Com 33 congressos e 17 líderes em menos de 36 anos de vida, o PSD bateu o record. Nos últimos 15 anos, Pedro Passos Coelho é o 8º presidente do partido. Quase nenhum dos seus antecessores chegar a líder, e, se algum chegou, todos experimentaram a sensação de ter o caminho armadilhado e de estarem mandatados a prazo, quase todos já com um eventual substituto em "fila de espera" - como aconteceu com o próprio PPC... Assim, é natural que tenha tido como preocupação e objectivo primeiros diminuir as tensões internas, eliminar a figura do "derrotado" que à partida se posiciona como alternativa, criar um clima de apaziguamento e unidade. Dentro disto fez, tem feito, no discurso e na prática, tudo bem, muito bem. E em consequência muito bem lhe correu o Congresso.
Mas só quem não tenha visto sucessivos congressos do PPD/ PSD com entusiásticos aplausos a líderes e outros dirigentes (p.ex., Helena Roseta tão vitoriada como Sá Carneiro) numa aparente inquebrantável força, unidade, que tantas vezes depressa se desvanecia, pode considerar o que agora se passou um sinal seguro de PPC ter conseguido aquele objectivo. Basta atentar nas numerosas ausências de figuras gradas do partido e no facto de, apesar do apelo do líder em contrário, ter havido mais 13 listas para o CN, além da proposta por si e encabeçada por Rangel, as quais elegeram 26 dos 55 conselheiros.
A parte inicial da última intervenção, a mais importante, de Passos Coelho, foi decerto a mais articulada e bem construída de um líder do PSD nos últimos tempos. Uma assinalável prestação, sem arrogância nem agressividade, sem ataques a ninguém, em particular a José Sócrates, colocando os problemas com clareza e seriedade, sublinhando não ter nem haver uma "receita" para os ultrapassar. Ao contrário do que indiciavam algumas suas declarações anteriores, PPC mostrou-se responsável, sem ameaças de derrube próximo do Governo, implicitamente disponível para um relacionamento mais aberto, mesmo um diálogo, com o PS, se este o propiciar como o interesse nacional aconselha.
Só que ao passar para as soluções que preconiza, embora mantendo o acerto de tom, defendendo algumas medidas em meu juízo necessárias, PPC foi em geral "desastroso". Colocar como nossa primeira prioridade a mudança da Constituição, é um delírio que não lembra ou não lembrava a ninguém, desde Alberto João Jardim. E como realizá-la depende da concordância do principal adversário do PSD, parece que PPC apenas quis, logo à partida, arranjar um álibi, ou uma bandeira, se não uma arma de arremesso contra o PS, tão infundada e ineficaz como a da "asfixia democrática". Aliás, PPC nem especificou o que é preciso alterar na CR - e para resolver o quê.
O que de essencial PPC defendeu, após ter garantido a fidelidade social-democrata do partido, situou-se na linha do puro liberalismo, repetindo até, com mais ou menos variações, várias propostas do CDS. Sem o citar. E sem tirar as devidas lições do que esteve na origem da gravíssima crise que o mundo ainda atravessa e Portugal sofre com intensidade. Ao ouvir o novo líder do PSD, dir-se-ia até que tal crise mostrou que privatizar e privatizar, apagar o Estado, é que resolve os enormes problemas e as tremendas injustiças com que nos debatemos.
É preciso tirar o Estado dos negócios, foi talvez a frase mais emblemática de Passos Coelho. Com o que estou de acordo: o Estado não deve estar nos negócios. Nem o Estado nem os políticos. É inadmissível que políticos estejam ligados a negócios; ou que à política cheguem pela via dos negócios; ou que depois de formalmente, aparentemente, abandonarem a política, nos negócios prosperem, mantendo pelo menos a influência política e dela se servindo. A isto, sim, devemos todos, a começar por PPC, estar muito atentos. Quanto ao Estado tem de estar é nos sectores estratégicos da Economia, não para fazer negócios mas para garantir ao País e aos cidadãos que eles estão ao seu serviço e não se destinam apenas a gerar lucros para quem quer que seja.
(José Pedro de Vasconcelos, Visão, 15.Abr)
Mas só quem não tenha visto sucessivos congressos do PPD/ PSD com entusiásticos aplausos a líderes e outros dirigentes (p.ex., Helena Roseta tão vitoriada como Sá Carneiro) numa aparente inquebrantável força, unidade, que tantas vezes depressa se desvanecia, pode considerar o que agora se passou um sinal seguro de PPC ter conseguido aquele objectivo. Basta atentar nas numerosas ausências de figuras gradas do partido e no facto de, apesar do apelo do líder em contrário, ter havido mais 13 listas para o CN, além da proposta por si e encabeçada por Rangel, as quais elegeram 26 dos 55 conselheiros.
A parte inicial da última intervenção, a mais importante, de Passos Coelho, foi decerto a mais articulada e bem construída de um líder do PSD nos últimos tempos. Uma assinalável prestação, sem arrogância nem agressividade, sem ataques a ninguém, em particular a José Sócrates, colocando os problemas com clareza e seriedade, sublinhando não ter nem haver uma "receita" para os ultrapassar. Ao contrário do que indiciavam algumas suas declarações anteriores, PPC mostrou-se responsável, sem ameaças de derrube próximo do Governo, implicitamente disponível para um relacionamento mais aberto, mesmo um diálogo, com o PS, se este o propiciar como o interesse nacional aconselha.
Só que ao passar para as soluções que preconiza, embora mantendo o acerto de tom, defendendo algumas medidas em meu juízo necessárias, PPC foi em geral "desastroso". Colocar como nossa primeira prioridade a mudança da Constituição, é um delírio que não lembra ou não lembrava a ninguém, desde Alberto João Jardim. E como realizá-la depende da concordância do principal adversário do PSD, parece que PPC apenas quis, logo à partida, arranjar um álibi, ou uma bandeira, se não uma arma de arremesso contra o PS, tão infundada e ineficaz como a da "asfixia democrática". Aliás, PPC nem especificou o que é preciso alterar na CR - e para resolver o quê.
O que de essencial PPC defendeu, após ter garantido a fidelidade social-democrata do partido, situou-se na linha do puro liberalismo, repetindo até, com mais ou menos variações, várias propostas do CDS. Sem o citar. E sem tirar as devidas lições do que esteve na origem da gravíssima crise que o mundo ainda atravessa e Portugal sofre com intensidade. Ao ouvir o novo líder do PSD, dir-se-ia até que tal crise mostrou que privatizar e privatizar, apagar o Estado, é que resolve os enormes problemas e as tremendas injustiças com que nos debatemos.
É preciso tirar o Estado dos negócios, foi talvez a frase mais emblemática de Passos Coelho. Com o que estou de acordo: o Estado não deve estar nos negócios. Nem o Estado nem os políticos. É inadmissível que políticos estejam ligados a negócios; ou que à política cheguem pela via dos negócios; ou que depois de formalmente, aparentemente, abandonarem a política, nos negócios prosperem, mantendo pelo menos a influência política e dela se servindo. A isto, sim, devemos todos, a começar por PPC, estar muito atentos. Quanto ao Estado tem de estar é nos sectores estratégicos da Economia, não para fazer negócios mas para garantir ao País e aos cidadãos que eles estão ao seu serviço e não se destinam apenas a gerar lucros para quem quer que seja.
(José Pedro de Vasconcelos, Visão, 15.Abr)