Zita Seabra aderiu ao Partido Comunista em 1965, com 15 anos. Em 2007, Zita Seabra dizia não ter saudades do Partido Comunista, porque foi "um tempo muito duro, que não dá para ter dor nem para ter saudades ...". Esta mulher entrou para a clandestinidade em 1968, "era uma verdadeira bolchevique", que achava que, para atingir determinados fins, todos os meios valiam. "Acreditava aliás na revolução pelas armas." "Estava ...disposta a morrer." Concluiu que o que estava errado no PCP eram as ideias que levavam às práticas." O comunismo fez vítimas, como a sua amiga Sita Valles, brutalmente assassinada em Angola em 1977 a mando de Agostinho Neto, "Foi tão chocante e brutal... Ela estava grávida, foi violada e torturada, deixou um filho sem pai nem mãe. Mas não provocou nenhum frisson no PCP. Falei disso com o dr. Cunhal e logo a seguir ele publicou no Avante! uma nota a dizer que tinha sido "para pôr ordem na casa". Era assim..."
ZS passou por dissidente e tornou-se a "mais famosa arrependida do PC", qualidade agravada quando, em 93 aceitou o convite de Cavaco Silva para coordenar o Secretariado Nacional para o Audiovisual, em 97, quando aceita o convite de Marcelo Rebelo de Sousa para ser candidata à CMVFXira, em 98, quando se filia no PSD, e, muito mais, quando, em 2005, aceita o convite de Santana Lopes para encabeçar por Coimbra, a lista de deputados do PSD à AR.
Deu o outro lado da face e o resto da vida e da alma pelas causas sociais-democratas. Simbolizava a evolução e os tempos novos de mudança, e pagou um preço caro por isso. Pagou o preço por pensar diferente e por falar em desintonia com as ordens da classe dominante. Foi expulsa pelo partido pelo qual "deu quase tudo, e quase tudo foi demais". Por tudo isto, Zita Seabra será a militante do PSD mais habilitada para se pronunciar sobre a «lei da rolha». Foi por essa mesma lei que foi expulsa do PCP. Diz, sem receios, porque é uma mulher sem medos que «Qualquer norma que proíbe as pessoas de falar e de discordar horroriza-me completamente. Aliás, eu vim para o PSD por ser um partido livre. Espero não ter de mudar de partido». Para esta mulher clara, franca e frontal, esta «é uma norma que não faz o mínimo sentido num partido democrático». A ex-comunista, que integra a comissão de honra de Passos Coelho, ficou «espantada» com a ideia de uma «lei da rolha». «Isto é daquelas normas que um partido não pode ter nos seus estatutos. É o chamado tiro no pé», criticou. Há que recordar que esta é uma mulher e uma cidadã maior, que se dá ao desplante da verdade, como quem pega o boi pelos cornos, e que, quando lhe censuram os desvarios, gosta de responder, assertiva e contundentemente: "Este é o percurso normal de qualquer dissidente que fez um corte ideológico. É assim no resto da Europa, não ficam a meio caminho". E fazem eles muito bem! Em política, impõe-se a frontalidade de dizer não, não vale o "nin", o mediano e medíocre "talvez". Destino velhaco este que faz com que tenha sido o mesmo homem que a convidou para deputada a fazer-lhe lembrar o que era ser comunista! Talvez Cavaco o volte a condecorar por isto, mas oxalá desta vez opte por uma condecoração mais adequada: a de Censor (Régio) do PSD!