O penúltimo bispo emérito de Aveiro, D. António Marcelino (até 2006) já se preocupava com o ascendente maçónico sobre o PS. Desconhece-se se o emérito bispo descobriu, no entretanto e até hoje, alguma relação causa/efeito entre as políticas de um Governo laico, republicano e presumivelmente socialista e a sua suposta orientação maçónica. Se descobriu, convidámo-lo a partilhar com todos os Maçons tal descoberta. Elucidaria o cidadão comum e os "outros" que não são socialistas, alguns nem são mesmo republicanos. Se não sabia nada, convidámo-lo a - como se fosse um aprendiz - que faça voto (e não falo da Opus Dei) ao silêncio. Direito de todo o maçon aprendiz, que V.Exa. devia invocar, poupando-se a estes bitates e bizarrices, que o colocaram abaixo de qualquer cidadão minimente curioso e informado. V.Exa. devia saber (e devia ter passado, por sucessão, esse conhecimento ao seu sucessor), que, se, no Grande Oriente Lusitano, há socialistas, também há sociais democratas, independentes e gente que não está nem quer estar relacionada com política. Por lá populam muitos nomes conhecidos do PSD e ... monárquicos, até. Fará uma grande confusão a V.Exas., mas talvez seja recomendável que o compreenda, que entre pertencer à Maçonaria e ao PS só pode haver uma simples e fortuita coincidência. Há homens que, por acaso, aderiram a ambas as estruturas, mas que as diferenciam quando estão ora numa ora noutra. A Maçonaria é uma associação iniciática. Os partidos são associações partidárias. O PS não anda “publicamente de mãos dadas com a Maçonaria”, nem “a Maçonaria portuguesa está a aparecer, de novo, com algum espírito de ‘Carbonária’, como o senhor afirmou e como os seus sucessores afirmam. Primeiro, nenhum partido pode afirmar que tem do seu lado a Maçonaria, porque esta não lhes confere tal direito nem o faz na prática, e, seguramente, muito menos ao seu serviço. O indíviduo não se confunde com o grupo e vice-versa. Talvez o seu sucessor tenha ouvido falar naquela, que julgará uma tremenda aleivosia, de nos dissermos homens livres, o que será difícil de compreender para quem está dentro de uma forte estrutura eclesiástica, sobretudo se o vosso plano de relatividade for o da Opus Dei. Será sempre impensável a alguém com as minhas raízes (laica, republicana e, dizem alguns, pasme-se, carbonária) aceitar que uma atitude me seja imposta subtraindo a minha liberdade individual. Porém, fiqum V.Exa sabendo que sou um soldado desse exército que tanto parece incomodar a classe clerical, o que perçebo dado que é um exército de livres pensadores. E, se algumas Obediências e Jurisdições, exigem que se acredite no Deus-Cristão - o que deve suscitar a Vossas Excelências um grande pasmo (arrepie-se ainda mais com a existência de padres maçons aqui e até no Vaticano, que não respeitam a bula “In Eminenti”, do Papa Clemente XII (1738)) - outras em nada interferem com a crença religiosa ou o tipo de crença ou não-crença dos seus filiados. Não questiono a formação deste percursor nem dos seus sucessores e pupilos, mas é sabido que a formação dos padres é mais que suficiente para que possamos acreditar que venham a terreiro gritar "Aqui D’EL Rei! Que já não há Monarquia", e que desde a implantação da República, segundo diz fomentada pela Maçonaria com “O apoio que então deu à Carbonaria, motor organizado da queda da Monarquia, e a identificação conseguida com a jovem República, inspirando ou fazendo seus os ditos ‘valores republicanos’, deram-lhe impulso para dominar”, o que só posso atribuir à má fé já que, por certo, não será á ignorância. A verdade histórica e o conhecimento público dos factos aconselham a V.Exas. que façam um rewind de forma a “corrigir” a história, pelo seu ponto de vista, até ao tempo antes da República em que a opinião da Igreja Católica se impunha ao voto do povo (aquele que podia votar…) e à sua vontade (porque não tinha o direito de a ter). E, então, quando V.Exas afirmam que “a democracia não é um fim, nem pode servir de meio para que o poder, qualquer que ele seja, se aproveite dos postos de comando para empobrecer e dominar um povo livre”, no que têm toda a razão, julgo que estarão, porventura, a esquecer-se dos tempos antes da República maçónica/ carbonária - como os Senhores a classificam - em que, nesse tempo sim, o povo era muito mais dominado, oprimido e empobrecido que hoje; e, o único instrumento de que dispôs para tentar corrigir esta situação foi exactamente a revolução republicana. Os senhores bispos que, em ano de comemoração da República, tanto têm vindo a fazer alarido com a questão das maleitas da República, desconhecerão uma das regras elementares de funcionamento da democracia – a separação Estado/religião – quando afirmam que o “laicismo redutor” corresponde ao “programa ‘político’ actualizado do partido socialista”. Mas recuso-me a acreditar que o digam por ignorância. Afirmarem que, da democracia apenas “restará um povo decapitado” fruto de uma “estratégia táctica (preconizada pela Maçonaria) de servir e de se servir de um poder sem ideologia”, vai mais longe do que a decência humana recomenda. Se não sou agnóstica fico com pena de não o ser, porque, se o fosse, dava graças a Deus por assim ser. Para poderes com ideologia bastaram 48 anos de ditadura, aqui! Se mais dúvidas tiverem, Senhores, perguntem aos povos dos ex-países do bloco comunista o que pensam dos poderes com ideologia ou daqueles em que a ideologia é a religião – Irão, Arábia Saudita, Iémen, entre outros. Por essa já passámos há muito, aqui na Europa. Tenho muita pena que os senhores bispos persistam na ideia peregrina com que falou, pela primeira vez Dom António Marcelino, e tenho ainda maior pena que persistam em nada dizer da Opus Dei e a sua ascendência sobre políticos e governantes em Portugal. Seria esclarecedor, e as conclusões sobre quem influencia quem, e o quê, muito mais surpreendentes. Podemos dar, pois, por adquirido que, para os dignos representantes da Igreja que atacam a República (no ano em que esta não visa ser um motivo de separação mas sim de agregação dos cidadãos deste País), é essa associação secreta (a Maçonaria) - que esteve na sua base - a grande responsável por tudo o que de bem e de mal faça o Governo. Esquecerão que, nos outros governos, também esteve representada (às vezes com mais discrição do que os representantes da elite da sua Igreja: a Opus Dei). O que talvez queiram mesmo dizer é que, deposta a Monarquia, bem ou mal quem sempre governou foi a República. O que para a "sua" Igreja é imperdoável (lembrados ainda da Lei de Separação do Estado e da Igreja desse republicano e maçon do Afonso Costa?) e até inconveniente! Como pôde o "seu" Deus permitir tal apropriação do poder civil? Mas, culpadas são mesmo a República e essa insígnia Carbonária! Subentende-se assim, que existem organizações semi-secretas boas e más. A Opus Dei, a boa. A maçonaria, a má. Certo, certo é que "As laicas – e se republicanas – então são do piorio!". Aos seus olhos, claro!