domingo, 11 de abril de 2010

Tejo: Uma Causa para além de Lisboa

A Escola Profissional Almirante Reis e a Associação dos Amigos do Tejo associaram-se para defender o Tejo. A última uniu-se à Tajo Sostenible num projecto de candidatura transnacional do rio a património mundial, reconhecido pela Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura (Unesco). O Joffre Justino mantém-se hirte ao leme das causas que valhem a pena e decidiu despertar o sentido estético e o direito de cidadania aos jovens alunos, sensibilizando-os para a importância do Tejo enquanto património natural e histórico e enquanto elemento de mudança da própria sociedade. Na conferência de Fev., o biólogo António Antunes Dias (ex-director de parques naturais), o historiador e museólogo António Nabais, o almirante José Bastos Saldanha (presidente da direcção da Marinha do Tejo) e o presidente da Associação Amigos do Tejo, Carlos Salgado, trouxeram-nos ricos contributos a partir das suas perspectivas sobre a valia do Tejo. O Tejo é um rio cheio de argumentos, concluiu-se. A demonstrá-lo Manuel Lima, que apresentou o Tejo como rio extraordinariamente rico em termos naturais e patrimoniais, na convicção de que este tem todas as condições para se candidatar a património mundial. A ideia de apresentar à Unesco uma candidatura do rio Tejo a património mundial partiu da Associação dos Amigos do Tejo e da associação espanhola Tajo Sostenible. ML, autor de vários livros sobre o Tejo, o seu estuário, fauna e flora, afirmou que o rio tem uma mão cheia de argumentos a seu favor. "É o maior rio da Península Ibérica, com cerca de 1070 quilómetros, é o maior estuário da Europa Ocidental e um dos dez maiores do mundo, e é riquíssimo em termos de património natural e cultural", enumerou. O biólogo afirmou ainda que estão "muitas espécies em vias de extinção, sobretudo no médio e alto Tejo, como a cegonha preta, o abutre negro, ou a águia imperial ibérica". ML considera que é aqui, na Baía do Seixal, que se situa uma das maiores riquezas ornitológicas do rio. "Passam por aqui sobretudo aves migratórias, que no Inverno chegam a números próximos dos 100 mil, como o alfaiate, que é símbolo da Reserva Natural do Estuário do Tejo, mas também pilritos, rolas-do-mar, pernas-vermelhas, pernas-verdes, pernas-longas, muitas espécies de patos". "Isto é um santuário para as aves, mesmo em termos internacionais. No caso do alfaiate, por exemplo, 60% dos indivíduos da espécie a nível mundial encontra-se aqui no Inverno", acrescentou. Embora reconheça que "este Tejo ainda não é aquele que todos desejam ter", o professor garante que "se percebe que tudo está, de alguma forma, a melhorar": "A evolução em termos de diminuição da poluição e de aumento da consciência ambiental é muito significativa", afirmou. "A maior parte das autarquias ribeirinhas portuguesas, que são 28, bem como as espanholas, estão preocupados com a transformação do rio, depois da forte pressão das grandes indústrias que se instalaram à sua beira no século passado", acrescentou. ML lembrou que "o surgimento de novas espécies no estuário" é a prova de que "o rio está no caminho certo para poder ser classificado como património mundial": "Ultimamente apareceram aqui colhereiros, muitos flamingos, gansos do Nilo... aves muito raras. E algumas espécies voltaram, como a corvina, o cherne, o choco". Para o biólogo, a candidatura do Tejo a património mundial teve a vantagem de sensibilizar e motivar a sociedade, as empresas e os governantes para a importância de respeitar o rio, preservá-lo e promovê-lo. "Ainda não perdi a esperança de ver os golfinhos de volta ao Tejo". Nem nós, meu caro, nem nós!