Não perca a intervenção parlamentar de Maria Aparecida Campos Straus. A deputada do Estado do Rio de Janeiro, conhecida por Cidinha Campos, mantém-se firme na luta quixotesca contra a corrupção da classe política. Ainda no dia 24 de Março de 2010 fez furor e enfureceu os parlamentares ao falar efusiva e frontalmente sobre o carácter corrupto dos deputados da Assembleia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro, incidindo no deputado José Nader que se candidatou ao Tribunal de Contas do Estado. São elucidativas as palavras do seu discurso inflamado e politicamente incorrecto da deputada que fala "sem papas na língua": "(...) eu gosto de falar de quem mama, não das crianças que tem direito, mas dos marmanjos, dos safados, sem vergonhas, cafajestes, que infestam a politica nacional, infestam esta casa." "(...) vejo aqui nesta casa, o cinismo dos ladrões (...)" " (....) como é quê isso? um feudo do tribunal de contas ou é um pasto?" "a corrupção nesse país tá no DNA, não tá mais aqui, na justiça, no Ministério Público, está no DNA das pessoas, elas riem, elas brincam, eu vejo todo o mundo gargalhando, neste plenário. Quanto mais ladrão, mais querido, mais simpático." "(...) isso aqui não é uma casa de santos, mas também não se pode transformar numa casa de canalhas consagrados (...)."
O silêncio que se instalou à medida que a flama oratória denunciava os ladrões e os corruptos foi sintomático.
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Cidinha Campos é nossa irmã. Irmã de todos os cidadãos portugueses que se insurgem contra a podridão palaciana. A provar que os homens podem estar fisicamente separados pelo Oceano, mas manter-se unidos nas causas. O sentido de Justiça, como diz o Joshua, está nos genes da lucidez e nos hematomas da alma. Vociferamos a mesma linguagem, mas numa introspecção reflexiva sem vermos alguém a dar-se ao luxo de dar o mesmo espectáculo catártico, seja pela impossibilidade logística e dissimilitude de papéis entre o lado de lá e o lado de cá, seja porque, há muito, que nos desapaixonámos da matéria. O viço da juventude não resiste às pauladas que a vida nos deu quando tocámos, muito superficialmente e ao de leve, a mão de um corrupto. As carreiras públicas ensinam que, quanto mais alto é o cargo mais alta é a tarifa, e pouco mais. Daí que, quando se falou dos subornos do Face Oculta, tudo nos merecesse uma gargalhad. A maioria dos portugueses deve estar muito desconhecedor dos preços praticados no mercado da corrupção, que, como outro mercado qualquer, tem uma hierarquia de poderes a que corresponde metricamente uma hierarquia de valores a "cobrar". Cá, como lá, vivemos numa época depauperada de valores humanos, e vamos continuando a sentirmo-nos impotentes perante esta guerra. São hábitos adquiridos por quem só vai e só está na política com os olhos fixados num mesmo propósito, e não falo do interesse público. Más políticas geram e alimentam maus políticos. Cá, a corja corrupta passa igualmente incólume a todas as denúncias e processos, enchendo os bolsos de amigos, famílias e comparsas, num exercício que, nalguns casos, já dura gerações. O amiguismo influencia determinantemente as atitudes e as posições dos políticos, administrativos e afins, silenciando as legítimas hostilidades que se levantam à sua volta. Lá, Cidinha Campos, que é minha irmã, ao menos desafoga e assume a voz de milhões. Imagina-se possível deixar as Cidinhas (não me refiro àquela, claro!) chegar à política? A um lugar em São Bento? Portugal perdeu a autodefesa possível quando deixou que os políticos se apoderassem da máquina do Estado e a tornassem outra máquina do partido. E o mal, ao contrário do que nos querem fazer crer, vem de há décadas. Uma Cidinha clonada e multiplicada aqui em Portugal? A mera hipótese provoca-nos um sorriso amarelo, e o sonho dura apenas uns breves minutos, os necessários para nos tirar a boca de misérias. "Não haver quem flagele, como ela, olhos nos olhos, esses Flagelos em Forma de Gente, sempre à tona-esterco, na sua graveolência, como se não fosse nada com eles." (vd. joshuaquim7.blogspot.com)