segunda-feira, 30 de junho de 2014

As perplexidades do mapa judiciário - por José António Barreiros




O José António Barreiros tem sempre a acutilância elegante e destemida de dizer o que tem de ser dito, quando tem de ser dito. Paladino da Justiça, pena é que não se tenha disposto nunca a pagar o preço para ocupar um lugar de poder que lhe permitisse exequibilizar essas suas ideias tão justas daquilo que já não é a Justiça. Mas o apontamento aqui fica, trocado na força daquele enorme abraço.

«À mercê da retórica, o País assistiu à afirmação reiterada de que havia falta de juízes, sobrecarga no trabalho dos que serviam nos tribunais, na necessidade de o Centro de Estudos Judiciários habilitar a Justiça com mais magistrados, mesmo através de meios extraordinários e céleres de formação. Vem agora o "mapa judiciário" e os portugueses assistem à noção exactamente inversa, a de que, afinal, há juízes e procuradores a mais. E ficamos todos perplexos.

Tendo ouvido dizer que, em obediência às regras gerais de legitimação da Justiça, esta deve desempenhar uma função preventiva, sobretudo a penal, para que que, em função do julgamento, a comunidade aprenda que o crime não compensa e se abstenha de fazer o que nos tribunais se condenou, o País assistiu à noção da Casa da Justiça, o tribunal ao pé da porta, os juízes de fora que iam às comarcas, as NUTS, enfim, a Justiça de proximidade e assiste agora ao encerramento de tribunais, a julgamentos que vão ter lugar a dezenas e dezenas de quilómetros do local onde tudo se passou, essa forma da desaforamento encapotado em favor do tribunal de conveniência. E ficamos todos boquiabertos.

Tendo visto os políticos clamarem o imperativo da reforma judiciária e o consequente "mapa judiciário", como condição essencial ditada pela troika porque o País real, o produtivo, o empresarial, estaria bloqueado por causa do mau funcionamento dos tribunais, o País apercebe-se que só quando a troika se foi, enfim, embora, é que o dito "mapa" surge, e, afinal, com isso, estão suspensas as marcações de julgamentos, haverá milhares de processos que vão ser encaixotados, juízes transferidos, magistrados novos que vão ter pegar nos processos desde a estaca zero quando havia outros que já os conheciam de fio a pavio. E ficamos como parvos.

Tendo aprendido a não acreditar em coisa alguma, o País, não quer de nada saber. Problema é o Conselho de Disciplina da Federação Portuguesa de Futebol. E, em matéria de juízes, grave é o que se passa com os árbitros de futebol! O mais que se dane!

Viva, pois, tudo, e viva, por isso, nada! Tanto faz. 

O mapa judiciário, esse, será, assim, apenas um problema de camionagem, com polícias e soldados a alombarem com processos de cá para lá. 

Conclusão: sem os Ministérios da Defesa e da Administração Interna, que seria do Ministério da Justiça? E porque é que, já que de mapas se fala, não se pediu ajuda aos Serviços Cartográficos do Exército, e, ao Instituto Português do Mar e da Atmosfera, para se decidir o caso de tribunais nas Berlengas, no Farol do Bugio, e sobretudo nas Selvagens?» [publicado há momentos no seu blog "Patalogia Social"]

quinta-feira, 26 de junho de 2014

OS VELHOS TAMBÉM SE ABATEM! - Fernando Paulouro Neves


«Às vezes, um verso contém toda a emoção do mundo e impõe um silêncio absoluto de pura exigência de meditação. Essa experiência acontece-nos frequentemente quando lemos aquela arte poética que toca a essencialidade das coisas ou vivemos emoções estéticas tão fundas, porventura aqueles instantes em que Goethe dizia que o tempo devia parar. Um desses versos, que me emocionou, colhi-o na poesia de Jorge Luís Borges e diz: "Por Francis Haslam, que pediu perdão aos seus filhos/ Por morrer tão devagar". É uma metáfora terrível que hoje traduz o universo absurdo que a sociedade impõe aos mais velhos, quando a vida produtiva chega ao fim ou os donos dos países os tornam gradualmente descartáveis.
No mercadorismo social, no deve-haver do poder ultra-liberal, como acontece de forma miserável em Portugal, não há lugar para os idosos - ou, se há, são na maior parte dos casos armazéns antecipadores da morte -, os idosos são um segmento geracional que os detentores do mando, não poucas vezes, acusam (pelo crime de se ter prolongado a esperança de vida) de responsável por desequilíbrios orçamentais.
Lembrei-me do verso de Borges porque a questão dos idosos em Portugal (reformados e pensionistas), gente que viveu e vive, ainda, em muitos casos, uma precariedade humana aviltante, depois de duras vidas de trabalho e de desigualdades sem fim, e faz lembrar aquela caricatura (excessiva, como todas as caricaturas), tão feita de desumanidade: consideram-nos mortos - e gostavam de os ver morrer mais depressa.
Foi também o texto magnífico de José Tolentino Mendonça, no "Expresso", intitulado "A Velhice Ofendida", que me fez voltar à pulsão da escrita em tema tão inquietante e tão presente no quotidiano. O poeta começa lembrar que "nos primeiros quatro meses deste ano foram registados em Portugal 294 suicídios" e que "ocorrem no nosso país mais suicídios do que mortes em acidentes de estrada". E acrescenta: "Mas houve um dado que se cravou completamente na minha cabeça e não me abandona:quem mais é tentado pelo suicídio são os velhos, acima dos 75 anos de idade, com menos defesas perante a solidão, a pobreza ou o sofrimento". José Tolentino Mendonça cita um curioso texto do filósofo Norberto Bobbio, onde o autor, com sarcástica ironia, escreve que "quem elogia a velhice nunca a teve diante dos olhos", para relatar depois a seguinte experiência de Bobbio: "O tempo urge. Eu deveria acelerar os movimentos para chegar a tempo e, em vez disso, vejo-me obrigado, dia após dia, a mover-me cada vez mais devagar. Emprego mais tempo e disponho de menos tempo. Pergunto a mim mesmo, preocupado: será que vou conseguir? Sinto-me compelido pela necessidade... E contudo sou obrigado a marcar o passo, embaraçado nos movimentos, desmemoriado, e portanto obrigado a deter-me para anotar tudo de que preciso em folhas que, no momento oportuno, não encontrarei".
Esta é uma imagem fugaz do drama interior de muitos idosos. Mas depois, nas andanças do dia-a-dia o braço longo do drama estende-se à solidão do abandono, às agressões físicas de que os idosos são vítimas, dentro das quatro paredes de um eufemismo chamado lar, às vidas de miséria que são a linha final de muitos. Os velhos. Como diz José Tolentino Mendonça "ser velho no Portugal contemporâneo não é uma coisa bonita de ser ver".» - Fernando Paulouro Neves

quinta-feira, 19 de junho de 2014

A administração do Centro Hospitalar de São João, no Porto, solidariariza-se com os dirigentes intermédios - em causa a saúde dos doentes. Que pena a lei da rolha não ter vingado!

Compreendem agora a importância e a pressa da lei da rolha para o pessoal médico? A administração do Centro Hospitalar de São João, no Porto, anunciou que todos os dirigentes intermédios daquela estrutura se demitiram. O Conselho de Adminis...tração do CHSJ adianta que "os responsáveis pelas oito unidades intermédias de gestão do CHSJ e os 58 diretores de Serviços clínicos e não clínicos decidiram presentar o seu pedido de demissão", e manifesta-se "solidário com as lideranças intermédias", tendo "reportado esta situação à tutela" e esclarece as razões aduzidas pelos dirigentes para apresentarem a demissão.
A demissão conjunta justifica-se por "a qualidade na prestação de cuidados de saúde à população estar em risco", com "a desvalorização do CHSJ e da sua missão no contexto da região e do país" e com "a impossibilidade da implementação do desenvolvimento estratégico do CHSJ", tal como a apontado como motivo para a saída em bloco o "impedimento da ação gestionária do CHSJ e das estruturas intermédias de gestão do Centro Hospitalar, por via da centralização administrativa, no que concerne a políticas de recursos humanos, investimentos, manutenção estrutural, infraestrutural e de equipamentos e compras, que afetará gravemente a prossecução da sua missão e a atividade assistencial, apesar de, reiteradamente, o CHSJ apresentar resultados económico-financeiros positivos e resultados clínicos e assistenciais ao nível dos melhores da Península Ibérica". Ora, não é tão importante pôr uma rolha nestes gajos? Obviamente, falam demais. AM

As três sílabas do nosso remorso, por BAPTISTA-BASTOS, DN




«Vivemos de felicidades pequeninas, e inventamos esses instantes com a intuição secreta de que são precários e fugazes. Pouco temos a que nos pegar. Os amigos ou aqueles que estimamo...s vão-se embora, para outros sítios ou para sempre, encerrando o anel que parecia ligar-nos. Agarramo-nos, com o desespero de quem nada tem a perder e nada tem a ganhar, ao gosto de uma palavra, a um sonho ou, até, a um jogo de futebol, criando a ilusão de que somos felizes. Mas é sempre uma felicidade pequenina, e nós sabemo-lo com a noção dessa fatalidade irrevogável. Fomos alguma vez grandes? Inculcam-nos a ideia de que sim. Mas grandes para quem? Fomos nas caravelas, criámos um leito de nações deitando-nos com tudo o que era mulher. Talvez a nossa grandeza resida aí: no gosto e no apreço pela mulher.
Tudo o que trouxemos e roubámos foi para os outros. É sempre assim. Jorge Brum do Canto, aquele realizador de cinema de que já ninguém fala, sequer levemente, disse-me, um dia, no Botequim da Natália, que somos o mesquinho na mesquinhez: pequeninos e queremos e gostamos de o ser. Precisamos de ídolos, ídolos?, que completem a nossa incompletude. Agora, neste mesmo instante, é o Cristiano Ronaldo, que se passeia num Lamborghini para satisfazer a nossa inveja. Ele é a nossa vingança momentânea, também ela momentânea e precária, enchemos as praças públicas, transferindo para ele as nossas frustrações e as nossas derrotas. Perdemos. Levámos uma cabazada, e o inchaço da pequenina esperança, tudo pequeno sempre muito pequeno, esvaziou-se como um balão. Lá vamos, cantando e rindo, diz o hino mentiroso. Lá vamos.
Depois, esquecemos tudo. Até a miséria esfarrapada do nosso esfarrapado viver. Protestamos sem ira nem cólera. Protestamos com estribilhos e dizeres em cartazes, e vamos à vida que se faz tarde. Somos o Mundial! Gritam as televisões, todas as televisões, durante todo o dia, e enviados especiais embevecidos, comentadores severos, especialistas engravatados e graves ensinam-nos as razões por que perdemos. Lá vamos, cantando e rindo. Dizia o O"Neill: "Às duas por três nascemos/ às duas por três morremos/ e a vida?, não a vivemos." O O"Neill é como o Pessoa: serve para explicar o aparentemente inexplicável. Lemos os jornais, os que lêem, claro!, e o fastio é tanto que só sabemos de futebol: decoramos os nomes, os lances e as jogadas, nada de mais nada. Somos assustadoramente ignorantes, iletrados contundentes, fecham-se escolas, reduz-se o dinheiro para o ensino, os miúdos vão para as aulas em jejum, e temos, temos é como quem diz..., três jornais diários consagrados ao futebol, fora o que escorre, uma multidão de programas de, sobre e com futebol e adjacências; o mesquinho na mesquinhez elevado ao quadrado.
"Se fosses só três sílabas, Portugal..."»

terça-feira, 17 de junho de 2014

Que PS vai sobrar depois disto? Lutas intestinais e viscerais desconstroem o Rato.



Que PS vai sobrar depois disto? pergunta a Ana Sá Lopes.
«Nem a "traição" é um argumento político nem serve para conquistar corações.»
Só passaram 19 dias desde que Costa se anunciou candidato a SG do PS e o ambiente dentro do partido já está irrespirável. É impossível manter alguma racionalidade naquela que é já dada como uma das maiores guerras intestinais dentro do PS (e mais durável: contando o tempo que já vinha com o que há-de vir). "Calhaus, insultos, insolências, trocas de tiros virtuais, tudo a contribuir para que uma batalha que deveria ser estritamente política se aproxime a passos largos de um romance de cordel. Se o objectivo for o de rebentar com o partido mesmo antes das próximas legislativas, é capaz de estar a ser conseguido: se sobrar alguma coisa do PS depois do que se tem visto nos últimos dias, será uma alegria."
..... "é insustentável para o PS esperar até 28 de Setembro para o desenlace da guerra civil. O que se está a passar é uma versão aproximada de "irregular funcionamento das instituições". .... Há um problema político: o PS não funciona nem vai funcionar enquanto maior partido da oposição e partido mais votado nas eleições europeias pelo menos até Novembro (no caso de Seguro perder as primárias). E todos os dias os socialistas disponibilizam bom material de propaganda futura para os tempos de antena da coligação governamental - além de contribuírem vivamente para alegrar os discursos de Marinho e Pinto.
Já se sabia que isto ia correr mal, pelo menos tão mal como em 1991. Mas está a ser pior: felizmente para o PS, em 1991 não existiam redes sociais. Agora, a exposição pública do "debate" entre militantes é confrangedoramente triste.
... António José Seguro sente-se (é?!) frustrado e "traído", e como uma peixeira da ribeira (sem ofender as ditas) chama oportunista a Costa. Como se Seguro alguma vez na vida soubesse ser alguma coisa senão isso. Foi até hoje o político mais oportunista (retirando o calculismo de Portas mas esse estratégico, calculado, direccionado), queimando dentro da JS e já fora dela todos os que lhe pareciam susceptíveis de se perfilar como futuros opositores. Nunca um lider se rodeou de tantos compadrios e yes-man à sua volta, afastando qualquer massa crítica dos órgãos do partido. Tudo e todos os que lhe podiam fazer mossa foram colocados, um a um, de lado, em banho-maria, tal como lhe fizeram anos a fio a ele. Não sirvas a quem serviu .... Nem a "traição" é um argumento político nem serve para conquistar corações. Seguro pôs as garras de fora, apoiado por Maria de Belém, e, desprezando a tal politica dos afectos que tanto apregoou e que captou os apoios de algumas balzaquianas dentro do partido, joga o factor de sedução do "traído". De nada lhe serve. Tem até perfil de traído embora em muitas situações tenha sido ele o traidor. Um sonso. Olhos vazios e inexpressivos a esconder a ambição desmedida que alimentou anos a fio quando ainda todos o viam como um aprendiz de polichinelo.
Seguro sempre usou o truque dos ambíguos e dos sobreviventes: as meias-palavras. Se visa pressionar Costa a falar e a identificar-se com o passado do PS, enquanto número 2 do PS nos governos Sócrates, dispare com questões concretas e discuta a gestão dos anteriores governos. Enfim, talvez dessa discussão pudesse nascer alguma luz para o PS. "De discursos de faca e alguidar, mais habituais em processos de divórcio litigioso, não nasce nada." Mas, é precisamente nestas situações, que se revela a falta de perfil para lider, pódio a que chegou para desventura do PS e inglória da oposição. Perdeu-se muito com Seguro como SG: o partido fragmentou-se, os vendilhões já se vendem por menos do que um prato de lentilhas, os troca-tintas vomitam nas redes sociais sapos de "apoio" a Costa. Um partido que depois de Seguro nunca mais será o mesmo. Pelo caminho terão ficado socialistas de primeira linha e gente competente que muita falta faziam na construção de uma oposição sólida e credível. No melhor pano cai a nódoa. E por muita lexívia que se use, Seguro causou estragos irreparáveis dentro do PS. Resta a Costa entrar e começar com uma valente sabonária, ainda que leve à frente umas quantas sopeiras e controleiros que, até agora, lhe foram muito úteis. AM

domingo, 15 de junho de 2014

A ricofobia portuguesa - Os odiados novos ricos!


A ricofobia portuguesa, na visão do Nuno Abrantes Ferreira 
«Os portugueses têm uma neurose com o dinheiro dos outros. Nunca perguntam a ninguém “quanto é que ganhas?”. Porque acham isso uma indelicadeza. Mas não hesitam em lançar suspeitas e em emitir juízos de valor sobre os que vivem bem e exibem um estatuto social melhor que o deles. Há quem chame a isto inveja. Eu chamo ricofobia.
Quem nasce rico é um betinho que “não sabe o que é a vida”. Porque “teve a papinha toda feita” e beneficiou da “boa educação e influências da família”. O betinho até pode multiplicar por 100 o património que herdou. Ou descobrir a cura para o cancro. Mas o ricofóbico dirá sempre: “o gajo era rico e assim também eu”. Um betinho nunca tem uma história de vida. Porque nasceu rico. E isso explica tudo: o sucesso dele, o insucesso dos outros e até “o estado a que o país chegou”. Porque em Portugal, diz-se, “há muito dinheiro, ele está é mal distribuído”. E a culpa é sempre dos ricos.
Mas o clímax da ricofobia é atingido quando alguém que nasce pobre ou remediado, comete a desfaçatez de ascender a uma classe mais alta. Estes alpinistas sociais nasceram no mesmo bairro periférico e frequentaram a mesma escola pública que o ricofóbico. Mas a idade adulta trouxe-lhes destinos diferentes. Enquanto o ricofóbico ficou no bairro da Amadora, o alpinista foi morar para Campo de Ourique ou trabalhar na City de Londres. E é precisamente isso que faz comichão ao ricofóbico, que se questiona: “Como é que ele conseguiu e eu não?!”
Rodeado por tantos casos mediáticos de enriquecimento ilícito, o ricofóbico tende a julgar todos os alpinistas com a jurisprudência da trafulhice e das cunhas. Esquecendo-se dos infinitos exemplos de portugueses que construíram, do nada, carreiras justas e negócios limpos de sucesso. Mas para estes, o ricofóbico tem outro veredicto: “são uns fora de série”. É curioso que no julgamento ricofobiano não exista um meio termo. Não existem alpinistas normais. Ou são canalhas ou são geniais.
Resumindo, aos olhos do ricofóbico, um português bem na vida tem 3 hipóteses de currículo: ou já nasceu rico (betinho); ou recorreu a ilegalidades (alpinista canalha); ou estava predestinado (alpinista genial). Trabalho, educação, sacrifício e mérito são pouco relevantes. A explicação reside quase sempre no berço, na falta de justiça ou na justiça divina.
Na génese da ricofobia está a ricofilia (o desejo de ser rico). É natural, e até salutar, que todos os portugueses queiram ser ricos. Mas mais natural ainda, e não menos salutar, é que nem todos o consigam. É que o capitalismo pressupõe a existência de classes. De ricos e de pobres. De patrões e de empregados. E pressupõe também mobilidade social. Ou seja, a possibilidade de os ricos empobrecerem e de os pobres enriquecerem. E é quando a ricofilia esbarra na fraca mobilidade social portuguesa que a ricofobia emerge. Qual grito de revolta numa luta de classes.
Tenho para mim, que os justos vencedores são aqueles que evitam esta estéril luta de classes. E que não se deixam cegar pela ricofobia. E que se agarram à máxima de que o dinheiro é resultado do sucesso e que o sucesso é resultado do trabalho. E que negam a existência de dons ou genialidades. E que apesar de estarem conscientes que o berço é importante e que o sistema não é perfeito, sabem que isso não determina, nem deve resignar, o futuro de um Homem.
Afinal de contas, a mobilidade social fica mais fácil quando os mais ricos criam oportunidades para todos. E é normal que estes prefiram dar as oportunidades a quem os valoriza e não a quem os diaboliza." 

quinta-feira, 5 de junho de 2014

"Aclarando" o Acórdão do Tribunal Constitucional - Haja competência (ou criatividade, ao menos)!



Estalou o verniz entre o PSD e o Tribunal Constitucional. Ontem, a coligação "exigiu" que o Parlamento envie ao TC um pedido de aclaração do acórdão que chumbou três normas do Orçamento.
Face à hipótese de os juízes se recusarem a prestar esclarecimentos sobre a decisão, Montenegro lançou a primeira farpa, e afirma estar "em crer que o TC não irá fugir às suas responsabilidades de clarificar o sentido e o alcance" da sua decisão. "Estamos certos de que o TC não vai desertar, uma vez chamado a pronunciar-se", insistiu Nuno Magalhães.
Montenegro sublinhou, em tom de confronto e ameaça velada que está em causa "o relacionamento institucional entre três órgãos de soberania", argumentando que: está em causa o interesse dos cidadãos (todos os funcionário públicos); está em causa uma lei particularmente importante (o Orçamento do Estado); está em causa "o relacionamento leal entre órgãos de soberania". Nuno Magalhães acrescenta que o acórdão do TC contém "ambiguidades, incorreções e até alguns erros de facto". 
Quanto à alegação de que ao TC não compete esclarecer a forma de resolução das questões técnicas decorrentes dos acórdãos, Magalhães lembrou o precedente, de 1995, quando o TC aceitou responder a uma questão levantada, fora de tempo, por Mário Sores, estabelecendo o "primado da substância face à forma".
O Governo indaga de que forma serão pagos os subsídios de férias e de Natal, cujo direito se adquiriu no inicio do ano (antes de o TC decidir pela inconstitucionalidade do corte dos salários) e a questão da diferença de tratamento entre os funcionários que já receberam o subsídio de férias (com corte) e os que ainda vai receber (sem corte). 
Quando a teimosia se junta à incompetência a caldeirada entulha-se e entorna-se o caldo. E esta é uma questão que se resume ao problema de um analfabeto que, querendo brilhar ao fogão, tenta perceber os bonecos de um livro de receitas, que as letras só lá devem estar, segundo o seu pobre entender, para encher a folha. Fazer a folha a esta corja de analfabetos jurídicos é que era, mas falta gente que se apronte a fazer de fósforo. E assim nem se come a caldeirada nem se atiça a acendalha! Tudo uma enorme maçada! AM

O Palácio da Praia (sede ao Rato) declara guerra à Versalhes!


Enfim e por fim, alguma coisa de interessante se passa na nata esmorecida do Rato. Até os "pasteis" - o Rato lembra-me tanto a Versalhes! - mudam de cor. 
Ontem, a direcção do PS aprontava-se para dar música na salinha do Palácio Praia quando Eurico Brilhante Dias. Só que a pauta mudou quando, em vez de empatarem o espectáculo - como suposto, como habitual - com o relambório do “8º chumbo do TC”, desata tudo a cantarolar sobre as ilacções a retirar da derrota de Seguro nas primárias que propusera no Vimeiro.
Eurico esteve assim mais ou menos, como é do seu timbre, e lá foi mastigando os pastelinhos providencialmente colocados na sua bandeja "brilhante". As primárias aconteceriam “o mais cedo possível”, bradava o pequeno aos sete ventos. 
Mas os pasteleiros inquietavam-se! Correu mal a conferência - o que é sempre grave para quem sabe pouco da matéria e lhe saltam uns quantos power-points e uns parolos desatam a saltitar as folhinhas da pauta confundindo o maestro mal preparado! Mas os pasteleiros, vendo que a massa levadava a seu favor - decidem estragar o dia aos aprendizes. Já pensam os seguristas - onde estão? quantos são? - em ir à santinha da ladeira procurando paliativo que cale os ditos (categoria profissional também conhecida como "dirigentes distritais"). Uns quantos - demais! demasiado! - presidentes das federações distritais ficou desagradado com o anúncio feito no Vimeiro! É que alguém, ninguém, se tinha esquecido de os avisar dessa Comissão Nacional. Assomou-se um laivo de inteligência aos pasteleiros contrariados e viram neste esquecimento um laivo de esperteza saloia. Ora o que está sempre em causa é a "receita"! E, ideia luminosa!, perceberam que o chefe de cuisine Seguro adoptara uma tática de sobrevivência política - só tática que estratégia há muito tempo que não existe no Rato! caciqueiros, controleiros e seus acólitos são meros soldadinhos de chumbo que a tanto não chegam! - servindo-se, para tal, dos seus mandatários selectivamente postos à frente das distritais.
O episódio desta novela de terceira acaba com a proposta de uma reunião entre líderes distritais à revelia da direcção nacional. “Á revelia" é das expressões mais fantásticas da vida! Mas haverá rebeldes suficientes? Entretanto, os pasteis da direcção do quartel apresentavam uma proposta para uma reunião na sede, hoje, às 18 horas.
Para um partido que não mexeu um c* nos últimos anos isto é que foi dar à perna nas últimas semanas! A ideia era convencer os outros presidentes que a proposta do membro do secretariado nacional vencia a ideia do encontro em Leiria. Mais uma idiotice vinda directamente do laboratório de ideias, não?! Instala-se a controvérsia - coisa a que nos últimos anos também não se deu azo (é ver o número de militantes adormecidos, dissidentes, expulsos e afins!) - e 8 dos 21 presidentes das federações batem o pé: façam-se ambas as reuniões. Os seguristas, sentindo que a massa levedava acima do ponto, defendiam o encontro de hoje. Gerou-se a confusão sobre a fórmula "fermento q.b.". Claro que ninguém ousou mostrar o seu desagrado mas muitos dos dirigentes socialistas "cresciam" além da forma! É que, além de não terem sido informados, alguns, com a antecipação das eleições, ficam com os prazos de validade mandatária encurtados. A "massa" podia levedar até 2015, mas, estatutariamente, pode esgotar-se este mês. Era uma segurança na vida dos pasteleiros que resultava da última revisão dos estatutos. À data da eleição dos actuais presidentes, os estatutos definiam mandatos de dois anos, terminando agora. Os pasteleiros temem a levedura esquecidos que qualquer receita que meta "massa" suscita especial interesse dos especialistas em "formas". Definitivamente, no Palácio Praia, os pasteis vão mudar. Estou até mesmo convencida que podem ficar com a massa tão apurada que, finalmente, está aberta a concorrência à Versalhes. Por esta nem Luis XIV esperava. O bobo da corte é sempre uma figura surpreendente! Na arte musical como na arte culinária! AM