O vinho que Jesus e seus discípulos beberam na Santa Ceia era kosher, o único vinho permitido aos judeus (Kosher: “apropriado”, o que segue as leis dietéticas judaicas, o “kashrut”). O vinho kosher começa no vinhedo com o “orlah” – a proibição de usar os frutos nos primeiros 3 anos de plantio. A tradição imporia que desde a prensa até ao engarrafamento, o vinho não fosse tocado e, nalguns casos, até visto, por um não judeu ou por algum judeu não religioso. Para garantir a tradição, as vinícolas kosher empregariam apenas “haredim”, judeus ultra-ortodoxos, observantes rigorosos do Torah. Qualquer visitante de um vinhedo kosher é acompanhado por um supervisor do ”kashrut”, para que nada seja tocado. Todas as substâncias utilizadas no processo, como levedos, sulfitos, ácido tartárico serão obrigatoriamente kosher. Outra das regras sagradas é que a maquinaria da adega tem de ser nova ou bem lavada.
Em Portugal é produzido em Meca, no Ribatejo, e tem até a bênção do rabino. Vai-se em direcção a Alenquer. Lá se vai pelo campo, sempre com o rabi ao lado, até ao campo apinhado de uvas. As uvas caem com uma força adocicada até, lentamente, escaparem aos nossos olhos, e serem trituradas. O sumo da uva é sugado para um tubo que dá ao cimo da adega. O rabino arregaça as mangas, perante o olhar de um funcionário ucraniano e de um ribatejano que, simpaticamente, lhe vão encaminhando as mãos pelos mecanismos. Quatro vezes, quatro camiões, quatro cargas apinhadas de uvas. O enólogo Tiago Carvalho pinta o quadro da produção: "Este ano foi seco. Sem a chuva, as uvas ficam com um teor alcoólico mais elevado. Normalmente o vinho fermenta a uma temperatura máxima de 30 graus, e este, antes de ser engarrafado, passa por um processo de pasteurização, elevado para 75 graus." O rabino denomina este processo de ‘Mevushal’: cozido, fermentado, "na lei judaica está escrito que temos de subir mais do que 45 graus." Paulo Rocha, o presidente da firma, não hesitou em aceitar o desafio de fabricar um vinho que requer preceitos diferentes: "Produzo tantos vinhos, e por que não este?" Estreou uma máquina, facilitou todas as formalidades e está seguro do sucesso, "estou certo que haverá muita procura."
O vinho foi rotulado de Ben Rosh. Mas só por mero acaso é que a família do homenageado ficou a saber da existência do vinho. É o caso de Isabel Ferreira Lopes e de Mário Barros Bastos, netos de Ben Rosh. Apesar disso, esperam que seja o princípio do fim da injustiça de que foi vítima.
Conta o rabino da Comunidade Israelita de Lisboa, Boaz Pash, que, durante o II Templo (400 anos a.C.), "as mulheres mais justas de Jerusalém davam aos condenados à morte um cálice de vinho forte. A finalidade era aliviar a agonia do réu com o estonteamento do álcool. E, também, em tempos remotos, no regresso de um funeral, a Hebrá Kadisha – uma confraria que tem como principal propósito dar assistência espiritual aos doentes e moribundos, e de executar o dever religioso de enterrar os mortos – consolava os enlutados com uma taça de vinho. Esta analogia com o decesso, foi abolida do judaísmo: "A expressão Le Haim – para a vida – traduz a sólida afinidade entre a alegria e o ‘Yain’, vinho em hebraico, vocábulo que, feitas as contas numéricas, apresenta o valor 70, "o que na perspectiva cabalista pode revelar o segredo de uma pessoa."
Considerado pela Cabala (mística judaica) como o ‘sangue da natureza’ e chamado, pela Bíblia, de “sangue das uvas", o vinho está em todas as cerimónias religiosas judaicas. Do Shabat à bênção de agradecimento da comida, das solenidades, à oração que simboliza a entrada da semana, o vinho está sempre presente. Mas é em Purim, festa das ‘sortes’ (semelhante ao Carnaval pagão) que as máscaras e a euforia que tudo muda. Num dos tratados do talmud (livro do estudo oral) está escrito, revela o rabi: "devemos beber vinho a ponto de ser impossível distinguir a diferença entre o Mordechai e Haman". E quem são eles? O rabino afiança que o primeiro "era bom, tio daquela que foi a rainha Ester". O outro, ministro do imperador Ahashverosh (séc. 5 a.C.) da antiga Pérsia, "era mau, mais do que as cobras. Quis exterminar todos os judeus que viviam no império." E para isso, fez um sorteio para saber em que dia esfregaria as mãos de contentamento. Calhou a 14 de Adar (mês hebraico equivalente a Fevereiro-Março). Mas o feitiço virou-se contra o feiticeiro, e Haman, o mau da fita, acabou com o pescoço na forca, exactamente nessa data. A provável bebedeira que advém desta diferenciação é explicada: "dessa forma não sabemos quem era o bom e quem era o mau. É para esquecer a maldade." Esta festa realiza-se uma vez por ano. Claro. Não haveria fígados.
Cada celebridade abarca um simbolismo na eleição do tipo de vinho. Aos Sábados, é o tinto, "porque a cor vermelha representa a força." Na Páscoa (Pessach): durante a leitura da Hagadah (relato da saída dos judeus do Egipto) os 4 copos obrigatórios personificam "os 4 níveis de redenção, enquanto esperamos pelo 5º, que só chegará com a vinda do Messias", deverão ser do mesmo carácter: "é para lembrar o sangue dos nossos antepassados, quando éramos escravos." Os 4 copos não são bebidos de qualquer maneira, o corpo tende para o lado esquerdo enquanto se bebe, porque era o lado pelo qual as pessoas livres ingeriam. Nos casamentos a tradição é a vinho branco, numa alusão à pureza, "para que a ligação do casal seja tranquila. O branco simboliza a placidez." Nas festividades a selecção incide somente na qualidade. O vinho, na religião judaica, liga-se à mística, ele próprio tem uma certa mística. O rabino diz que "a certa altura da santificação (Kidush) é possível ver a nossa imagem.", já que, quando a pessoa que conduz a oração inclina o rosto ligeiramente em direcção do copo, o vinho se transforma num espelho. "Na verdade, esse vulto reflectido é a nossa forma espiritual." Boaz defende que “a importância do vinho não se reduz a um potencial que põe os seres humanos mais alegres...", com ele fazem-se orações e bênçãos. A exigência primordial para um vinho estar de acordo com a Halácha, lei judaica, assenta numa única alínea: "deverá ser feito por judeus." A explicação baseia-se em que "antigamente, e ainda hoje, faz-se vinho nezer – aquele que é exclusivamente concebido para rituais religiosos da Igreja. E esse é proibido, porque é dedicado a um sacrifício." O vinho que está imune do carácter religioso, chamado ‘stam inam’, o rabino adianta que, igualmente, esse precisa de judeus "desde a apanha da uva até ser engarrafado", pelo facto de subsistir a probabilidade de serem adidos emulsionantes proibidos pelo código judaico.
O vinho foi rotulado de Ben Rosh. Mas só por mero acaso é que a família do homenageado ficou a saber da existência do vinho. É o caso de Isabel Ferreira Lopes e de Mário Barros Bastos, netos de Ben Rosh. Apesar disso, esperam que seja o princípio do fim da injustiça de que foi vítima.
Conta o rabino da Comunidade Israelita de Lisboa, Boaz Pash, que, durante o II Templo (400 anos a.C.), "as mulheres mais justas de Jerusalém davam aos condenados à morte um cálice de vinho forte. A finalidade era aliviar a agonia do réu com o estonteamento do álcool. E, também, em tempos remotos, no regresso de um funeral, a Hebrá Kadisha – uma confraria que tem como principal propósito dar assistência espiritual aos doentes e moribundos, e de executar o dever religioso de enterrar os mortos – consolava os enlutados com uma taça de vinho. Esta analogia com o decesso, foi abolida do judaísmo: "A expressão Le Haim – para a vida – traduz a sólida afinidade entre a alegria e o ‘Yain’, vinho em hebraico, vocábulo que, feitas as contas numéricas, apresenta o valor 70, "o que na perspectiva cabalista pode revelar o segredo de uma pessoa."
Considerado pela Cabala (mística judaica) como o ‘sangue da natureza’ e chamado, pela Bíblia, de “sangue das uvas", o vinho está em todas as cerimónias religiosas judaicas. Do Shabat à bênção de agradecimento da comida, das solenidades, à oração que simboliza a entrada da semana, o vinho está sempre presente. Mas é em Purim, festa das ‘sortes’ (semelhante ao Carnaval pagão) que as máscaras e a euforia que tudo muda. Num dos tratados do talmud (livro do estudo oral) está escrito, revela o rabi: "devemos beber vinho a ponto de ser impossível distinguir a diferença entre o Mordechai e Haman". E quem são eles? O rabino afiança que o primeiro "era bom, tio daquela que foi a rainha Ester". O outro, ministro do imperador Ahashverosh (séc. 5 a.C.) da antiga Pérsia, "era mau, mais do que as cobras. Quis exterminar todos os judeus que viviam no império." E para isso, fez um sorteio para saber em que dia esfregaria as mãos de contentamento. Calhou a 14 de Adar (mês hebraico equivalente a Fevereiro-Março). Mas o feitiço virou-se contra o feiticeiro, e Haman, o mau da fita, acabou com o pescoço na forca, exactamente nessa data. A provável bebedeira que advém desta diferenciação é explicada: "dessa forma não sabemos quem era o bom e quem era o mau. É para esquecer a maldade." Esta festa realiza-se uma vez por ano. Claro. Não haveria fígados.
Cada celebridade abarca um simbolismo na eleição do tipo de vinho. Aos Sábados, é o tinto, "porque a cor vermelha representa a força." Na Páscoa (Pessach): durante a leitura da Hagadah (relato da saída dos judeus do Egipto) os 4 copos obrigatórios personificam "os 4 níveis de redenção, enquanto esperamos pelo 5º, que só chegará com a vinda do Messias", deverão ser do mesmo carácter: "é para lembrar o sangue dos nossos antepassados, quando éramos escravos." Os 4 copos não são bebidos de qualquer maneira, o corpo tende para o lado esquerdo enquanto se bebe, porque era o lado pelo qual as pessoas livres ingeriam. Nos casamentos a tradição é a vinho branco, numa alusão à pureza, "para que a ligação do casal seja tranquila. O branco simboliza a placidez." Nas festividades a selecção incide somente na qualidade. O vinho, na religião judaica, liga-se à mística, ele próprio tem uma certa mística. O rabino diz que "a certa altura da santificação (Kidush) é possível ver a nossa imagem.", já que, quando a pessoa que conduz a oração inclina o rosto ligeiramente em direcção do copo, o vinho se transforma num espelho. "Na verdade, esse vulto reflectido é a nossa forma espiritual." Boaz defende que “a importância do vinho não se reduz a um potencial que põe os seres humanos mais alegres...", com ele fazem-se orações e bênçãos. A exigência primordial para um vinho estar de acordo com a Halácha, lei judaica, assenta numa única alínea: "deverá ser feito por judeus." A explicação baseia-se em que "antigamente, e ainda hoje, faz-se vinho nezer – aquele que é exclusivamente concebido para rituais religiosos da Igreja. E esse é proibido, porque é dedicado a um sacrifício." O vinho que está imune do carácter religioso, chamado ‘stam inam’, o rabino adianta que, igualmente, esse precisa de judeus "desde a apanha da uva até ser engarrafado", pelo facto de subsistir a probabilidade de serem adidos emulsionantes proibidos pelo código judaico.
O resultado é único.