Martin Gilbert, biógrafo oficial de Churchill, explora um aspecto fascinante da vida e obra de um grande líder. Corria o ano de 1921, e numa viagem a Jerusalém, Churchill fica impressionado com a vida comunitária dos judeus, a sua energia, espírito de entre-ajuda e determinação, e sente-se atraído pelas suas aspirações nacionalistas. Sente afinidade pela sua luta pela sobrevivência. Essa afinidade acabou por se manifestar na sua actuação política nas mais variadas formas, rejeitando o preconceito anti-semita e apoiando as aspirações do povo judaico, como cidadãos ingleses activos na vida política nacional e como defensores e actores na criação do Estado de Israel.
Num documento publicado pela "Liberty", intitulado "Como os judeus podem combater a perseguição", esquecido durante mais de 60 anos nos arquivos da Universidade de Cambridge, e que o historiador Hon Winston encontrou, enquanto preparava uma nova biografia sobre o líder", Churchill (1874-1965) três anos antes de assumir o cargo de primeiro-ministro, este faz uma defesa do povo judeu e convoca os cidadãos britânicos a defendê-lo da perseguição "cruel", "implacável" e "vingativa" da qual era vítima. O artigo começa com uma referência sobre a perseguição sofrida pelos judeus durante os séculos e faz alusão à onda de anti-semitismo atravessada pela Europa e Estados Unidos na época."Seria fácil atribuí-la à maldade dos perseguidores, mas isso não pode ser aplicado a todos os fatos", diz o documento, que destaca que em lugares como o Reino Unido ou os EUA os judeus têm os mesmos direitos dos outros cidadãos. Churchill acrescentou que nesses países os adeptos do judaísmo encontraram não só asilo, mas também oportunidades."Esses fatos devem ser reconhecidos em qualquer análise sobre o anti-semitismo. Essas colocações deveriam ser consideradas principalmente pelos próprios judeus", aponta. "Porque pode ser que estimulem a perseguição, fazendo com que sejam em parte responsáveis pelo antagonismo que sofrem", acrescenta. Para Churchill, a distinção entre o judeu e o não judeu é que o primeiro confirma, a todo o momento, a sua singularidade."Parece diferente. Pensa diferente. Tem uma tradição e um passado diferente. Se nega a ser absorvido". O artigo mostra a simpatia de Churchill com o povo judeu e a clara desaprovação do ex-primeiro-ministro com a sua perseguição."O judeu é um bom cidadão", afirma, descrevendo que o seguidor da crença como uma pessoa "formal", "trabalhadora" e que se identifica com o país onde vive. "Está preparado para, se for necessário, lutar e morrer por seu país", acrescenta. O ex-chefe do governo britânico lembra que soldados judeus serviram em ambos os lados na Primeira Guerra Mundial (1914-1918) e que "centenas de milhares morreram pela Alemanha". E convoca o povo britânico a defender os judeus, "que sofrem perseguições tão cruéis, tão implacáveis e tão vingativas como nenhuma outra na longa história mundial", escreve. "Não há virtude na passividade. Protestar contra a crueldade e contra o que está errado, e esforçar-se para pôr um fim a isso é o que caracteriza um homem. Além disso, quando a vítima da opressão é um irmão de sangue e fé, socorrê-lo transforma-se num dever sagrado", afirma.