domingo, 4 de abril de 2010

A Maçonaria e o marquês de Pombal

Estava-se perto do ano da Graça de 1727. A perseguição a que a M. esteve sujeita, desde a promulgação da bula condenatória do papa Clemente XII (1738), não perturbou aqueles períodos de relativa paz e tolerância durante o séc. XVIII e começos do XIX. Desses períodos, o mais dilatado ocorreu durante o governo do marquês de Pombal (1750-77). Chegara às hostes do poder uma nova corrente. Reinava D. José I (1850 -1877) quando Sebastião Carvalho e Melo foi feito ministro plenipotenciário na corte de Viena. Julga-se iniciado em 1744 numa L:. em Londres pelo G:.M:. Frederico de Gales, e assistira repetidas vezes às reuniões da L:. "Para os três canhões" em Viena. Pisavam solo português muitos outros maçons, nacionais e estrangeiros (vindos da Europa e da América). Criam-se L:. por todo o país e a M. expande-se para as ilhas adjacentes da Madeira e dos Açores. Ainda não estruturada como Obediência, começa a ser conhecida, interna e externamente e a fazer sentir o seu poder, constituindo-se, para muitos, como grupo de pressão e de interferência política. Na ilha da Madeira, a influência maçónica levou a perseguições, sendo os principais dirigentes presos e enviados para Lisboa, onde foram interrogados e, depois colocados em liberdade, dada a tolerância e simpatia do governo de marquês de Pombal. Simpatia e tolerância patentes no novo regimento dado à Inquisição portuguesa, em 1774, onde se omitia da lista dos crimes, o ser-se maçon. Ficavam postas de parte as condenações impostas pelas bulas papais. Protege a M. da proibição decretada no ano de 1751 pelo Papa Benedito XIV. Na década de 1760 a 1770, graças ao seu apoio, a M. cresce junto do Exército, da aristocracia e da burguesia. O conde Frederico de Schaumburg-Lippe foi contratado pelo Marquês para coordenar e instruir as tropas portuguesas e foi um dos responsáveis pela implantação da M. no Exército português. A praça do Rossio e a do Comércio têm a sua «assinatura». O Terreiro do Paço recria O Templo: o Cais das Colunas - a entrada, com as colunas Jakin e Boaz (ou Jerusalém e Belém); o Arco da Rua Augusta - a sua continuidade. Por cima do Arco, o triângulo. Foi o homem feito monumento.
Deve-se à M. portuguesa a iniciativa da construção do monumento em Lisboa ao Marquês de Pombal. A representação simbólica é escassa, na arquitectura e nas esculturas. Apenas um dos autores do projecto fazia parte da M.: o arquitecto Adães Bermudes, iniciado em 1898, na loja "Fiat Lux", do Porto, com o nome de "Afonso Domingues". Nas artes plásticas, pertenciam à M., o arquitecto Rosendo Carvalheira, os escultores Teixeira Lopes e João da Silva, os pintores Veloso Salgado e Luciano Freitas. Nenhum dos colaboradores de Adães Bermudes no monumento a Pombal, o arquitecto António Couto e os escultores Francisco Santos, Simões de Ameida (sobrinho) e Leopoldo de Almeida, eram da M., e, à excepção do último (no ínicio da carreira), todos eram artistas com inúmeros trabalhos relativos à obra política e cultural da I República. Erecto no seu pedestal de glória que as águas elevam ao fastígio do monumento, o Marquês de Pombal procurava sacudir do letargo secular a alma forte da nação - o leão levanta-se e ruge e esmaga a reacção teocrática e a reacção feudal que a subjugaram. Do seu posto, o reformador dirige e domina a obra de transformação mental, económica e social, influxo da sua clarividência, do seu saber e da sua energia. Traça a dinâmica da nação e exausta e a nova rota da sua evolução histórica: «O Trabalho» que nos resgataria da escravidão económica e daria vida ao Império; e o «Estado» a que devia redimir-se a mentalidade da nação dos preconceitos, fanatismos e ignomínios, a ignorância que a sequestravam à civilização. Deixa o projecto antever a sua figura de genial estadista, de reformador audacioso, de emancipador da consciência e vontade nacionais, de percursor da moderna civilização. Inicia-se a representação da obra colossal, evocando a reconstrução de Lisboa que ressurge do cataclismo do terramoto e da invasão do mar em 1755. Rematam a exibição da obra, a representação da Universidade de Coimbra que o estadista transformou e modernizou, arrancando-a à influência jesuítica e colocando-a sob os auspícios da ciência. Insurgem-se e renovam-se. Jazem e ressuscitam as alegorias: o ciclo da actividade nacional, o desenvolvimento da agricultura, do comércio e da indústria, em glorificação do «Trabalho»: o ideal novo e fecundo que substituíu o ideal religioso e aventureiro. De um lado está a faina agrícola. Do outro ficam a indústria e o tráfego comercial. À frente, vai a nave que sai do cais de Lisboa, levando na prôa o escudo das quinas. Os troféus militares que encimam as bases do fuste simbolizam o exército renovado. É sob o manto protector da Defesa que se desenvolvem livres e seguras as forças vitais da nação e onde se constrói o templo da ciência, embrionário das futuras classes dirigentes que estudam as bases científicas e progressivas que valorizam o trabalho. Morre D. José. O consulado de Pombal chegou ao fim. Rasgo de um humor superior teve o Marquês ao saber que o medalhão que estava na estátua equestre a D. José tinha sido retirado - mal subira ao trono D. Maria II: «Ainda bem; o retrato não se parecia nada comigo...». O decreto que determinou que a imagem em bronze do Marquês fosse reposta, rezava no seu preâmbulo: "Que o Marquês de Pombal fora o português que mais honrou a sua nação no século passado."
Avizinhavam-se tempos difíceis, impunha-se a resistência (1777-1800).