no espirito de progresso e ânsia de modernidade. Uma cidade capaz de absorver o exorbitante crescimento demográfico, incorporar os avanços e comodidades derivados do progresso técnico e cumprir todas as normas originárias das novas teorias higiénicas e sociais. O modelo a seguir por estas actuações é o modelo clássico de retícula ou quadrícula. O seu traçado simples e racional assegurava um desenvolvimento ordenado da cidade, ajustado à mentalidade burguesa, tem um resultado prático e funcional porque facilita uma melhor distribuição parcelar, com consequente rentabilidade económica, e uma adaptação mais adequada ás novas condições derivadas dos avanços no campo das comunicações.
Vivia-se num período de grandes incógnitas e contradições. Por num lado atravessava-se um momento de grande investigação cientifica e poder económico, mas por outro lado existia um grande numero de pessoas que passavam dificuldades a todos os níveis. Estas modificações sociais e técnicas geradas pela revolução industrial vão alterar a natureza das cidades, que perdem o seu papel de cenário mantido no séc. XVIII, para passar a ter um papel mais utilitário.
Os primeiros resultados das grandes transformações industriais tiveram como consequências a degradação do meio urbano más condições de vida das populações operárias, poluição atmosférica, má utilização do solo, concentração de mão de obra, concentração das unidades industriais nos centros urbanos com maior população. A utilização do solo era pouco organizada e feita de acordo com as necessidades de crescimento das indústrias. Começam a surgir zonas somente industriais geralmente em posições periféricas e surgem os bairros operários, onde em pouco espaço se tenta colocar o maior número de pessoas, embora sem quaisquer condições (ausência de luz e ventilação e de espaços verdes e pátios) mais tarde começa-se a ter mais preocupações com estes aspectos. O crescimento da grande cidade portuária foi um ponto de desenvolvimento a partir da revolução industrial, devido ao contributo da máquina a vapor, que utilizava as vias marítimas e terrestres. Por isso, era natural que não só crescessem os novos centros fabris e certas cidades como os de origem mineira, situadas próximo das jazidas , como também as próprias cidades antigas, as grandes capitais do período barroco pois era nelas que se encontrava aquele excedente de população miserável, tão útil ao fabricante em determinadas ocasiões. Estas cidades tinham a vantagem de facilitar as relações com o poder político, e, ao mesmo tempo, a vantagem de facilitar as relações com o poder político, central com as bolsas de comércio, que nelas tinham a sua sede qualquer plano orgânico, seguindo a lei do mínimo esforço pois considerava-se que tudo o que facilitasse a produção industrial era, em si mesmo, bom para bem estar e progresso das nações. Só muitos mais tarde se viria a compreender como era errada uma implementação baseadas numa visão simplista e de curto alcance.
A violenta apropriação do espaço levava a cabo pela indústria constitui uma verdadeira catástrofe para a estrutura urbana, até porque passados poucos anos já não representava qualquer vantagem para essa mesma indústria. Ao mesmo tempo que as fábricas e todos os seus estabelecimentos anexos ganham destaque, na cidade industrial, os chamados bairros operários, construídos em virtude da necessidade de albergar a mão de obra. Estes bairros mantém-se como um dos retratos que mais desfeiam a cidade industrial. Tornaram formas e características diferentes, influenciadas pelas culturas próprias dos vários países, em que prevalece como traço comum uma regularidade fria e atroz, e uma grande densidade no que se refere ao aproveitamento do terreno. Tirava-se maior partido do solo prescindindo-se de espaços livres e pátios. As casas tinham poucas janelas para a rua. A maior parte dos habitantes não tinham luz nem ventilação. A esta solução desumana seguiu-se outra com pequenos pátios intermédios que não passavam de um pequeno alivio de uma situação grave que subsistia.
Um dos primeiros planos foi de uma cidade tipo colectivo onde combinava a actividade industrial com a agricultura. Com o andar do tempo surgiram intenções de melhorar as condições de trabalho, procurando proporcionar-lhes uma vida mais saudável e humana. Denominador ainda hoje da política do urbanismo é a procura dessa qualidade de vida urbana. Um objectivo que ora avança ora recua consoante incorpora os cadernos eleitorais políticos, sobretudo os das Câmaras.