A comparação dos ataques ao Papa pelos escândalos de pedofilia com o antissemitismo do pregador da Casa Papal Raniero Cantalamessa no sermão da liturgia da Sexta-Feira da Paixão, é de "mau gosto e inapropriada", afirmou o rabino de Roma Riccardo Di Segni, considerando a comparação "especialmente inoportuna, já que nenhuma pessoa da comunidade judaica interveio até agora nos escândalos de pedofilia da Igreja". Na Alemanha, os judeus também manifestaram contrariedade. Para o secretário-geral do Conselho Central dos Judeus do país, a comparação é um "insulto". "É uma impertinência e um insulto para as vítimas dos abusos sexuais, assim como para as vítimas da Shoah", declarou Stephan Kramer. Os dados mais actuais das vítimas do Holocausto apontam para os seguintes números de mortes: 17 milhões de soviéticos (9,5 milhões civis); 6 milhões de judeus; 5,5 milhões de alemães (3 milhões de civis); 4 milhões de poloneses (3 milhões de civis); 2 milhões de chineses; 1,6 milhão de iugoslavos; 1,5 milhão de japoneses; 535 000 (330 000 civis) de franceses; 450 000 (150 000 civis) de italianos; 396 000 de ingleses, e 292 000 soldados norte-americanos. Para "sobreviver" a Igreja aceitou a sincronização com o regime nazi, alinhando com os objetivos nazistas. As Igrejas Protestante e Católica Romana juntaram-se à ascensão do nazismo ao poder como uma tentativa de manter o controle das respectivas instituições e os direitos de seus membros de adorar livre e abertamente. A Igreja Católica na Alemanha era controlada pelo Vaticano, sob a liderança do Papa Pio XI e assinou uma Concordata com o Reich Alemão 15 dias depois da ascensão de Hitler ao poder (Jan/1933), que garantia à Igreja os direitos tradicionais para cultivar e promover a prática do rito católico, manter escolas católicas e nomear o clero católico. Daí que a comparação seja, no mínimo, uma falta de diplomacia e de inteligência política, a confirmar as vozes desarrazoadas de representantes da Igreja que se abalroam em desculpas esfarrapadas para desculpar o indesculpável. Estas afirmações, em particular, levaram a que o arcebispo de Bruxelas, André Léonard, tivesse criticado, hoje, o «silêncio cúmplice» da Igreja Católica nos casos de abuso sexual de menores por padres, nha omilia de Páscoa. «Durante décadas, a Igreja e outras instituições lidaram mal com o problema da pedofilia no seu seio, apesar de haver todas as razões evangélicas para velar pelo respeito pela dignidade dessas crianças», afirmou. «Através de um silêncio cúmplice, preferimos muitas vezes a reputação de alguns homens da Igreja à honra dessas crianças abusadas. Pela força da verdade, temos de restituir a dignidade àqueles que foram abominavelmente explorados», acrescentou.
«A recente carta de Bento XVI aos católicos da Irlanda é exemplar nessa matéria», considerou o arcebispo.
«A recente carta de Bento XVI aos católicos da Irlanda é exemplar nessa matéria», considerou o arcebispo.
Valha-nos a esperança de que as vozes, por enquanto minoritárias, dos representantes da Igreja que, mais do que se limitarem a pedir desculpas e a exorcizar as suas más práticas internas, se façam ouvir de modo a que, pelo menos, o Vaticano se passe ao respeito de silenciar as vozes maioritárias que continuam a disfarçar o "ligeiro" incómodo que os crimes recentes de pedofília provocam no seu seio. Desculpas não chegam quando nos entregamos nas mãos de um representante da Igreja, confundindo, ingenuamente, este estatuto com o de representante de Deus, quando llhes entregamos os nosso filhos para que nos ajudem na sua educação, quando os queremos ao nosso lado, do batismo à extrema unção. Se os homens não podem confiar neles os seus corpos a que pretexto se espera que lhes entreguemos as almas?