quinta-feira, 11 de março de 2010

"NOVOS" e "VELHOS" EUROPEISTAS: GUIA DO MAU COMPORTAMENTO PARLAMENTAR


Quando em Jan.2006, em Estrasburgo, se fizeram algumas alterações ao regulamento das "Regras de conduta dos deputados europeus", falando em "vivacidade dos debates parlamentares" e em "comportamentos de carácter visual, que podem ser tolerados na condição de não serem injuriosos e/ou difamatórios, de se manterem dentro de proporções razoáveis e de não originarem conflitos, e comportamentos que acarretem a perturbação activa de qualquer das actividades parlamentares", julgo que se tinha em mente a grosseria da linguagem dos deputados europeus populistas dos novos Estados-membros, "Mas isso é subestimar os seus colegas da Europa Ocidental", escreve o România liberă.
O relatório Presseurope, constante do Expresso de 9, em EUROPA DESALINHADA, ou "Ocidentais" ainda são mestres dos excessos" demonstra isso mesmo.
A frase de que "O senhor tem o carisma de um trapo molhado e o ar de um empregado bancário de categoria inferior." ouvida pelos deputados europeus que, no fim de Fevereiro, se aprontavam para mais uma sessão plenária tranquila, daquelas em que podem ler os matutinos e os semanários, e pôr em dia os 300 mails enviados pelos países de que são oriundos, no entretando, até aproveitariam para conhecer o novo – e primeiro – presidente do Conselho Europeu, Herman Van Rompuy, acompanhada pelas expressões "fortes" de Nigel Farage, do UK Independence Party que lhe chamou de "assassino tranquilo da democracia europeia", oriundo de "um não país": a Bélgica.", fez estremecer as hostes que haviam vaticinado, face aos resultados das eleições europeias de 2009, que o funcionamento da assembleia iria ser perturbado pela entrada dos políticos europeus de Leste "extremistas" (romenos, búlgaros, húngaros, polacos, etc.). Estremeceram porque o que ocorreu foi que os eleitos provenientes desses países se mostraram até tímidos, reservados, e educados, adaptando-se à "pequena galáxia dos independentes", ao contrário dos eleitos do velho Ocidente que se degladiaram em duelos verbais e cenas de teatro (não só melodrama, ou trágico, ou de comédia, mas até de revista), desde o populista islamófobo neerlandês Geert Wilders aos eurocépticos britânicos. A "saída" infeliz contra Van Rompuy, o presidente do Parlamento, obrigou a que o polidíssimo conservador polaco Jerzy Buzek, convocasse Farage e lhe solicitasse que apresentasse as suas desculpas ao ofendido, ao que o ofensor retorquiu que, se tivesse de pedir desculpa a alguém, seria aos "empregados bancários de categoria inferior" que comparara com o apagado presidente do Conselho e que não mereciam ser tão humilhados. A reincidência e provocação fez com que Buzek desse a conhecer que multara Farage, congelando o seu salário de deputado por 10 dias (+/- €3.000). Ora, como a multa lhe pareceu insignificante, Farage rejeitou oficialmente a sanção, continuando num tom de despeito, afirmando ainda não ter entendido qual era o problema e levando o espectáculo aos actos II e III. O argumento desculpabilizante foi o de que "Na vida parlamentar britânica, ..., estas interpelações duras são comuns, os deputados interrompem-se e insultam-se uns aos outros, o que, afinal, faz parte do jogo da democracia."
Os "ocidentais" nem sequer aparentaram a sua habitual "falsa cortesia" e fizeram um jogo entre o circo e uma tragédia de ópera, subvertendo o bom andamento da democracia parlamentar, e negligenciando afinal aquele que era o "debate de fundo" – Van Rompuy não ter qualquer carisma e ter sido uma má escolha para a presidência da UE – num debate formal: "Van Rompuy é um "trapo molhado" e um "assassino da democracia"." Este tipo de discurso que ultrapassa claramente o suposto tom assertivo e atinge o tom agressivo, comporta uma dureza e uma amálgama de impropérios xenófobos, que desiludem qualquer espectador mais atento e iludido, demonstrando que ali, como em todos os palcos políticos, o que conta são os protagonismos pessoais (como o de Rangel quando se armou em Dom Quixote lutando contra o moinho de vento da alegada falta de liberdade de expressão em Portugal, claro que Rangel não aludiu à Madeira porque já se convenceu que a Madeira é um mundo à parte governado por Alberto João Jardim, a quem todos acusam de "deficit democrático"!), as rivalidades internas (que são catadupadas para o Parlamento Europeu, até porque a cobertura televisiva e a projecção feita pelos media de cada país sofre estes episódios é muito mais ampla), e o que não conta é a verdadeira liberdade de expressão, aliás mote para desculpabilizar, em regra, a linguagem de alguns partidos da direita populista de Itália (actualmente no Governo) e da Holanda (onde o Partido para a Liberdade de Wilders está em boa posição para conquistar o poder nas eleições legislativas de Junho próximo). Conclui-se que, quando comparados com estes tenores de repertório excessivamente descomplexado, Corneliu Vadim Tudor e Gigi Becali e os nossos confrades nacionalistas búlgaros do Ataka até se comportam relativamente bem e até talvez lhes possamos chamar de "bem-educados e comedidos". E assim chegam os novos europeístas à conclusão de que ainda têm muito que aprender com os velhos europeistas, designadamente no que à arte de ser um bom palhaço concerne.