domingo, 28 de março de 2010

Renato Sampaio e a impropriedade linguística: Não há por aí uma Lei da Rolha?

O Público de 3ª, num artigo intitulado "Renato Sampaio avisa que não quer caudilhos de saias no PS", regista que o líder da distrital socialista acusou Joana Lima de ser o "mandarete" de José Luís Carneiro, candidato à presidência da distrital do PS/Porto. "Estamos aqui sem sofismas. Nós não aceitamos coações nem retaliações. Eu sei o que se passa na Trofa e quero aqui manifestar o meu total repúdio. Não foi para isso que o PS foi fundado", afirmou [Renato Sampaio], deixando um aviso: "Estou aqui porque não aceito caudilhos. Nunca aceitei caudilhos na vida politica e não é agora um caudilho de saias que se pode implantar aqui na Trofa".
Parece que na Trofa, se instalou uma autêntica guerra fratricida entre socialistas. Entre a agressividade e a ofensa, alguém se esqueceu que JL foi escolhida pela maioria dos membros do secretariado da Comissão Política da concelhia da Trofa para a presidência da Câmara Municipal da Trofa nas autárquicas, e, que, até aí, era deputada na AR e vereadora sem pelouro na autarquia trofense. Para além de ser socialista (como o ofensor)! E uma senhora! Consta que tem feito boa obra, de que se desenvolvido grandes projectos, como "a variante à Linha do Minho, a obra da linha do metro e a variante rodoviária". O epíteto de Renato Sampaio, é, no mínimo, de uma falta de educação e civilidade que há muito não se via. Chamar à autarca "caudilha de saias", em plena sessão de apresentação do "seu" candidato à concelhia, há dias na Trofa, e em que a actual presidente-edil foi comparada a Fátima Felgueiras, foi uma atitude inqualificável em Democracia, e intolerável entre militantes do mesmo partido. Vai daí que, embalado nas suas gravíssimas acusações, o pior (há pior?, perguntam) estava para se ouvir, até que, depois de falar em coacções e retaliações sobre militantes e de jogo viciado pela candidatura de JL à concelhia, foi desferido o mais grave dos ataques: "Ninguém consegue, de uma forma arrogante, de uma forma prepotente, sobreviver muito tempo na política (...) Como dizia o velho ditado, nós não podemos durante muito tempo enganar muitos. Nós, para enganar, tem que ser durante pouco tempo. E alguns, só". Desculpe?! Como diz?! E a gravidade destas afirmações?
Voltando à questão dos "caudilhos", o secretariado da Comissão Política do PS/Trofa acusou RS de ter "um complexo machista e sectário". "O presidente da distrital deve retractar-se e pedir desculpas públicas a Joana Lima pelas críticas que lhe desferiu, apelidando-a de "caudilho de saias"", embora o mais certo, dizem, é que o próprio "desconheça igualmente a gravidade das palavras utilizadas", já que a "A figura do caudilho, à qual tentou associar a atual presidente da Câmara da Trofa, sem nenhum respeito institucional, está associada a indivíduos brutos, violentos e corruptos". O candidato à liderança da Federação (JLC) também considera que RS deve um "pedido de desculpas público" a JL, e disse mesmo que nunca assistiu "a uma declaração política tão infeliz" na sua "vida politica de 17 anos de ligação ao PS. Avelino Oliveira entende que RS, ao "insultar Joana Lima, estar a insultar todos os autarcas. E, como o fez de uma forma pública, as desculpas têm também de ser públicas", e reforça que RS não é um dirigente qualquer - é vice-presidente da bancada parlamentar do PS, e que coloca o combate político na esfera do ataque pessoal. O facto desencadeou movimentações que exigiam a convocação de uma reunião extraordinária da comissão política distrital para analisar estas declarações e para reiterar a confiança política em JL e provocou indignação nas hostes rosa.
Concordo com a gravidade e a grosseria dos termos aplicados acerca da senhora e não posso estar mais de acordo com os comentários dos socialistas, mas, não se esqueçam que aquelas palavras sobre os enganos, ou seja, durante quanto tempo se pode enganar (pouco) e a quem se pode enganar (só a alguns), não foi menos grave que a mal-criadez. É, igualmente, uma prova de falta de inteligência política, que não deixará de ser usada contra o PS, uma falta de bom senso que servirá de arma de arremesso, e que ficará nos anais das gaffes políticas nacionais. Se tem de pedir desculpas? Claro que tem. À JL, com certeza. E a todos os militantes socialistas que não se revêm nas suas palavras e que se sentiram ofendidos com tanta ligeireza e insensatez. Se não tinha consciência da gravidade dos palavrões, paciência, mas o que um Partido não se pode dar ao luxo é de ter porta-vozes que se sirvam dos microfones para exibir uma falta de educação (e de lealdade) cujos custos não sejam imputados aos próprios mas a todos os socialistas. Afinal, se aqui houvesse a tal Lei da Rolha, tinhamos sido poupados a tão infame palavriado! Está a esta hora o PSD a pensar que a dita tem muita serventia. E os socialistas a pensar que pena não terem aquelas sanções que agora caíam a este sujeito que nem gingas!