quinta-feira, 15 de abril de 2010

A estupidez dos vencedores - Parte II

O Japão, o "país dos milagres", percebe, desde 1992, os "limites do crescimento", do mesmo modo que o Ocidente. Apesar de o governo japonês lançar um programa de emergência e de estímulo, de forma sucessiva e ininterrupta, os setores centrais da economia continuavam na mais absoluta calmaria, ao mesmo tempo que diminuiam as exportações e a produção industrial. No começo de 1995, o desemprego alcançara já o nível mais alto dos últimos 42 anos, com apenas perto de metade dos licenciados recém-formados a encontrar um emprego. Ainda hoje existem favelas, nas cidades maiores do Brasil, e insiste em crescer o número dos sem-abrigo (no Japão, chamam-lhes "homens-caixa", por causa das suas caixas de papelão). A expansão japonesa, como se antevia, chegava ao fim, porque neste meio tempo perdera a sua força, o seu "efeito da base", historicamente apenas mobilizável durante pouco tempo. É uma lógica elementar que uma base, tanto absoluta quanto relativamente baixa, no "momento de partida ", de uma expansão económica, possibilite inicialmente altas taxas de crescimento, que vão, depois, decrescendo rapidamente, porque aumenta exponencialmente o custo dos investimentos, enquanto diminuem relativamente os resultados.
Um crescimento ilimitado, tal como o reclama a lei do capitalismo, é praticamente impossível. Por isso, é um absurdo que, hoje em dia, alguns otimistas profissionais, adeptos da economia de mercado, calculem até para o século XXI as taxas de crescimento dos "pequenos tigres" do sudeste da Ásia, que na primeira metade dos anos 90 encontravam-se entre 6,1% (Taiwan) e 9,0% (Singapura). Também a União Soviética, nos anos 30, e o Brasil, nos anos 70, tiveram o seu crescimento, o que, como é sabido, não foi em nenhum destes dois casos uma garantia para um êxito duradouro. De fato, o volume absoluto do crescimento asiático atual é muito pequeno para poder puxar, como locomotiva, a economia global de mercado estagnada. Em 1994, a produção automobilística total da Coreia do Sul, aumentada em 13%, em comparação ao ano anterior, perfazia, com suas 2,3 milhões de unidades, apenas dois terços da produção da Volkswagen (3,3 milhões de unidades), um único grupo de empresas automobilísticas da Europa. Os "newcomers" asiáticos vão até alcançar muito mais rápido do que o Japão os limites do "efeito da base", porque a intensidade de capital das estruturas competitivas está muito mais alta em meados dos anos 90 do que estava em meados dos anos 70. A ascensão asiática baseia-se, sobretudo, em uma destruição desconsiderada do meio ambiente e na sobrecarga da infra-estrutura esgotada. Na opinião do Banco Asiático de Desenvolvimento, o milagre econômico do Extremo Oriente desmoronará se ninguém cuidar das deficiências gigantescas da infra-estrutura. Mas isto exigiria, somente nos próximos cinco anos, um investimento de mais de US$ 1.000 bilhões, uma quantia que excede em muito a capacidade de rendimento da industrialização para a exportação até agora realizada. Em Taiwan, já secaram 70% das reservas de água, e a "água potável" está começando a arruinar até as máquinas; mas um saneamento dos danos causados ao meio ambiente custaria o quíntuplo das reservas em divisas de Taiwan. O mesmo se aplica aos horríveis discípulos exemplares do neoliberalismo na América Latina. Os sucessos tão elogiados do México, do Chile e da Argentina, possuem muito menos substância do que a ascensão na Ásia. No início de 1995, o milagre económico mexicano esvaiu-se em fumaça. Como também em outros países latino-americanos, um câmbio artificialmente elevado, em relação ao dólar, havia criado a impressão de estabilidade. A redução do déficit público e da inflação somente foi possível pelo preço de um déficit na balança de importação e exportação de bens e serviços, com o qual se atiçou o fogo de palha de um boom de consumo. Quando já não podia ser garantida a conversibilidade em dólares da massa crescente de tesobonds (obrigações do tesouro estatais indexadas em dólares), pela saída de reservas monetárias, o castelo de cartas desmoronou. Em poucas semanas, a produção entrou no vermelho, centenas de milhares de empregos deixaram de existir, e voltou a inflação supostamente superada.
Além de poder repetir-se por outra parte o fracasso mexicano, os êxitos de exportação dos três tigres de papel latinoamericanos não são de qualidade asiática. No México, existem apenas "indústrias de montagem" norte-americanas e japonesas, sem base industrial própria. A Argentina está saneando seu orçamento público, desbaratando o filé mignon das empresas estatais e deixando morrer de fome seus aposentados. Mas a que fim conduz uma política deste tipo? Como recompensa, entra capital estrangeiro, que, no entanto, serve mais para fins especulativos do que para investimentos reais na indústria. O Chile nem conseguiu montar uma indústria leve de produtos acabados com capacidade de exportação duradoura, como a Coréia do Sul nos anos 70, porque sua indústria têxtil e de couro encontra-se em crise devido à forte concorrência internacional. A exportação não vive de carros, televisores em cores e microchips ou software, senão que continua dependendo em alto grau, apesar da diversificação, da mineração de cobre. Os verdadeiros êxitos da exportação, que pressupõem todos eles uma exploração exaustiva das reservas naturais, reduzem-se a matérias-primas agrárias, madeira e celulose, frutas, farinha de peixe e frutos do mar.