quarta-feira, 7 de abril de 2010

O desespero de um professor afeiçoado

“Não consigo viver neste sofrimento, não suporto ouvir falar de escola. Não vou conseguir dar mais aulas.”, foram as palavras que José António Fernandes Martins escreveu à mulher antes de se suicidar. Era professor de Matemática e Ciências da Natureza na Escola EB 2,3 de Vouzela e pôs termo à vida no início do presente ano lectivo. Um professor experiente, dedicado à profissão que escolheu (o que só fez por vocação, visto que não se conhece outro aliciante para esta opção). Era estimado e respeitado pelos alunos, por funcionários e pelos colegas. Com 19 anos de exercício docente, foi um vórtice dramático de desespero que interrompeu a sua carreira, para trás ficaram as múltiplas funções de professor, director de turma, delegado de disciplina, coordenador de departamento e coordenador de projectos. Quem o conheceu diz que era um lutador denodado em prol duma escola cujo perfil em nada coincidia com aquela em que foram protagonizados os seus últimos momentos de sofrimento. Revelou-se quixotesco e acabou devorado por esta luta inglória. Morreu numa espiral de sofrimento anónimo, que apenas foi conhecida, pós-morte, quando lhe invadiram a privacidade do seu computador. Referindo-se à anterior ministra, Maria de Lurdes Rodrigues, José António escreveu durante o prolongado processo do assédio moral que o vitimou: “Não consigo mais continuar a ser um bom professor. Esta ministra conseguiu secar tudo o que havia de bom na profissão docente". (Santana Castilho no Público (31 de Março)) Um caso que dá que pensar!