sexta-feira, 9 de abril de 2010

Maçonaria, Clemente XII e a Bula In Eminenti

Blog A Maçonaria em Portugal. Um artigo interessante sobre a Bula “In Eminenti”. Quando se pergunta sobre o que levou a Igreja Católica a excomungar maçons vem à baila a bula assinada pelo Papa Clemente XII (1738). Primeiro, releva entender que o Cardeal Néri Corsini, sobrinho, assessor e braço direito de Clemente XII "orientava" literalmente a mão do Papa (doente, acamado, com artrose (“gota”), uma érnia, com as vísceras ligadas, cego). O Papa tinha conhecimento do teor dos documentos que assinava pela versão do Cardeal, e, estando de acordo, era este que "orientava" a mão do Papa para a respectiva assinatura. Entender porque é que a Bula condena os que frequentam Ordens Iniciáticas Secretas (incluindo a Maçonaria) à excomunhão depende da História, dos fatos e de quem a narra.
Alguns fatos. A Igreja Romana preocupava-se com a acção do oficial inglês, Barão Stosch, pelo seu perfil de revolucionário e apregoador dos ideais de liberdade. Entendia a IR que a difusão desses ideais colocavam em risco o poder da Igreja. Dizia-se que era um “Liberi Muratori” (Free-Mason - Franco-Maçom), membro de uma Loja Maçónica de Florença. A IR sabia que a Ordem continha um “grande segredo” que não podia ser revelado. A maioria das Lojas Maçónicas Européias do séc XVII e XVIII foram fundadas por ingleses, irlandeses escoceses, de várias áreas profissionais. Todas tinham adeptos considerados hereges pela IR. A figura do Barão Stosch não era tão unanimemente grata na maçonaria florentina, mas conhecia-se o seu poder, era amigo de Sua Majestade o Rei da Inglaterra, e, por isso, ninguém propunha a sua saída da Ordem e de Florença e, apesar da Igreja pressionar o Grão-Duque da Toscana para a sua expulsão, o próprio demorou a executar a ordem, por temer retaliações e problemas por parte do Rei da Inglaterra. Os membros do clero que assessoravam o Papa tinham-no sob mira, tal como tinham a maçonaria de algumas cidades Italianas, (Florença, Veneza, Pisa) e preparava, contra ambos, uma “punição”. Mas a causa deixou de ser pessoal e circunscrita a um território quando atingiu a confessada “universalidade” da Maçonaria. O Vaticano acabou por estender o âmbito subjectivo de aplicação da dita Bula a toda a instituição européia continental. Desde o Século XVII, que a alta cúpula do Papado de Roma se preocupava com os movimentos e dinâmica desta nova sociedade que surgira com força em quase todos os países da Europa. Chamava-se Franco-Maçonaria sobretudo pelo conteúdo do Juramento que era prestado pelos homens que nela entravam. Vinha do final do séc. XVII, o conhecimento deste juramento iniciático. O incómodo provinha de os iniciados se submeterem a uma morte “horrível” e “cruel” se revelassem o seu segredo. Que era o de ter o P.'. cortado e a cabeça A.'. e seu C.'. Ent.'. nas areias do mar, onde o F.'. e R.'. das ondas o mantivesse em P.'. Esquecimento. Este "segredo" era interpretado como atrito a teorias conspiratórias contra o poder da Igreja no continente Europeu. Foi este o argumento da Igreja para trazer como aliados Reis de alguns Países europeus. O conteúdo do o Juramento aparece em documentos do Vaticano espalhados por toda a Europa, e estão guardados em Arquivos ou Bibliotecas Nacionais e no Arquivo Secreto do Vaticano. O jornal londrino “The Flying Post”, a 11, 12 e 13 de Abril de 1723, publicava o artigo "a masons examination”, com a menção expressa do juramento do Aprendiz, aquando da sua Iniciação. Quando o Vaticano, pela mão dos assessores do Papa Clemente XII, resolve tomar uma medida punitiva contra os membros de algumas L:. da Itália, estende-a a toda a Ordem existente na Europa católica, esquecendo que a Maçonaria era eminentemente Cristã, na Inglaterra, Escócia e Irlanda (não católica, mas cristã). Quando os inquisidores, em Portugal e Espanha, foram atrás dos seus membros para os proibir de se reunirem sob pena da excomunhão, perceberam que todas as Lojas encerraram as suas actividades quando souberam da Bula Papal. Os Maçons cumprem o que juram, respeitam as Leis, os Poderes Constituídos e a soberania dos Reis, e, naquela época, uma ordem Papal era Lei. Ninguém fora da Ordem sabia que o juramento “terrível” se restringia-se apenas à divulgação dos toques, sinais e palavras que permitem aos Obreiros de todo o Mundo, reconhecerem-se entre si. Herança das antigas guildas de pedreiros livres.
O segredo ou a demanda sobre o que contém esconde indagações. Uma pergunta é vista como uma intromissão. A liberdade, valor pelo qual os maçons, ao longo da História, viveram e pelo qual morreram, reside no reconhecimento do direito de cada homem, maçon ou não, salvaguardar a sua privacidade, quando ameaçada pela possibilidade de o Poder instituído perscrutar a vida de cada um. A devassa legalizada é condenável, porque procura legitimação nas prerrogativas do poder. A devassa acompanha a tirania do status quo. A melhor resposta, entre iguais, é a não-resposta. A que põe fim às perguntas. Quando quem pergunta assume uma relação de predominância face ao inquirido, as únicas respostas aceitáveis para o inquiridor são as que vão ao encontro do que pretende ouvir. Em ditadura, a Verdade é a Verdade Instituída e Aceite. As informações, em tempos de prepotência, servem um único propósito: a de acumular saberes e conhecimentos que o Poder usará, quando, como e contra quem quiser. Por regra, são armazenadas para serem utilizadas numa situação conveniente ao Poder. Concomitante ou posteriormente. Como era costume na Inquisição. E como será, sempre, costume em tempos de tirania. Daí a resistência à pergunta com a não-resposta.