sexta-feira, 26 de dezembro de 2014

É Preciso Resistir «como sempre fizemos« - artigo de Baptista Bastos, Jornal de Negócios


«Tudo correu pelo pior, no ano que vai embora. Estamos mais pequenos, mais pobres, mais desesperados e mais sem rumo. Endireitar o que estes senhores entortaram e amolgaram vai ser muito difícil. 
O ano aproxima-se do fim e as coisas, para os portugueses, vão de mal a pior. A máquina de propaganda do Governo é o que há de mais enganador, e aquilo que chamava a "alma" popular foi sovada e tende a tombar na indiferença. Já não se pode ver o primeiro-ministro pela constância com que não larga as televisões, em especial a SIC, que parece ter tirado a assinatura do rosto acabrunhado e das banalidades que soletra. Aliás, as televisões pouco ou nada explicam, não cumprindo a vocação e a missão para que se criaram: ir mais ao fundo das questões, através de debates e de comentários realmente originais e estudados. O dr. Passos, há dias, disse que os banqueiros foram os mais sacrificados de todos nós. A pouca vergonha tornou-se instrumental e o ludíbrio intelectual e moral um caso de polícia de costumes.
Tudo indica que vamos sofrer abalões, mas nenhum dos partidos de Esquerda desce ao fundo dos problemas. Helena Garrido, neste jornal, tem advertido, com a prudência que a caracteriza e a reserva que a distingue, as ameaças que pairam nos nossos mais próximos horizontes. Devo dizer que, com Nicolau Santos e Pedro Santos Guerreiro, é um dos três comentadores que ouço, leio e aprecio, porque não impinge gato por lebre, recusa as grandes tiradas gestuais, como as faz o triste Costa Pinto ou o impante Ricardo Costa, que parece ninguém conseguir calar. O comentário português é uma "mixurufada" de vaidade, de incompetência e de ignorância da história. À carência de verticalidade, excede a pesporrência e a fatuidade.
Não digo uma anormalidade quando refiro a pobreza do jornalismo actual. Semelhante à pobreza como ideologia que Passos Coelho nos impôs devido à sua própria fragilidade política e intelectual. Um Presidente, um Governo e um Parlamento, a tese de Sá Carneiro, revelou-se um dos grandes pesadelos da nossa história, por constituir uma anomalia estrutural que conduz, inevitavelmente, ao autoritarismo e a uma mascarada da democracia. Está à vista.
Tudo correu pelo pior, no ano que vai embora. Estamos mais pequenos, mais pobres, mais desesperados e mais sem rumo. Endireitar o que estes senhores entortaram e amolgaram vai ser muito difícil. E quando certos sectores da sociedade portuguesa começam a falar em coligações entre o PS e o PSD, alguma coisa de tenebroso está em marcha. Não podemos permitir que isso, ou algo de semelhante, aconteça. Mas é lamentável que agrupamentos da "extrema-esquerda", ou assim disfarçados, tenham manifestado intenções de aprovar tal decisão.
Tudo parece diluir-se numa amálgama de interesses cavilosos, e o que era a dignidade e o carácter está a esboroar-se. A imprensa portuguesa deixou de o ser para se transformar numa massa apócrifa dominada por grupos económicos, inclusive estrangeiros, com "gestores" portugueses que mais não são do que factótuns invertebrados. Nos conselhos de administração, são colocados homens de mão, com larga experiência de saneamentos e de obediência ao dinheiro, e quem der mais é que é o patrão. A sociedade portuguesa está a ser dominada por esta gente, alguma da qual com relações familiares a altas figuras do Estado. A volta que as estruturas têm de levar é mesmo de alto a baixo. Minada e armadilhada como está a sociedade, as vozes livres são cada vez mais raras. O medo transformou-se num instrumento ideológico. Temos de resistir e de nos aguentar. Já passámos por pior. Ou não?»

Pragas de Natal - Um Presidente de angústias


«Chega o Natal e, com ele, chegam algumas das pragas anuais. Todos os anos, por esta altura, Cavaco vem, com cara de Páscoa, desejar um feliz Natal aos portugueses.
Chega o Natal e, com ele, chegam algumas das pragas anuais. Todos os anos, por esta altura, Cavaco vem, com cara de Páscoa, desejar um feliz Natal aos portugueses.
Desta vez, Aníbal Cavaco apelou aos portugueses para que "tenham confiança no país". Ui! Foi assim com o BES e depois foi o que se viu. Portanto, é um: fujam para as montanhas. O que nos vale é que só falta uma mensagem de Natal de Cavaco, na pior das hipóteses.
Diz o PR: "desejamos a todos os Portugueses um Feliz Natal e um Ano de 2015 com saúde e mais prosperidade", - só mais um bocadinho, sem exageros, que não queremos que o mexilhão estranhe. Cavaco quer só mais um bocadinho de prosperidade, porque ele já está bem. "Queremos que a paz esteja com os homens não só agora. Queremos que o esforço de concórdia entre os Povos seja permanente. Queremos que a solidariedade e a partilha sejam mais fortes nesta época do ano, mas que permaneçam activas ao longo do tempo." São desejos de Miss na boca do marido de Maria Cavaco. Não faz sentido.
Este ano, Maria Cavaco Silva juntou-se ao PR no discurso, o que me faz comichão porque eu nunca votei Dona Maria. Mas também nunca votei Aníbal, por isso coço-me a dobrar.
A outra praga que, felizmente, este ano não apareceu com a habitual pujança é a colecção de presépios de Maria Cavaco Silva. A sua vasta colecção de presépios de diversas proveniências, como o Chile, Colômbia ou Tailândia. Diz que, quando, no ano passado, o Bispo de Bragança foi visitar a exposição terá dito: "impressionante, já não via tantos meninos nus deitados em palha desde que descobrimos a colecção de fotos do ex-vice-reitor do Seminário do Fundão".
Não há nada mais deprimente do que fazer colecção de presépios. Quer dizer, há. Ainda é mais deprimente fazer colecção de presépios e estar casada com o Aníbal. Aliás, provavelmente, a Maria só se meteu nisto, da colecção de presépios como desculpa para não ter tempo para o Aníbal - Maria, vê lá este discurso que eu escrevi sobre o estatuto dos Açores. - Agora não posso que tenho que ir ver se o musgo já cresceu.
Havia tanta coisa mais gira e útil para coleccionar. A Imelda Marcos tinha três mil pares de sapatos, era um exagero, mas ao menos tinham utilidade. A Maria tem para cima de mil e quinhentos pastores em cerâmica, barro e azulejo, que não dão para calçar. Há mais pastores nos presépios da Maria que na Península Ibérica. E a trabalheira que deve dar quando o Aníbal quer ir brincar com as vacas? Tem que espalhar aquilo tudo pelos jardins de Belém: parece a Suíça vista de cima.
Por outro lado, o Aníbal deve sofrer muito com esta panca da Maria. Já imaginaram o que é ter de embrulhar o equivalente à população da Madeira - ovelhas incluídas - com aqueles papéis brancos de celofane, para não se estragarem?! Tenho a certeza que já passou pela cabeça do Presidente tentar fazer a permuta daqueles 600 estábulos por mais uma casita na Coelha.
Bom Natal.»