terça-feira, 6 de abril de 2010

Pio XII e o regime nazi: um erro da História?


Philip Yancey, em “Alma Sobrevivente”, denuncia alguns dos aspectos mais tenebrosos da história da Igreja. Erwin Lutzer, em “A Cruz de Hitler”, dá-nos uma panorâmica histórica muito pertinente do que foi a conivência de alguns sectores da igreja alemã protestante e católica durante o regime nazi, apontando alguns aspectos a considerar. A confirmar que a História difere dos olhos que a vêm, Gary Krupp, há seis anos que se dedica a reunir materiais que refutem as acusações de que Pio XII é alvo. Para este judeu americano, o Papa Pacelli "foi o maior herói da II Guerra Mundial". Nem sempre o viu assim. Começou por ver em Pio XII uma figura detestável por não ter ajudado os judeus durante a II GM. Hoje, é um dos seus maiores defensores. Sendo uma destacada figura da comunidade judaica entende que Eugenio Pacelli, futuro Pio XII, trabalhou de forma activa, ainda que discretamente, para salvar muitos judeus perseguidos pelo regime nazi. No final dos anos 90, Krupp convenceu empresas de materiais médicos a doarem cerca de € 9 milhões em equipamentos para um hospital fundado nos anos 50 em Itália pelo célebre padre Pio. O Papa João Paulo II distinguiu-o em 2000 com o grau de cavaleiro da Pontifícia Ordem de São Gregório Magno, raramente concedida a não católicos. Krupp foi o 7º judeu a recebê-la. Como o próprio contou, sentiu que esta distinção lhe abria caminho para servir de ponte entre judeus e católicos, tendo mediado um diferendo entre o Governo israelita e Teófilos III, patriarca ortodoxo grego de Jerusalém, em 2005, e conseguido que o Vaticano cedesse documentos judaicos raros a Israel. Krupp publicou "Pope Pius XII and World War II - The Documented Truth" e tem disponibilizado inúmeros documentos sobre a actuação de Pacelli no período em causa através do sítio da fundação que criou para o diálogo inter-religioso, Pave the Way Foundation (PWF). Para alguns académicos, a documentação divulgada pela PWF não ilumina todas as dúvidas sobre a actuação de Pio XII, insistindo na consulta dos arquivos do Vaticano sobre o período. A Santa Sé não se opõe, mas afirma que só será possível após 2014, quando estiverem organizados os relativos ao período da II Guerra Mundial. Se até lá muitos suspendem o seu julgamento, Krupp não tem dúvidas: Pacelli "foi o maior herói da II Guerra Mundial. Salvou mais judeus do que Roosevelt, Churchill e os outros líderes religiosos em conjunto. Não devíamos permitir que ele se tornasse um foco de divisão entre católicos e judeus". Perspectiva partilhada pelo professor de história americana e judaica, o rabi, David G. Dilan, que defende ter Pio XII salvo "quase 85% dos judeus" que viviam em Itália. Para Dalin, é importante ter presente que "muitos judeus famosos - Albert Einstein, Golda Meir, Moshe Sharett [2.º chefe do Governo de Israel], Isaac Herzog [principal rabi dos judeus asquenazes entre 1937 e 1959] e outros expressaram publicamente a gratidão a Pio XII". Em Dez.2009, Bento XVI proclamou Pacelli "venerável", passo que antecede o da beatificação. Para esta suceder, deve comprovar-se que, através da intercessão de Pio XII, houve um milagre. O essencial para Krupp não são os temas teológicos ou a santidade de Pio XII, mas a verdade dos factos. Para ele, é importante a divulgação dos arquivos secretos do Vaticano, mas defende que "existe informação disponível e ninguém parece interessado em consultá-la". Krupp considera que os historiadores "erraram deste modo" na análise à actuação de Pio XII, e viu isso como "uma falha moral". Para combater esses estereótipos, Krupp criou a PWF em 2002, com o objectivo de aprofundar o diálogo entre judeus e cristãos. Nos últimos 6 anos, Krupp dedicou-se a reunir materiais que neguem o "assassínio de carácter" de que Pio XII estaria a ser alvo. Uma iniciativa de "desinformação", segundo o rabi Eric J. Greenberg; um "trabalho amador" para Deborah Dwork, professora de História do Holocausto na Universidade de Clark, Massachusetts; uma "investigação duvidosa" para o reverendo John T. Pawlikowski, professor de Teologia Católica, em Chicago. Para este, os gestos de Pacelli "foram discretos e relativamente menores". A maioria dos académicos reconhece que Pio XII, bispo na Baviera, desde 1917, e embaixador do Vaticano em Berlim até final dos anos 20, foi dos primeiros a entender o alcance da perseguição aos judeus, embora critiquem que Pacelli nunca o ter dito publicamente. "Pode não ter dito muito, mas fez muito", argumenta Krupp. Por isso, o seu combate continua.