sexta-feira, 30 de outubro de 2009

Adeus, Manuel (obrigado por disseres não)

"Foi uma honra ter sido deputado durante 34 anos" - disse Manuel Alegre.
A honra foi toda a nossa! E o desânimo de não ver gente que façam das palavras armas e as lancem em cruzada do púlpito de São Bento, cá para baixo.
Quando teremos de novo alguém que no Parlamento seja capaz de dizer:
"Pergunto ao vento que passa notícias do meu país e o vento cala a desgraça, o vento nada me diz.Pergunto aos rios que levam tanto sonho à flor das águas e os rios não me sossegam levam sonhos deixam mágoas.Levam sonhos deixam mágoas. Ai rios do meu país! Minha pátria à flor das águas para onde vais? Ninguém diz. (...)
Pergunto à gente que passa por que vai de olhos no chão. Silêncio -- é tudo o que tem quem vive na servidão.Vi florir os verdes ramos direitos e ao céu voltados. E a quem gosta de ter amos vi sempre os ombros curvados.E o vento não me diz nada. Ninguém diz nada de novo.Vi minha pátria pregada nos braços em cruz do povo.Vi minha pátria na margem dos rios que vão pró mar como quem ama a viagem mas tem sempre de ficar.Vi navios a partir (minha pátria à flor das águas) vi minha pátria florir (verdes folhas verdes mágoas). Há quem te queira ignorada e fale pátria em teu nome.Eu vi-te crucificada nos braços negros da fome.E o vento não me diz nada, só o silêncio persiste.Vi minha pátria parada à beira de um rio triste.Ninguém diz nada de novo se notícias vou pedindo nas mãos vazias do povo vi minha pátria florindo. E a noite cresce por dentro dos homens do meu país. Peço notícias ao vento e o vento nada me diz. Quatro folhas tem o trevo liberdade quatro sílabas. Não sabem ler é verdade aqueles pra quem eu escrevo.Mas há sempre uma candeia dentro da própria desgraça há sempre alguém que semeia canções no vento que passa.Mesmo na noite mais triste em tempo de servidão há sempre alguém que resiste há sempre alguém que diz não."
Quanta palavra mal dita, maldita, reina naquele convento beneditino! Porém, onde estão os poetas do meu país? Ou no meu país já não há lugar para poetas?
Juro! Sei! Sinto!
Há homens que dizem não, quando o não é para ser dito.
Ainda há poetas no meu país!

sexta-feira, 23 de outubro de 2009

Morte e agonia em banho-maria - ou o retrato de um PSD "frito"

Terminada a sangria desatada dos abutres do PSD, liderados pelo Corvo-PSL, finalmente ouviu-se o silêncio. Façam-nos um favor: aprendam a ser oposição, aceitem com humildade a lição que o povo vos deu. Que este já não se ilude com palhaçadas, trapalhadas ... trapaças! Enfim, dos resultados eleitorais Pedro Santana Lopes e Manuela Ferreira Leite devem-nos ... o silêncio. Não fossem narcisistas do mais puro sangue e pedir-lhe-íamos que nos poupassem às suas tristes figuras e dessem como findas as suas aleivosias políticas. O primeiro - tanto lhe pedimos e o avisámos! - dedique-se aos negócios, enriqueça, arranje uma loura e desapareça para uma dessas ilhas soleiras longínquas ... dê um interregno a si mesmo, que acreditamos piamente, deve estar "pelos cabelos" (quais?) consigo próprio. A segunda - goze o seu papel de avózinha babada, reformada (elevada à sexta ou sétima casa) - e escreva uns romances ... para variar ("A mulher que queria ser ministra", já leram? recomendo.
Pois, o país aliviou e Lisboa resplandesceu. Por ora, o dragão foi paralizado. Ou seria um polvo?
O "Sol e Sombra" de hoje convidam-nos a um a reflexão pós-eleitoral.
Primeiro. É um facto que a votação de domingo em Lisboa marcou irremediavelmente dois destinos políticos a prazo.
PSL, que mercantilizara uma imagem sebastiânica desde a Figueira da Foz e em Lisboa, com a graça de Deus, não pára de acrescentar derrota a derrota. Depois do desastre das legislativas de 2005; sobrou-lhe um insignificante terceiro e último lugar na corrida à liderança do PSD contra Ferreira Leite e Passos Coelho; foi derrotado em Lisboa. Assim se transforma um "temível vencedor a crónico perdedor". Sabendo que PSL, foi abençoado por artes mágicas (negras, claro!), António Costa, quando lhe perguntaram se achava que o Pedrito assumiria o seu lugar de vereador, respondeu (provavelmente fazendo figas) "Ele anda sempre por aí!" Portanto, se a criatura não se apaga, resta-lhe ser a "alma penada" da política socialité portuguesa. Uma benção!
António Costa foi condecorado no domingo com galões de homem-pós-Sócrates. Pai a curto prazo do PS, sem hipótese de sombra.
Entre ganhos e perdas, há os desonrados, como Deus Pinheiro! Um homem cujo nome lembra o Natal (Pinheiro + Deus), lá fez o enorme frete de pensar em deixar o golf sem o seu taco um tempito, e representar o "Bom Jesus" - de Braga. Mas não é que por desgraça sua foi eleito? Há gente com um azar! Mais não lhe restou que fazer o que queria de facto fazer: estar-se nas tintas, voltar aos campos verdes e, vai daí, renunciou ao mandato. O que não teria acontecido se os seus colegas incompetentes tivessem dado a vitória do PSD e, automaticamente, um lugarzinho na presidência da AR? Pelo menos, vice-presidente! A imagem rota do PSD, créditos nulos, egoísmos ostensivos, egos sem paralelo! Que se lixe! Bruxelas sim isso é que é um país de gente séria e tão mais interessante! Agora, Braga? Tirando algumas letritas parecidas, resta o vício da boa vida e o hábito salutar de fazer o que lhe dá na real gana! À PSD!
Hoje, a seta ascendente laranja simboliza "um partido errático e em roda livre". Aguiar Branco e Paulo Mota Pinto lavam roupa suja em público disputando quem é suficientemente mau para assumir a liderança parlamentar.
Os casos António Preto e Helena Lopes da Costa foram a maior facada na suposta política de verdade e rectidão apregoada pela Manelinha.
"Politicamente ferida de morte com a severa derrota nas legislativas, que deixou o partido abaixo dos 30%, a direcção de Manuela Ferreira Leite arrasta-se sem decidir o seu fim. Entretanto, eclipsou-se do palco político e abriu um vazio de liderança que dá lugar a esta balbúrdia partidária: cada qual fala para seu lado, ninguém presta contas a ninguém, tomam-se decisões impróprias e prejudiciais, dizem-se enormidades embaraçosas e contraproducentes. É um partido que deambula à rédea solta, sem rei nem roque."
MFL diz que se está em agonia que morra, já que de nada mais lhe serve! Veja lá rica e se se quiser candidatar a PR? É que a menina, positivamente, não se enxerga! Vai de antevisão da morte até ao último respiro, que o há-de dar lá por alturas da votação do Programa do Governo e do Orçamento. "Sem perceber que ninguém ligará ao que irá dizer ou dará alguma importância à posição que tomar. Porque já ninguém lhe reconhece qualquer réstia de autoridade – a ela ou a este desacreditado PSD."
São estas pequenas coisinhas que nos fazem acreditar que, por milagre, às vezes, até na política, há justiça! Obrigado, São Pedro!

sexta-feira, 9 de outubro de 2009

A mão de "Deus"

O artigo de Paulo Gaião no Semanário intitulado "O rei vai nu" (alegoria usada em artigos antecedentes a propósito do nosso principezinho Pedro "O Maquivel" obriga a pensar os bons de portugueses que sempre viram no PR um semi-deus.
Diz ele que:
"Ao longo dos anos muita gente se tem recusado inexplicavelmente a aprofundar quem é, realmente, Cavaco Silva." Discordo do "inexplicavelmente"! Quem critica Cavaco não te nem bom nem mau caminho, fica sem caminho!
A propósito do saneamento político de Fernando Lima, recorda como o PR sempre foi implacável. Vejam-se o "eclipse" de Eurico de Melo, Miguel Cadilhe, Fernando Nogueira, Álvaro Barreto, Santana Lopes.
Fernando Nogueira, um dos homens que provavelmente mais venerou Cavaco, n.º 2 de Cavaco no Governo, viu, no silêncio (estes silêncios estratégicos que tão bem MFL consegue seguir) do 1º sobre as presidenciais, um sinal de que Cavaco pretendia avançar para Belém, apadrinhando a sua ascensão. Engoliu o sapo. Cavaco descredibilizou-o, fê-lo perder o papel de delfim, deixando a todos a imagem de que sobre as intenções do PR nada sabia e que portanto não havia qualquer relação privilegiada entre os dois. Ao tempo, foi a antevisão de uma morte política. Ou se segredava com Cavaco, se frequentava Boliqueime, ou era-se nada. E FN ficou reduzido a pó.
"Cavaco só pensou em si e no seu interesse político ..."
Miguel Cadilhe foi Ministro das Finanças. Bastou a acusação de que teria fugido à sisa para se ver o fumo do fim de uma carreira que se adivinhava brilhante, até porque havia sido apadrinhada por Cavaco. Este dá a impressão de o apoiar e depois a reimpressão de que pensando melhor ... fez Cadilhe sair do governo, foi um "assassinato político a sangue frio".
Segue-se o raciocínio do analista com Álvaro Barreto (um dos remodelados no mesmo "arrastão" de Cadilhe). Parece que Cavaco nunca lhe sentira o devido agradecimento por tê-lo feito ministro ", ele que estava no lote de ministros com "patine", como Mira Amaral, muito longe do país profundo de Boliqueime."
Bastou Álvaro Barreto deixar cair, numa entrevista, uns alegados "recados incómodos para dentro do Governo", segundo o PR (estas manias de perseguição já vêm de trás, portanto, como se vê!).
Na célebre "leva" dos remodelados de 1990, "uma remodelação que apanhou todos os ministros de surpresa, feita na passagem do ano," prepara a queda de Eurico de Melo -um dos poucos barões que o apoiara incondicionalmente em 1985, na Figueira da Foz, "frente a João Salgueiro, apoiado por quase todos os barões do partido." Como "paga" Cavaco levou-o para o seu governo. Anos volvidos, quando Eurico quis sair do governo por motivos pessoais, Cavaco ter-lhe-á pedido que ficasse. Ao que EM acedeu "com a grandeza de um presbítero meses depois, Eurico voltou a pedir a Cavaco para sair." Cavaco volta a pedir-lhe para esperar.
Vai que foi na tal "leva" dos remodelados, que Eurico cai como os demais, sem qualquer sinal de respeito, de diferença, especial.
Segue-se Santana Lopes, "o caso ainda é fresco, nos célebres tiros de dentro da trincheira. A 27 de Novembro de 2004, Cavaco Silva escreveu no "Expresso" um artigo sobre a má moeda, atacando directamente o governo do seu próprio partido. Três dias depois, e muitas intentonas de vários sectores à mistura, Santana Lopes tinha perdido o lugar de primeiro-ministro." Reconheça-se que a PSL nem Cavaco chegou para o "assassinar politicamente"!
Por fim, abriu-se a porta ao PS e à candidatura presidencial do próprio Cavaco.
O que se passou com Fernando Lima poderá parecer uma incógnita. Mas se o parece não o é, com certeza.
Trata-se de mais um soldado que obedeceu a ordens cegamente sem as refutar e depois foi ostracizado para mostrar a discordância do chefe quanto às ditas!
E se Cavaco tem sido um padrinho para algumas das almas gémeas (como MFL) também tem estado muito bem na pele de carrasco quando os seus mais fiéis seguidores mostram que afinal vêm para além da sua própria sombra!

terça-feira, 6 de outubro de 2009

Cientificamente apaixonada!

Que bom que era trocar esta fobia eleitoral com um pouco de folia passional. Algo que me fizesse saír do sério e passar à loucura da insanidade de uma grande paixão!
Ora, romântica como sou, recuso-me a pensar que é este terrível mau feitio, ser um rato de biblioteca, um fanático do trabalho, que me afasta de uma grande paixão!
Explicam-me então que O AMOR É QUÍMICA! NADA MAIS!
Fluxo e refluxo de substâncias químicas fabricadas no corpo da "vítima" - o apaixonado! As deusas adrenalina, noradrenalina, feniletilamina, dopamina, oxitocina, a serotonina e as endorfinas em plena orgia. Madame dopamina é a responsável pela sensação de felicidade, já Madame adrenalina aceleração o coração e causa excitação. A noradrenalina é a Senhora que gere o desejo sexual no casal. Está provocada a alquimia, o santo graal dos sentidos, explosão, ficção e pura química!
E uma grande ilusão, que isso mais não é que excesso de oxitocina no sangue.Nada espiritual, poético, sublime!
A impressão de se ter um vazio na ausência do outro não passa de uma gigante fraude!
A vontade de ficar perto do outro não passa de um desequilíbrio hormonal!
A activação dos córtices insular e cingular anterior e do núcleo paraventricular é a verdadeira precursora da produção de oxitocina no hipotálamo e sua conseqüente liberação pela hipófise posterior. E esta hormona é a que me dá o prazer de um simples beijo (que aliás de simples não tem nada e até hoje embora seja - infelizmente - moça de recato e privada de devaneios - só encontrei um homem que soubesse beijar! E Deus, beijava maravilhosamente!
Trata-se de um vício, Pura droga. Maldita Cocaína.
Esse aperto no meu peito porque não te vejo, nem te revejo, essa ... saudade, fatídico excesso de dopamina. Em doses baixas (0,5-2 mcg/Kg/min.) a dopamina actua sobre os receptores dopaminérgicos, produzindo vasodilatação mesentérica e renal. Tudo tem explicação!
Ora, eu que sempre fui de letras e nada de ciências, não sou caso de espantar, Daí que nem seja dada a ter nem a suscitar paixões.
Diz-se que o sexo tântrico recebe uma superdose de dopamina (10mcg/Kg/min.), estimula os receptores alfa adrenérgicos e produzindo um aumento da resistência periférica e vasoconstricção renal. Ambas as pressões, a sitólica e a diastólica, aumentam profusamente e resultam no incremento do gasto cardíaco e da resistência periférica. Mas o que me encanta é quando, por fim, as hormonas ocitocina e vasopressina entram na dança, e tratam de fazer evoluir a pura atracção - a paixão - para uma relação calma, duradoura e segura - o amor. Que só pode ser eterno!
Aí resta a resignação de se estar preso no mesmo elo, partilhar o laço, viver o resto da vida a dois, com o Outro! Mas, até lá, ou controlo os níveis de noradrenalina e vasopressina no sangue, ou morro de paixão por ti! Porque, ao contrário do teu, o meu coração não é de pedra é do mais fino cristal.
Maldita Ciência! Deitou por terra as Letras!

sábado, 3 de outubro de 2009

O verdadeiro Cavaco

Julgo que se justifica rever e adaptar este meu texto já com algum tempo. Há uns tempos atrás, debateu-se a actual situação política portuguesa a partir dos dados das últimas eleições, à luz do estado actual das relações institucionais entre o Presidente da República e o primeiro-ministro, designadamente, atendendo ao último discurso do Presidente.
José Miguel Júdice afirmou que Cavaco Silva devia surgir como uma força de poder na sociedade portuguesa, como alguém que define as regras do jogo, mas "queimou e malbaratou prestígio" e que na terça-feira começou a campanha para as eleições presidenciais, um "erro clamoroso".
José Adelino Maltez disse uma verdade incontestável: "Cavaco não é Deus, nem é Nietzsche". "O que aconteceu ... foi a vulgarização do homem. Do mundo celeste, ele desceu à Terra e tenta atabalhoadamente ser Mário Soares. Tenta politizar. E a política não é de anjinhos, não é de super-homens, é de homens concretos que têm de viver com a liberdade de imprensa. O povo percebeu que ele afinal é humano."
Baptista-Bastos já se fica pelo "mínimo de cortesia institucional", mas concorda que "o discurso de Cavaco foi uma coisa assustadora". .. não esclareceu nada: se houve uma grande manipulação pelo PS, porque despediu o Fernando Lima? E como é que o Fernando Lima tem um dossiê sobre uma pessoa (ou mais)? Quem é que lhe deu essas informações? Foi a perplexidade instalada: A Presidência tem legitimidade para ter dossiês sobre uma pessoa?
Considera que Cavaco é uma pessoa vingativa, que vai atrapalhar (eu diria que, dentro desta modernice da magistratura activa, o vai bloquear) o Governo.
Paulo Teixeira Pinto julga que "deve haver razões de parte a parte para esse sentimento de mal-estar, mas o facto de haver razões não significa que haja uma razão. Nestes cargos, o homem não é só o homem - é também o cargo, e os cargos não podem ter estados de alma." Para ele "política só é feita por pessoas, portanto só há casos pessoais e eu receio muito - e digo isto como alguém que preza muito Cavaco Silva, fui membro na sua comissão de honra - que lhe tenha aparecido uma espécie de terça-feira de Carnaval. Provavelmente podemos ter um fenómeno, que receio bem que seja a primeira situação de um presidente não ser reeleito." e sem gostar de "fazer prognósticos com vontades íntimas de ninguém. Ele já demonstrou que tem coragem para ser candidato numa situação muito difícil", não quer antecipar, mas receia que seja um fenómeno que não tenha a natureza de epifenómeno, mas que seja uma marca que fique."
Vulgar cidadã que sou, diria que, e o futuro o esclarecerá, Cavaco demonstrou sempre um egocentrismo perigoso para quem lida com poder. Às suas mãos e por sua vontade, cairam redondos no chão homens que, qualitativamente, quer ao nível das suas competencias humanas, quer ao nível das suas aptidões técnicas, lhe eram infinitamente superiores, apenas porque ousaram pensar primeiro que ele, à sua margem, de per si. Mudou cadeiras, cargos e funções sem ais nem uis. Cavaco, talvez até por causa disto, deslumbrou os portugueses, ele era a prova de que todos podiam ser presidentes e que até o homem mais humilde podia residir em Belém. Mas Cavaco nunca foi do povo - essa foi a primeira ilusão - muito menos alguma vez foi humilde - e não é cerebralmente um homem comum, é um homem culto, um académico, um estratega. Todos pensaram usá-lo na Figueira e ele provou que aguardava que o fizessem para depois se usar de todos a seu bel-prazer! No que fez muito bem, que assim muito barão e gabarola ficou pelo caminho e, tanto mais, que "barão que rouba a barão tem cem anos de perdão" (isto não me soa bem!!). E, nem Cavaco, é tão humano quanto o pintam! É implacável!
E o que o povo viu, finalmente, é que este homem desce do seu púlpito para ter uma "conversa em família" em que se confessa sob controlo, mas claramente atabalhoado, ele o tal que nunca tem dúvidas e raramente se engana - o que faz dele um ser paracelestial!
Deu uma súbita importância a Sócrates e imputou um poder ultra-secreto ao seu exército que o debilitam como Presidente! E, disso não temos dúvidas, revelou-se um homem francamente debilitado, cansado e que vive num mundo de perseguição e suspeita que o aproximam do delírio.
Um homem-Sol com dificuldade em lidar com a sua própria sombra!

A emergência de grandes mulheres e o desaparecimento do resto!

Vem a propósito o papel crescentemente relevante que as mulheres vão assumindo por toda a parte e em vários níveis da vida e a forma solitária como algumas seguem o seu caminho.
A Revista Fortune elegeu Maria da Conceição Ramos como a 9ª mulher mais influente de todo o mundo empresarial. É a actual directora executiva do grupo bancário sul-africano ABSA.
As mulheres já podem engrossar as fileiras da Guarda Suíça - o exército, até agora exclusivamente masculino - que protege o Papa.
4 procuradoras marcam a vida judicial portuguesa: Cândida Almeida, a primeira mulher portuguesa a entrar para a magistratura e que, hoje, dirige o Departamento Central de Investigação e Acção Penal (DCIAP), que coordenou a 'Operação Furacão' e o caso Freeport; Maria José Morgado, directora do DIAP de Lisboa; Hortênsia Calçada que deixou a liderança do DIAP do Porto e foi substituída por Maria do Céu Sousa, por fim, Francisca van Dunem, à frente da procuradoria-distrital de Lisboa. Todas igualmente fortes e invulgares!
Do resto do mundo, Indra Nooyi, CEO da Pepsi Co - até aqui tida como a mulher mais poderosa do mundo pela Forbes - foi ultrapassada por Ângela Merkel, chanceller da Alemanha, que ocupa agora o número 1, e até por Sheila Bair, chairman da Federal Deposit Insurance Corp. O 4º lugar é ocupada por Cynthia Carroll, CEO da Anglo American (Reino Unido), no 5º está Ho Ching, CEO da Temasek (Singapura), e no 6º está Irene Rosenfeld, CEO da Kraft Foods (Estados Unidos).
Está no ar a pergunta: o que torna estas mulheres importantes? Fica por apurar, mas uma coisa se constata, um traço que é comum a algumas - a solidão, resultante, não tanto da força e do empenho e até do tempo que dedicam aos seus caminhos pessoais, mas mais da dificuldade que os homens parecem demonstrar em coabitar com esta tribo de matriarcas sociais.
E em Portugal? Afasto Manuela Leite que já não concorre a lugar nenhum (quero acreditar nisso, tanto mais que "correr" ao que quer que fosse ser-lhe-ia muito dificil, pelos motivos óbvios! e refiro-me somente à idade). Mas lembro mulheres como a presidente da Câmara de Vila Franca de Xira, Maria da Luz Rosinha, ou Elisa Ferreira, candidata à Câmara do Porto, ou Fátima Campos, presidente da Junta de Freguesia de Monte Abraão, ou Teresa Caeiro ou Edite Estrela, são já uma marca política; Maria Belo, na defesa do feminismo, foi-o também (minha madrinha do coração); no mundo empresarial, pense-se em Ana Maria Fernandes, CEO da EDP Renováveis, em Esmeralda Dourado, presidente da SAG ou em Vera Pires Coelho, presidente da Edifer, ou, a minha amiga do peito, Ana Bela Pereira da Silva, Presidente da Associação de Mulheres Empresárias.
Se os custos de uma carreira empenhada custam a solidão das guerreiras, parece que muitas estão dispostas a pagar esse preço! Mesmo que a realização profissional não chegue para aquecer as noites gélidas do Inverno e por vezes lhes reste o eco e o espelho como reflexo de outra alma humana em casa. É duro! Mas é um caminho! E, se ao longo da história houve sempre grandes mulheres dispostas a ficar "por detrás" de grandes homens, parece que a estes lhes falta a coragem para trocar de papel! E, caso sejamos tão idealistas que ainda acreditemos que homem e mulher devem caminhar lado a lado, comungando um mesmo projecto de vida, ou simplesmente, partilhando-a, somos levadas a desistir! A outra metade da laranja deve estar nos Antípodas! Somos vetadas à eterna busca do nosso Santo Graal, a força dentro de nós, sem olhar para trás, sob pena de continuarmos sozinhas, mas como a mulher de , feitas estátuas, a perder a hipótese de viver e de nos sentirmos gente!
E agora que se descobrem cada vez mais grandes mulheres, onde estão os pequenos grandes homens? Ou melhor, refaço a frase, ainda há espécimes desses por aí?