Ofereço-vos "A demiurgia do riso" (Natália Correia)
E cada vez que celebrei o Deus Riso floresceu em mim um novo invento.
Cortaram-me os pulsos. Eram feitos de ar.
Correram-me as veias como linhas rectas.
E nenhuma espada pôde atravessar O ímpeto aéreo das águas secretas.
Partiram-me ao meio dizendo "é agora!" Depois atiraram metade para a lua.
E eu no luar com um braço de fora Erguendo o meu resto caído na rua.
Se havia uma estátua ela era o tamanho De quanta poeira à passagem erguia.
E eu numa nuvem a ver o desenho E a cor duma mágoa que não me tingia.
E os anjos à volta como círios tesos A desenrolar o seu tédio antigo.
E eu desfraldada nos cumes acesos: Bandeira de tudo o que trago comigo.
(de Passaporte (1958), Natália Correia)
E cada vez que celebrei o Deus Riso floresceu em mim um novo invento.
Cortaram-me os pulsos. Eram feitos de ar.
Correram-me as veias como linhas rectas.
E nenhuma espada pôde atravessar O ímpeto aéreo das águas secretas.
Partiram-me ao meio dizendo "é agora!" Depois atiraram metade para a lua.
E eu no luar com um braço de fora Erguendo o meu resto caído na rua.
Se havia uma estátua ela era o tamanho De quanta poeira à passagem erguia.
E eu numa nuvem a ver o desenho E a cor duma mágoa que não me tingia.
E os anjos à volta como círios tesos A desenrolar o seu tédio antigo.
E eu desfraldada nos cumes acesos: Bandeira de tudo o que trago comigo.
(de Passaporte (1958), Natália Correia)