quinta-feira, 22 de abril de 2010

Prémios L’Oréal - UNESCO: Mulheres da Ciência em evidência



O Mundo necessita da Ciência e a Ciência necessita das Mulheres. A expressão serve de mote a um dos mais importantes prémios atribuídos a mulheres cientistas pela L’Oréal e a UNESCO.
Mais uma vez 5 mulheres cientistas, uma de cada continente, são galardoadas com Prémios L’Oréal-UNESCO para as Mulheres na Ciência. A 12ª cerimónia dos prémios L’Oréal-UNESCO For Women in Science acaba de distinguir, na sede da UNESCO, 5 cientistas excepcionais. As 5 premiadas, uma de cada região do mundo, foram galardoadas tanto pela qualidade da sua pesquisa como pela força do seu compromisso para com a ciência. O prestigiado júri, presidido por Günter Blobel, Nobel da Medicina em 1999, distinguiu 5 mulheres cientistas que estão a ajudar, através das suas pesquisas, a enfrentar os grandes desafios do futuro.
Ásia e Pacífico - Lourdes Cruz é bióloga no Instituto de Ciências Marinhas, da Universidade das Filipinas e reconhecida mundialmente pelos trabalhos em toxinologia marinha. Desde o inicio da carreira que se dedicou ao estudo de uma espécie de caracol do mar, do género Conus, que possui um veneno composto por toxinas que actuam ao nível dos nervos e músculos. A cientista foi pioneira a isolar e caracterizar os primeiros péptidos do Conus, o que levou ao desenvolvimento de conotoxinas em todo o mundo como ferramentas essenciais para a investigação do sistema nervoso. Hoje, estes péptidos estão na base de medicamentos para tratar a dor e doenças neurológicas. «Isto fornece agora ferramentas que podem ser usadas para estudar os mecanismos de acção do cérebro e acção dos músculos. Isto encontra aplicações em ferramentas para estudos em neurociências, também ferramentas de diagnóstico como, por exemplo, no carcinoma de pequenas células. Até agora foram desenvolvidas drogas para alterações neurológicas», explica Lourdes Cruz, Laureada da Região da Ásia/Pacífico.
África e Médio Oriente - Rashika El Ridi é Professora de Imunologia da Universidade do Cairo. Tem-se vindo a dedicar ao estudo da esquistossomose ou bilharzia, uma doença que tem origem num parasita que no corpo humano provoca uma reacção descontrolada do sistema imunitário. Com este estudo sobre o parasita, a cientista abriu o caminho para o desenvolvimento de uma vacina. «Desenvolver uma vacina significa usar parte do parasita para vacinar o hospedeiro, o humano, quando ele é muito jovem para que o sistema imunitário fique preparado para lidar com este parasita e o elimine por completo. Para que a infecção nunca aconteça no seu corpo e a transmissão seja eliminada. Se formos bem sucedidos, pode nunca ouvir falar da bilharzia em 10 anos», afirma Rashika El Ridi, Laureada da Região África e Estados Árabes.
Europa - A galardoada Anne Dejean-Assémat é Directora do Laboratório de Organização Nuclear e Oncogenese do INSERM, em Paris, mas é pelo contributo que tem vindo a dar para os avanços na genética molecular do cancro humano que é agora premiada. A cientista tem-se dedicado ao estudo dos mecanismos que levam uma célula humana normal a tornar-se cancerígena. Anne identificou que um receptor específico no núcleo das células, o receptor ácido retinóico, em doentes com leucemia promielocitica apresenta uma estrutura diferente quando comparada com a estrutura em células saudáveis. Este estudo tem permitido uma melhor compreensão sobre a origem desta leucemia nos humanos e levou a novas pistas para o uso do ácido retinóico como terapêutica para este tipo de leucemia. A cientista descobriu que a alteração na estrutura do receptor deste ácido também se verifica nas células cancerígenas do fígado e que o vírus da hepatite B pode estar na causa desta mutação. Anne continua a dedicar-se ao estudo deste importante receptor do ácido retinóico, assim como, a acção que vários medicamentos podem ter na alteração da sua estrutura.
América Latina - Alexandra Bravo é bióloga na Universidade Nacional Autónoma do México. Reconhecida internacionalmente pelo trabalho desenvolvido na compreensão da acção da proteína Bacillus thuringiensis ou BT, utilizada como bio-insecticida. Mas após uma utilização generalizada nas plantações, os insectos ganharam resistência à BT e as plantações foram novamente atacadas. Alexandra Bravo determinou então os mecanismos que permitem à toxina BT matar os insectos e, com base nesse conhecimento, desenvolveu uma proteína BT modificada à qual os insectos não são resistentes. «O nosso trabalho permitiu propor uma estratégia que é fazer uma modificação muito pequena na proteína. Os insectos, que agora são resistentes, podem ser mortos com a mesma proteína. Desta maneira, ultrapassamos a resistência. O problema da resistência deixa de existir, nós acabámos que ele. No futuro, para os insectos resistentes que existam em todo o lado, já teremos uma alternativa que é utilizar as toxinas modificadas para poder controlar os insectos resistentes», afirma Alejandra Bravo, Laureada da Região da América Latina.
América do Norte - Elaine Fuchs é bióloga na Universidade de Rockfeller, em Nova Iorque, e tem-se dedicado ao estudo da pele e das doenças dermatológicas genéticas. Esta cientista caracterizou as primeiras queratinas, as maiores proteínas estruturais da pele e, com isso, identificou uma serie de doenças dermatológicas com origem em mutações genéticas nas queratinas. Mais recentemente, Elaine fez grandes avanços científicos na área das células estaminais da pele. Uma mulher que fez da ciência a aventura da sua própria vida. «O meu conselho para as jovens mulheres progredirem na careira é: sigam a vossa paixão, prossigam a vossa paixão, definam aquilo que realmente vos empolga. Quais as questões que são realmente interessantes para vocês, que são realmente importantes. E sigam esse objectivo de tentar ver se encontram as respostas. Não conduzam a vossa ciência de uma forma que vos faça sentir confortável. Sintam-se desconfortáveis. Desafiem-se», aconselha Elaine Fuchs, Laureada da Região da América do Norte.
Através do programa internacional “For Women in Science”, a L’Oréal e a UNESCO procuram distinguir mulheres que, através da sua pesquisa, estão a ajudar a mudar o mundo. Estas cientistas consagradas abraçam desafios globais desde a saúde ao ambiente, representando os alicerces do futuro.
Recentemente, as professoras Elizabeth Blackburn e Ada Yonath, ambas galardoadas em 2008 pelos Prémios L’Oréal-UNESCO For Women in Science, receberam o Prémio Nobel da Medicina e da Química, respectivamente. Este reconhecimento da excelência científica destas mulheres por uma instituição tão prestigiante constitui um incentivo para o futuro da parceria Fundação L’Oréal e da UNESCO na prossecução dos seus objectivos.Ao longo dos últimos 12 anos, o programa “For Women in Science” distinguiu 62 cientistas consagradas e 864 jovens bolseiras, tendo-se tornado numa referência internacional da excelência científica e uma fonte inestimável de motivação e inspiração para as mulheres cientistas.
Refira-se que este programa internacional tem servido de inspiração a dezenas de iniciativas locais, sendo que a L’Oréal Portugal, a Comissão Nacional da UNESCO e a Fundação para a Ciência e a Tecnologia realizam, desde 2004, as ‘Medalhas de Honra L’Oréal Portugal para as Mulheres na Ciência”, tendo distinguido cerca de 20 jovens doutoradas que realizam pesquisas relevantes no campo das ciências da vida, no nosso país.