"O vitupério vil das rudes gentes é louvor dos reais e sublimados." (Camões)
Portugal é uma Democracia que insiste em viver num permanente clima eleitoralista. Todos os períodos em que os partidos na oposição vêm uma brecha para fragilizar quem está no Governo encetam uma acção de guerrilha e de terrorismo dos insultos e das insinuações que afastam a opinião pública e os próprios partidos dos objectivos premente do País. O meu espírito de contradição leva-me no impulso de reagir por antagonismo à pressão dos media e dos alcoviteiros políticos que infestam o palco político como as pragas castigaram o Faraó. De resto, dá-me até uma estranha vontade de tomar o partido dos que caluniados, difamados e mal-tratados que nos assaltam diariamente com supostos escândalos que começam por reivindicar desde a queda do Governo à prisão, isto porque já não pena de morte e porque o linchamento em praça pública até é condenável (muito embora seja mesmo disto que se trata). É uma súbita tentação em resistir contra a manada e de defender e me solidariazar com os fracos e oprimidos, que é como quem diz, contra os que exercem funções públicas e nada podem contra a desinformação com que somos bombardeados dia após dia num frenesim de escárnio e maldizer, digno de Gil Vicente. Como dizia António Bártolo "A lógica do bota-abaixo, casada com a pequenez da ciumeira e de mãos dadas com a inveja, tão disseminada quer pelos pasquins da nossa ignorância quer por algumas arenas e terreiros onde se disserta sobre o futuro do nosso país, não pode tolher-nos a razão nem arrastar-nos pelos caminhos do cepticismo, do facilitismo destruidor, tão imbecis que nem chegam a ser molestos. Outra atitude muito em voga, que aparece travestida de racionalismo militante, com ares de pesporrência e tiques de superioridade, é aquela que defende que nada há a fazer, ou que mesmo que se faça tudo será como dantes pois eles são todos iguais, se um é corrupto os outros também são e se este já se encheu agora que vá para lá outro. E assim se vai andando na paz dos anjos, considerando que não fazer nada é justificável, porque não há nada que se possa fazer para mudar. Mas também não quero cair na armadilha de advogar que a culpa é do povo ignaro, rude e ingrato cuja malquerença é, na pena sublime de Camões perante o desconcerto do mundo, sublimação dos grandes homens. Detenhamo-nos, pois, nesta peculiar relação que os portugueses têm com a política, os políticos e sobretudo com a res publica.
Parafraseando o título de uma obra recentemente editada em França, a forma o povo português vê os políticos e a política não é em nada comparável ao divórcio sem consentimento mútuo que se verifica noutros países. Em Portugal até se gosta dos políticos. A prová-lo estão as grandes enchentes à volta dos comícios que não ficam apenas a dever-se à música que anima as primeiras partes e também as pequenas multidões que acompanham as arruadas e rugem à sombra das bandeiras partidárias. E até haveria razões sobejas para o divórcio. Portugal não tem, na sua curta tradição democrática, nenhuma escola de políticos nem de dirigentes da coisa pública. Seria, por isso, natural que o povo se insurgisse mais veementemente contra a falta de qualidade dos nossos governantes. Porém, a meu ver, o divórcio português não é com os políticos, é com o Estado. Mas é um divórcio sui generis, como veremos. O Estado é, para a maioria dos cidadãos portugueses, uma espécie de Big Brother promovido ao estatuto de Deus. É omnipresente e omnipotente. Eles, humildes servos, pouco ou nada podem fazer a não ser usufruir das benesses que o Estado lhes dá. O reverso e a contradição deste estado de coisas é que estes mesmos cidadãos, julgando o Estado uma entidade todo-poderosa, crêem igualmente que tudo podem fazer contra a sua ilimitada capacidade. Por isso, há em Portugal, um desprezo enorme pela coisa pública. O que é de todos parece que não é de ninguém. Em contrapartida, isso explica que a cleptocracia instalada em alguns círculos da nossa sociedade não quero generalizar pois, como dizia o fiel escudeiro do grande Dom Quixote, até no inferno haverá gente boa seja tão bem tolerada pelo bom povo português. O Estado é grande e tudo pode perdoar!
É claro que estes argumentos não podem servir o ideário daqueles que defendem menos Estado, mas apenas para colocar nas mãos de poucos aquilo que, em rigor, é de todos. Não precisamos de menos Estado. Precisamos de mais Estado. Mas necessitamos igualmente que cada cidadão se sinta tão responsável por aquilo que é dele como por aquilo que é de todos. É esta a chave da educação para a cidadania. Só assim seremos um verdadeiro povo, na acepção que Cícero, o criador do conceito, lhe atribuiu, uma multidão unida pelo consenso do direito e da utilidade comum e não de qualquer maneira. O bom povo português, quer seja rude e ignaro, como muitas vezes é descrito, quer puro e simples, como o imaginam os românticos, precisa tanto de olhar com outros olhos para a política e para os políticos, reclamando boa governação, como para ele próprio, exigindo que aquilo que é de todos seja tratado como se fosse seu." Ou, por outras palavras, parafraseando John Kennedy,“antes de perguntares o que o teu país pode fazer por ti, pergunta o que tu podes fazer pelo teu país”.
Portugal é uma Democracia que insiste em viver num permanente clima eleitoralista. Todos os períodos em que os partidos na oposição vêm uma brecha para fragilizar quem está no Governo encetam uma acção de guerrilha e de terrorismo dos insultos e das insinuações que afastam a opinião pública e os próprios partidos dos objectivos premente do País. O meu espírito de contradição leva-me no impulso de reagir por antagonismo à pressão dos media e dos alcoviteiros políticos que infestam o palco político como as pragas castigaram o Faraó. De resto, dá-me até uma estranha vontade de tomar o partido dos que caluniados, difamados e mal-tratados que nos assaltam diariamente com supostos escândalos que começam por reivindicar desde a queda do Governo à prisão, isto porque já não pena de morte e porque o linchamento em praça pública até é condenável (muito embora seja mesmo disto que se trata). É uma súbita tentação em resistir contra a manada e de defender e me solidariazar com os fracos e oprimidos, que é como quem diz, contra os que exercem funções públicas e nada podem contra a desinformação com que somos bombardeados dia após dia num frenesim de escárnio e maldizer, digno de Gil Vicente. Como dizia António Bártolo "A lógica do bota-abaixo, casada com a pequenez da ciumeira e de mãos dadas com a inveja, tão disseminada quer pelos pasquins da nossa ignorância quer por algumas arenas e terreiros onde se disserta sobre o futuro do nosso país, não pode tolher-nos a razão nem arrastar-nos pelos caminhos do cepticismo, do facilitismo destruidor, tão imbecis que nem chegam a ser molestos. Outra atitude muito em voga, que aparece travestida de racionalismo militante, com ares de pesporrência e tiques de superioridade, é aquela que defende que nada há a fazer, ou que mesmo que se faça tudo será como dantes pois eles são todos iguais, se um é corrupto os outros também são e se este já se encheu agora que vá para lá outro. E assim se vai andando na paz dos anjos, considerando que não fazer nada é justificável, porque não há nada que se possa fazer para mudar. Mas também não quero cair na armadilha de advogar que a culpa é do povo ignaro, rude e ingrato cuja malquerença é, na pena sublime de Camões perante o desconcerto do mundo, sublimação dos grandes homens. Detenhamo-nos, pois, nesta peculiar relação que os portugueses têm com a política, os políticos e sobretudo com a res publica.
Parafraseando o título de uma obra recentemente editada em França, a forma o povo português vê os políticos e a política não é em nada comparável ao divórcio sem consentimento mútuo que se verifica noutros países. Em Portugal até se gosta dos políticos. A prová-lo estão as grandes enchentes à volta dos comícios que não ficam apenas a dever-se à música que anima as primeiras partes e também as pequenas multidões que acompanham as arruadas e rugem à sombra das bandeiras partidárias. E até haveria razões sobejas para o divórcio. Portugal não tem, na sua curta tradição democrática, nenhuma escola de políticos nem de dirigentes da coisa pública. Seria, por isso, natural que o povo se insurgisse mais veementemente contra a falta de qualidade dos nossos governantes. Porém, a meu ver, o divórcio português não é com os políticos, é com o Estado. Mas é um divórcio sui generis, como veremos. O Estado é, para a maioria dos cidadãos portugueses, uma espécie de Big Brother promovido ao estatuto de Deus. É omnipresente e omnipotente. Eles, humildes servos, pouco ou nada podem fazer a não ser usufruir das benesses que o Estado lhes dá. O reverso e a contradição deste estado de coisas é que estes mesmos cidadãos, julgando o Estado uma entidade todo-poderosa, crêem igualmente que tudo podem fazer contra a sua ilimitada capacidade. Por isso, há em Portugal, um desprezo enorme pela coisa pública. O que é de todos parece que não é de ninguém. Em contrapartida, isso explica que a cleptocracia instalada em alguns círculos da nossa sociedade não quero generalizar pois, como dizia o fiel escudeiro do grande Dom Quixote, até no inferno haverá gente boa seja tão bem tolerada pelo bom povo português. O Estado é grande e tudo pode perdoar!
É claro que estes argumentos não podem servir o ideário daqueles que defendem menos Estado, mas apenas para colocar nas mãos de poucos aquilo que, em rigor, é de todos. Não precisamos de menos Estado. Precisamos de mais Estado. Mas necessitamos igualmente que cada cidadão se sinta tão responsável por aquilo que é dele como por aquilo que é de todos. É esta a chave da educação para a cidadania. Só assim seremos um verdadeiro povo, na acepção que Cícero, o criador do conceito, lhe atribuiu, uma multidão unida pelo consenso do direito e da utilidade comum e não de qualquer maneira. O bom povo português, quer seja rude e ignaro, como muitas vezes é descrito, quer puro e simples, como o imaginam os românticos, precisa tanto de olhar com outros olhos para a política e para os políticos, reclamando boa governação, como para ele próprio, exigindo que aquilo que é de todos seja tratado como se fosse seu." Ou, por outras palavras, parafraseando John Kennedy,“antes de perguntares o que o teu país pode fazer por ti, pergunta o que tu podes fazer pelo teu país”.