quinta-feira, 25 de março de 2010

"O ESCÂNDALO POLÍTICO EM PORTUGAL", de Bruno Paixão

Bruno Paixão fez o mestrado na UCoimbra, com o tema de investigação “O Escândalo Político em Portugal”. Desde então tem aprofundado a sua pesquisa sobre o fenómeno do escândalo político em Portugal, no período da Democracia. Com base na análise da imprensa (peças dos semanários Expresso e O Independente), o autor traça um quadro da política nacional perspectivando a crescente importância do escândalo na vida pública e as suas consequências para a cidadania. Com uma alusão aos três vértices do triângulo: media, políticos e público. Para existir um escândalo não tem de existir uma transgressão real, às vezes, basta um boato ou uma mentira. Qual a origem do “escândalo”. Quais as suas fontes? Anónimas, policiais, judiciais? O escândalo advém de uma disputa pelo poder, em que se confrontam grupos de protagonistas, com acessos, interesses e poderes diversificados. Os actores são políticos, ex-políticos, partidos e facções dos partidos, assessores e empresas de assessoria, meios de comunicação e seus profissionais (jornalistas, apresentadores e lideres de opinião), e/ou cidadãos enquanto audiências. O “escândalo” é um produto e um desafio à democracia.” e “O problema não é superficial. É, antes, de natureza profunda. O problema não reside apenas na classe política mas sim no âmago da moral pública da sociedade portuguesa. Concentrarmo-nos apenas nos políticos em busca do bode expiatório para a parca qualidade da cidadania e do exercício público é pura perda de tempo, até porque esta classe é, em geral, susceptível de renovações constantes. O enriquecimento ilícito, a pequena corrupção, a cunha, as luvas, a conivência, os conflitos de interesse, o abuso ou mau uso de poder, são características que pulverizam a atmosfera da sociedade portuguesa e não apenas os políticos. Fazer rupturas e refundar os ideais de cidadania é algo de que não devíamos desistir. Só assim é possível melhorar a qualidade da vida política e cívica.”
Diz ainda que os políticos portugueses envolvidos em escândalos nem sempre são penalizados porque o público «não se sente assim tão ofendido» com as «alegadas transgressões», aliás tudo indica que acaba muitas vezes por «se rever» no «político-estrela». «Um escândalo é uma suposta transgressão ou mesmo um rumor que, quando sai de uma esfera restrita e vai parar às bocas do mundo, estende-se ao conhecimento do público mediatizando-se e provocando também uma reprovação pública». A pouca penalização e a despenalização «indicia um certo vazio moral» e uma «crise de valores da sociedade». Só há mais escândalos porque «os jornalistas investigam muito mais», pelo «declínio da política ideológica» em favor da «ascensão do político-estrela, que tem carisma», no qual as pessoas «acabam por se rever», «naquela velha máxima "quem no lugar dele não faria o mesmo?"». E conclui que a comunicação social leva «até ao exagero» o escândalo político mesmo quando este «não encontra correspondência no interesse do público», até porque os partidos são «muito mais apoiados por agências mediáticas e de marketing político que, muitas vezes, ajudam a provocar um escândalo».
A apresentação do livro «O Escândalo Político em Portugal» deu-se no dia 17 de Março, pelas 18h30, na FNAC do Chiado, e esteve a cargo do deputado do PSD José Pacheco Pereira.
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