O caso de um padre que abusou sexualmente de crianças foi protegido pelo cardeal norte-americano Willian Levada, actualmente prefeito da Congregação para a Doutrina da Fé - um protector de um predador sexual a liderar um movimento de fé? A ocupar um lugar (dicastério do Vaticano) que era ocupado por Joseph Ratzinger, actual papa Bento XVI? É irrelevante? Não será, senão doentio, pelo menos, sintomático? Levada foi responsável na década de 1990 pelo encobrimento - desculpem, percebi bem? - e pela transferência do padre - Então conhecia casos de abuso sexual ocorridos em 70 e em 90 anuiu à "transferência" do padre? Mas a pedofilia, pelo menos ao que nos querem fazer crer, não são "realmente" um fenómeno recente? Não avisou os fiéis da comunidade para que o padre foi transferido dos "problemas" e "pecados" "passados" do padre? Compreende-se porquê. Mas se até já na sociedade civil, a lei proíbe que os pedofilos voltem a exercer funções junto das comunidades-alvo das suas "especiais" atenções (um educador de infância, um sociólogo, um médico, um psicólogo, que pratique um destes crimes, não pode exercer funções em que contacte com menores, por exemplo), de que espera a Igreja (ou porque espera?) para afastar estes padres do contacto com as comunidades? Não há lugares sentados à secretária, arquivos, bibliotecas e funções administrativas no Vaticano? Por acaso até há, e dada a riqueza e proporção do seu património, muita! Os abusos, segundo um testemunho prestado pelo próprio cardeal, «remontam há 20 anos». E daí? A ressociabilização é controlada por agentes próprios no Vaticano? Conhecendo a Igreja, como tem a obrigação de conhecer, o homem e as suas tentações, põe as mãos no lume pela sua não reincidência? «Os terapeutas afirmaram que ele não representará mais um perigo para ninguém e que seria mais prudente dar-lhe um novo lugar, que isso ajudaria a retomar o trabalho em condições que lhe garantissem o mínimo de stress», justificou o cardeal. Quais terapeutas? Os do Vaticano, presume-se. Que tipo de medicamentação ou a que privação é aquele padre sujeito? Porque se a Igreja descobriu a cura milagrosa para esta questão fisionómica e psicológica que tantos problemas dá às polícias, aos médicos e aos homens de lei, em todos o mundo, era de interesse que a revelasse. Sim, porque se os padres também são acometidos de tais ímpetos, como outros homens sem a sua tão elevada preparação académica e humanista, como pode a Igreja tirar a conclusão de que são mais "fáceis" de se recuperar e ressocialibilizar? Se o mero risco potencial não chega para afastar os padres criminosos do seio dos seus alvos "por excelência", colocando-os em funções de perfil burocrático, fechados no casulo dos edifícios da sua propriedade, - embora preferíssemos que os banissem da Igreja, seria mais pedagógico, didáctico, e mais seguro para os civis - há que apelar ao carácter dissuador dos custos que as eventuais recaídas possam vir a representar nos cofres do Vaticano. Estas transferências e renomeações, na eventualidade de reincidência, podem vir a saír muito caras à Igreja, pela circunstância agravante que a reincidência terá, em termos indemnizatórios. O erário do Vaticano arrisca-se por causas de padres criminosos? São estas as causas da Igreja? É a isto que se destinam as contribuições de todos os cristãos? Ao pagamento de indemnizações às vítimas dos criminosos que insistem em manter em funções normais? Estes padres têm, afinal, algo de "normal"? Ou isto é "normal"? Mesmo que seja um velho problema jamais será um problema normal. Não seria desejável gastar esse dinheiro na vocação humanitária da Igreja? Ajudando a superar as "reais" necessidades com que o mundo se depara? Levada assumiu não ter avisado os fiéis de que o padre em causa tinha mantido práticas sexuais com adolescentes na década de 1970 - o caso piora! O encobrimento é da década de 90 e os "pecados" da década de 70. Repete-se: mas então não somos levados a acreditar naqueloutra versão de que se trata de um "escândalo" recente (escândalo porque "só" vieram a público os "pecados"? ou efectivamente se cometeram os "pecados"?). «Tomei a decisão que julguei a mais avisada, dando todos os detalhes ao padre responsável pela paróquia (...) e exigindo-lhe que supervisionasse o seu comportamento, reunindo-me com ele uma vez por semana», explicou Levada, referindo que o aviso da população «poderia ter um impacto e dificultar a missão» do padre. Mas era isso mesmo que se pretendia! Era, não somente "dificultar", mas impedir de todo. Qual é a "missão" do padre? Vitimizar mais crianças e famílias? Oferecer a Deus mais uns "pecados"? Cumprir mais penitências? Ser obrigado a confessar-se após cada mão cheia de crimes? - um a um deve ser muito penoso e seria trabalho para muito volume - O confessionário serve de terapia a estes padres? Pois saiba-se que a causa-efeito pode ter sido mal calculada! A sonegação dessa "pequena" e "irrelevante" informação pode ter cumprido o seu fim: não "dificultar" a missão do padre, mas, em contrapartida, pode tê-la tornado muito "espinhosa" para alguns jovens da comunidade. Para a Igreja, este potencial risco não basta? É assim tão de somenos? Caiam-lhes os processos e mexam-lhe os cofres para pagar indemnizações a sério às vítimas (até porque o Estado do Vaticano não está em falência, pelo contrário, está, como esteve sempre, em franca prosperidade!, a contrapor às quantias ajustadas e "acordadas" com as famílias, insignificantes e "simbólicas"), e começarão a entender a "dimensão" dos "pecados" que têm cometido. Já que, pelo coração e pela dimensão ética, a Igreja teima em não se persuadir, talvez a dimensão financeira que os casos venham a atingir, a faça consciencializar. Parece ser a metodologia mais explícita e mais dissuadora para dar esperança à comunidade civil de que a Igreja será instigada a tomar medidas eficazes para pôr um travão, de preferência um ponto final, ao nível de tragédia que os "pecados" atingiram! Já hoje, o decano dos cardeais, Angelo Sodano, disse que toda a Igreja está com o Papa Bento XVI e que os fiéis não se impressionam com «murmúrios», nem com os "mexericos do momento". O cardeal recordou as palavras de Bento XVI na quinta-feira santa, citando São Pedro: «Jesus, insultado, não respondeu aos insultos.» Concluindo, tudo ao nível dos "murmúrios" e "mexericos". Não passam de "insultos"! "A conclusão a que eu cheguei é esta: sem haver objetivos de ocultação (...) houve bispos - que eu tenho que respeitar - que perante determinados crimes olharam para o filho pródigo, que era o sacerdote, e puseram-no em roda livre: «Vais para aqui, para este caso não ser conhecido». Entretanto, não é só ocultar: «Eu espero que tu te convertas», disse, sobre a questão, D. Januário Torgal Ferreira. Ou as vozes como a sua começam a levantar-se ou parece que a Santa Igreja se prepara para a sua própria extrema-unção, e, in extremis, corre o risco de ouvir algum ateu a dar-lhe a sentença final: Quem não quer ser lobo, não lhe vista a pele!