José António Leitão Ribeiro Santos contava 26 anos de idade quando foi morto, a tiro, por um esbirro da PIDE, durante um "meeting" contra a guerra colonial, no ISE (actual ISEG). Estava um fulano a tirar apontamentos dos cartazes, e, suspeitando-se que era um PIDE, apanhou um correctivo dos estudantes. A Direcção da AE do ISE, conotada com o PCP, foi chamar a PIDE para confirmar se o tal indivíduo pertencia ou não aos seus quadros. Com a chegada da PIDE, houve confrontos, de que resultou a morte de Ribeiro Santos e o ferimento de José Lamego (com um tiro numa perna), então também ligado ao MRPP e à FEML e hoje militante do PS, o qual ficou internado no Hospital de Santa Maria, sob prisão, rumando, após alta médica, para o forte de Caxias. A Direcção da AE do ISE, liderada por um tal Pedro Aranda, não está isenta de culpas na morte daquele estudante.
O funeral de Ribeiro Santos foi uma jornada histórica contra a ditadura, tendo a PIDE impedido os estudantes de conduzirem aos ombros o seu camarada ao cemitério da Ajuda. Houve cenas de pancadaria no trajecto do funeral, desde a casa do jovem vítima da polícia política, em Santos, até ao cemitério e dentro deste, registando-se inúmeras prisões. Por todo o País, estudantes levantaram-se em luta, denunciando aquele crime do regime e das suas forças repressivas. O tiro que tirou a vida a Ribeiro Santos foi mais um tiro no pé do próprio regime. O PIDE que o assassinou fugiu de Alcoentre em 1975, tendo desaparecido, nunca sendo julgado pelo crime cobarde que cometeu.
Ribeiro Santos tem a sua foto na frente do Plenário 1 da Faculdade de Direito de Lisboa e constitui ainda hoje um forte exemplo de coragem e determinação para os que ali estudaram e viveram ali uma parte dos melhores dias da sua juventude. Numa escola de Legalidade, a Liberdade não pode ser esquecida. Direito deve ser um curso vocacionado para a Democracia e para a defesa dos homens democratas. Incomoda-me saber que a Faculdade nada tenha feito para punir o assassínio de um dos seus pupilos. Este crime cobarde cujo autor ficou sempre impune, mesmo após o 25 de Abril de 1974 (!), e é certo que representou um dos últimos estertores do regime fascista que, não obstante todo o seu arsenal repressivo, nunca mais recuperou do profundo abalo que então viria a sofrer. Na verdade, no próprio dia do assassinato (uma 5ª feira), no dia seguinte e sobretudo no dia do funeral (Sábado), em que a PIDE e a polícia de choque, à força de bastonada, arrancaram a urna dos braços dos camaradas, colegas e amigos de Ribeiro Santos para tentar levá-la à surrelfa para o cemitério da Ajuda, toda a cidade de Lisboa foi sacudida por contínuas manifestações de revolta contra aquele crime hediondo. Um dos meus amigos recorda-se de, logo a seguir ao almoço, ter apanhado a carreira de autocarros nr. 27 (Apeadeiro do Areeiro- Cemitério da Ajuda), e que passava pelo Largo de Santos, onde Ribeiro Santos morava com os pais e de onde estava previsto que partiria o funeral. O autocarro, que começou a sua viagem quase vazio, foi-se enchendo gradualmente durante o percurso, de homens, que se viam seus pais, de mulheres, que se viam suas mães, de jovens, que se viam seus irmãos, e que trocavam olhares cúmplices entre si, como se soubessem “ao que iam”. Apesar das ameaças propagandeadas desde a antevéspera pelo Governo e de todo o aparato repressivo e policial distribuído pela cidade, com maior incidência no Largo de Santos e no Cemitério da Ajuda, dezenas de milhares de cidadãos acorreram ao apelo da luta pela Liberdade e pela Democracia, enfrentando horas a fio as sucessivas cargas da polícia de choque, os tiros, os ataques com cães. Tornaram assim clara a sua firme disposição de acabar com um regime de ditadura e tirania que ao invés do que precisamente alguns oportunistas e derrotistas sempre pregavam não era invencível e que tinha afinal os dias contados.
Ribeiro Santos era jovem de uma firmeza inquebrantável na defesa dos princípios. Não lhe terá servido de consolo que o regime que o assassinou tenha caído ano e meio depois.
O funeral de Ribeiro Santos foi uma jornada histórica contra a ditadura, tendo a PIDE impedido os estudantes de conduzirem aos ombros o seu camarada ao cemitério da Ajuda. Houve cenas de pancadaria no trajecto do funeral, desde a casa do jovem vítima da polícia política, em Santos, até ao cemitério e dentro deste, registando-se inúmeras prisões. Por todo o País, estudantes levantaram-se em luta, denunciando aquele crime do regime e das suas forças repressivas. O tiro que tirou a vida a Ribeiro Santos foi mais um tiro no pé do próprio regime. O PIDE que o assassinou fugiu de Alcoentre em 1975, tendo desaparecido, nunca sendo julgado pelo crime cobarde que cometeu.
Ribeiro Santos tem a sua foto na frente do Plenário 1 da Faculdade de Direito de Lisboa e constitui ainda hoje um forte exemplo de coragem e determinação para os que ali estudaram e viveram ali uma parte dos melhores dias da sua juventude. Numa escola de Legalidade, a Liberdade não pode ser esquecida. Direito deve ser um curso vocacionado para a Democracia e para a defesa dos homens democratas. Incomoda-me saber que a Faculdade nada tenha feito para punir o assassínio de um dos seus pupilos. Este crime cobarde cujo autor ficou sempre impune, mesmo após o 25 de Abril de 1974 (!), e é certo que representou um dos últimos estertores do regime fascista que, não obstante todo o seu arsenal repressivo, nunca mais recuperou do profundo abalo que então viria a sofrer. Na verdade, no próprio dia do assassinato (uma 5ª feira), no dia seguinte e sobretudo no dia do funeral (Sábado), em que a PIDE e a polícia de choque, à força de bastonada, arrancaram a urna dos braços dos camaradas, colegas e amigos de Ribeiro Santos para tentar levá-la à surrelfa para o cemitério da Ajuda, toda a cidade de Lisboa foi sacudida por contínuas manifestações de revolta contra aquele crime hediondo. Um dos meus amigos recorda-se de, logo a seguir ao almoço, ter apanhado a carreira de autocarros nr. 27 (Apeadeiro do Areeiro- Cemitério da Ajuda), e que passava pelo Largo de Santos, onde Ribeiro Santos morava com os pais e de onde estava previsto que partiria o funeral. O autocarro, que começou a sua viagem quase vazio, foi-se enchendo gradualmente durante o percurso, de homens, que se viam seus pais, de mulheres, que se viam suas mães, de jovens, que se viam seus irmãos, e que trocavam olhares cúmplices entre si, como se soubessem “ao que iam”. Apesar das ameaças propagandeadas desde a antevéspera pelo Governo e de todo o aparato repressivo e policial distribuído pela cidade, com maior incidência no Largo de Santos e no Cemitério da Ajuda, dezenas de milhares de cidadãos acorreram ao apelo da luta pela Liberdade e pela Democracia, enfrentando horas a fio as sucessivas cargas da polícia de choque, os tiros, os ataques com cães. Tornaram assim clara a sua firme disposição de acabar com um regime de ditadura e tirania que ao invés do que precisamente alguns oportunistas e derrotistas sempre pregavam não era invencível e que tinha afinal os dias contados.
Ribeiro Santos era jovem de uma firmeza inquebrantável na defesa dos princípios. Não lhe terá servido de consolo que o regime que o assassinou tenha caído ano e meio depois.
Em tempo de recordar Abril, os jovens, e talvez mais os estudantes de Direito, deveriam lembrar-se que, se, durante a sua vida profissional constatarão que Justiça nem sempre coincide com Direito, é desejável que, pelo contrário, nas suas vidas pessoais, se erguam como paladinos da Liberdade, porque a sua específica formação a isso recomenda e isso impõe.
Sempre tive ideias de esquerda e sempre tentei defender a Justiça. Orgulho-me de ter uma filha com ideias mais à direita e que igualmente o faz. Talvez uma das coisas que lhe tenha deixado de herança cultural tenha sido a força dessa visão diária dos corredores da Faculdade de Direito. Talvez, ainda que imperceptivelmente, 5 anos de passagem por aquela casa, lhe tenha ensinado, como me ensinou a mim, que a aprendizagem das Leis é mais do que decorar articulados, é compreender que o Direito Natural nos obriga a ser incorruptíveis na defesa dos nossos valores e princípios. Esta é uma responsabilidade que nós, como pais, temos: deixar em testamento esse magnífico património que é a história e o exemplo de homens corajosos, como este estudante de Direito, que o eram numa altura em que viver como democrata podia custar a própria vida. Preservar essa memória colectiva impõe que os avós e os pais que tiveram sob os seus olhos a imagem daquele Justo erguam a voz num só grito“Honra a Ribeiro Santos!”.”