Quando o Bloco de Esquerda a recrutou, dizia-se que entrara porque Ana Drago estava gasta e Joana Amaral Dias era já uma carta fora do baralho, mas Marisa Matias recusou-se a vestir a pele de uma cheerleader. Dizia-se que o seu papel era "perfumar a campanha com o seu charme", distribuir sorrisos e acenar ao povo à Letízia Ortiz. Críticos e adversários políticos propuseram ao BE que ela usasse decotes mais vistosos e recomendaram que não a deixassem abrir a boca. Hoje, José Manuel Pureza qualifica-a como “uma das sociólogas mais brilhantes da sua geração em Portugal” e diz que é “uma lutadora, que personifica a generosidade e a entrega pelo bem comum” e uma “investigadora competentíssima, sempre em combate por uma ciência que dê força à cidadania”. “Ela envolve-se, sem limites de tempo nem de saúde, em múltiplas frentes de luta contra a indignidade e a injustiça; vejam as lutas que se travaram em Coimbra na última década – no ambiente, na cultura, no urbanismo –, pois a Marisa esteve sempre lá, desinteressada, a fazer pontes e a acrescentar saber e inteligência”. Fala da sua “invulgar qualidade humana”. A que acrescem as qualidades populares de ser benfiquista. E é fã de Bruce Springsteen. Empenhou-se em movimentos sociais (como a associação cívica Pró-Urbe) e de protesto local (como o Movimento Contra a Co-incineração e Movimento Amigos da Cultura). Chegou aos meandros da política activa, em 2005. Emvolveu-se em controvérsias científicas e públicas, ligadas às questões da democracia e participação, e fez uma tese de mestrado sobre a controvérsia em torno da instalação da co-incineradora em Souselas. Esta jovem investigadora do Centro de Estudos Sociais da Universidade de Coimbra dedicou-se às relações entre problemas ambientais e a saúde, matéria sobre que elaborou a sua tese de doutoramento. Dentro do CES integrou dois núcleos de investigação, com destaque para o núcleo sobre Ciência, Tecnologia e Sociedade. E participou activamente nos dois momentos do referendo sobre a despenalização do aborto (no segundo foi uma das mandatárias nacionais do Movimento Cidadania e Responsabilidade pelo SIM). Em 2005 foi candidata à Câmara Municipal de Coimbra como cabeça de lista e em 2006 foi mandatária para a igualdade da candidatura presidencial de Francisco Louçã. Desde há dois mandatos integra a mesa nacional do BE e o ano passado foi eleita eurodeputada. Hoje doutorou-se com distinção e louvor na Universidade de Coimbra - o que dará aos críticos muito que pensar sobre a recomendação de que não abrisse a boca - na defesa de uma tese que analisa as relações entre ambiente, saúde e sustentabilidade, num contexto de protestos públicos. Intitulada «A Natureza farta de nós? Ambiente, saúde e formas emergentes de cidadania», é uma «análise das relações entre saúde, ambiente e sustentabilidade, sobretudo através da sua performação em situações de controvérsia pública». De acordo com a tese, «os protestos surgem porque as pessoas se preocupam com a forma como os problemas ambientais se transformam em problemas de saúde». Segundo JAN, a socióloga «analisou um conjunto de casos que permitem mostrar a relação entre os problemas de saúde e os problemas ambientais, que, muitas vezes, são revelados por movimentos de protesto». Entre os casos por ela estudados figuram a contaminação radioativa causada pelas minas da Urgeiriça, o passivo ambiental de Souselas e a decisão da União Europeia de exportar pneus reformados para o Brasil. «A tese representa um avanço importante na compreensão teórica e concetual da relação entre problemas ambientais e problemas de saúde e também na compreensão da importância de uma cidadania ativa, através da mobilização coletiva», afirma JAN.
Conclusão: enganaram-se as aves agoirentas - ganhou o BE e ganhou a pequena. Afinal, o BE, às vezes, quanto a mulheres militantes, é mesmo um partido com muita sorte!