domingo, 4 de abril de 2010

O Prémio IGUALDADE É QUALIDADE: Uma iniciativa feliz para superar estereótipos infelizes!


A Ana Bela Pereira da Silva, Presidente da Associação Portuguesa de Mulheres Empresárias, insiste em afirmar que ainda há discriminação sexual no mundo empresarial. Na semana de 08 a 13 de Março de 2010 comemorou-se a Semana da Igualdade de Género, inserida no plano de actividades do projecto Laboratório de Género promovido pela ONG (Coolabora) que conta com o apoio da CIG (Comissão para a Cidadania e Igualdade de Género), no âmbito do POPH. Constatou-se que a ABPS sabe do que fala e que sente o que diz. Foi possível concluir que, embora o pós-estruturalismo desafie a questionar a origem dos preconceitos, os mesmos vão continuando a impôr-se, às vezes de forma mais inconsciente do que pensa.“Porque as mulheres directoras são masculinas? Porque os homens mais delicados, que lêem poesia, são femininos?”. Tal como uma silhueta pode parecer ser um homem ou uma mulher, também as características atribuídas a cada um dos géneros podem ser encontradas no outro. O dia-a-dia de uma mulher profissional obriga a que se insista na nossa identidade de género. Muitas escolhas profissionais estão associadas à interiorização dos estereótipos sociais. O género “é uma categoria socialmente definida, através da qual compreendemos o mundo social” e essa categorização começa logo na infância. Os papéis sociais são assumidos pelas pessoas conforme estas interiorizaram os estereótipos de género. Por isso há mais tendência para as mulheres serem domésticas ou educadoras e os homens serem, por exemplo, provedores de alimentos. É tradicionalmente expectável, já que as crianças são incitadas a assumirem comportamento da categoria social a que pertencem e que elas imitam as condutas das pessoas que lhes são mais significativas. Assim vão-se formando e reforçando os estereótipos de género que atribuem às mulheres profissões ligadas aos serviços para terceiros e aos homens trabalhos com objectos e ao ar livre, por exemplo. Os estereótipos de género têm que ver com aparência, características psicológicas, papéis no domínio familiar e profissional. Todos temos estereótipos de género e agimos de acordo com eles mais ou menos conscientemente. Mas há, definitivamente, estereótipos e preconceitos que cada vez menos se coadunam com os propósitos de sustentabilidade integrada e global. E urge combatê-los.
A reafirmar que a Ana Bela tem razão, ainda no mês passado, a ONU fez um apelo ao mundo empresarial um esforço maior para eliminar os obstáculos que ainda dificultam a ascensão da mulher no ambiente corporativo e impedem o aproveitamento de todo o seu potencial, com o secretário-geral das Nações Unidas, Ban Ki-moon, a sublinhar que a igualdade de gênero não é apenas um “assunto de direitos humanos”, mas também “um imperativo econômico e social”.
A provar, ainda, que a Ana Bela tem razão veja-se a iniciativa de atribuir um Prémio às Empresas e Entidades com Políticas Exemplares na área da Igualdade entre Mulheres e Homens, sob a égide MUDAR DE PARADIGMA NA CULTURA EMPRESARIAL (Elza Pais, Secretária de Estado da Igualdade), que assume o Prémio IGUALDADE É QUALIDADE como uma forma de galardoar as empresas que se distinguem pela implementação de políticas de excelência na promoção da igualdade de género, num contributo à promoção e disseminação de iniciativas inovadoras de responsabilidade social e ética empresarial que concorram para um mundo laboral mais justo e mais equitativo, através de medidas concretas de protecção das mulheres e dos homens no exercício da maternidade e paternidade e na promoção de uma melhor articulação entre a vida pessoal, familiar e profissional. Colmatando as desvantagens das mulheres nas condições de participação no mercado de trabalho, nomeadamente no que se refere à sua presença em lugares de chefia ou decisão na área económica, e promovendo as condições de participação dos homens na esfera familiar. O Prémio servirá de motor de inovação para o reforço da competitividade e do desenvolvimento sustentável. É o desafio da modernidade: promover uma nova cultura empresarial, onde as responsabilidades familiares e profissionais sejam partilhadas por homens e mulheres, e construir uma cultura de cidadania alicerçada numa maior igualdade de direitos e de oportunidades para as pessoas universalmente consideradas, sem dependência do seu género.
A Ana Bela é uma amiga querida e uma mulher admirável. Não conheço a Elza Pais, mas só pode ser uma mulher de valia para a causa. Não a causa do feminismo, mas a da igualdade de género. Aproveitei um dos jantares/debate da Academia de Estudos Laicos e Republicanos, para explicar que a defesa dos direitos da mulher faz-se hoje entre as várias raças de mulheres, já que as mulheres não-brancas se confrontam com um problema que não assiste às de raça banca: o sexismo racial. Fala-se hoje de womanismo. Mas se tiverem problemas em assumir a nova terminologia que a modernidade impõe, falem de feminismo. Não me ofendo. Digo-vos que "Le féminisme n'a jamais tué personne - le machisme tue tous les jours". [Benoîte Groult]