Releio o trabalho do Professor Andrzej Karpowicz, “The Masonic Collection of the University Library in Poznan”. Dá conta de como a intervenção da cidadania livre dos maçons foi abruptamente interrompida pela chegada ao poder de Hitler. Fechou as Lojas maçónicas. O direito de propriedade foi-lhes retirado. Os bens confiscados. Queimaram-se as bibliotecas e entregou-se muito do seu espólio à biblioteca profissional das SS (a Reichsfuhrer Heinrich Himmler). As ditaduras não se compadecem com a Maçonaria. Perturba-as o espírito livre dos maçons. O livre pensamento é uma ameaça quando a orientação do pensamento está previamente estabelecida. A guerra e os saques na Alemanha visaram o fim da Maçonaria. O fim dos maçons. A Alemanha comprou material das bibliotecas maçónicas que serviu de contrapropaganda, e, após a formação do Reichssicherheitshauptamt (principal gabinete de segurança), a biblioteca maçónica foi integrada no escritório VII (Reichssicherheitshauptamt Amt VII). Com a anexação da Áustria na Grande Alemanha (o “Anschluss”), as colecções maçónicas das Lojas da Áustria foram objecto da pilhagem nazi. No ano de 1940 ocorreram várias operações de pilhagens estrategicamente organizadas. Os nazis saquearam a G.L. da Holanda e a G.L. da Noruega e o mesmo sucedeu na Bélgica e em França (depois da derrota inicial em 1940, os registos dos membros do Grande Oriente de França e da G.L. de França foram saqueados e destruídos). A GESTAPO assumiu temporariamente os edifícios das obediências francesas. Os homens da Einsatzstab saquearam parte dos arquivos e entregaram-nos a colaboradores, protegidos pelas SS, para que usassem esse material em propaganda anti-maçónica. Existiam dois centros em Paris, um liderado por Bernard Fay (na Biblioteca Nacional), que exploravam os materiais roubados do acervo do GOF, outro, o “Centre d’Action”, dirigido por Henri Coston e que continha as colecções roubadas da G.L.F.. Mais tarde, as colecções na Alemanha foram usurpadas de vários locais onde se preservavam, sobretudo, quando a Alemanha começou a sofrer ataques aéreos das forças aliadas. Grande parte das colecções da Grande Loja da Holanda foram descobertas pelas tropas americanas na Vila de Hirzenhain em 1946 e foi um oficial americano, maçon, que ordenou às tropas que as reenviassem de volta. Várias colecções de material maçónico disperso foram interceptadas por soldados americanos e ingleses e enviadas para os Estados Unidos e para a Grã-Bretanha. As colecções de Berlin, parte da Boémia e de Wilkanóv, foram recolhidas pelo Exército Vermelho e declarados “despojos de guerra”, e depois enviados para Moscovo. A Universidade Livre de Berlin mantém na sua posse alguns livros da biblioteca da G.L. dos Três Globos em Berlim, com marcas ainda visíveis da prateleira da biblioteca Reichsfuhrer escrito a lápis. Perderam-se muitas colecções de livros, arte e músicas maçónicas.
Importa repor o pensamento humano, em parte perdido, do pensamento maçónico de então. É o que se ensaia de seguida. Em 1934, com a ascensão de Hitler ao poder, a maçonaria alemã tomou consciência do risco de desaparecer. A que conhecera dias gloriosos, com colunas perfeitas e compostas pelos mais ilustres filhos da pátria alemã (Goethe, Schiller e Lessingn) sabia-se um bem moral e espiritual a exterminar. Quando a GL Alemã do Sol se deu conta do grave perigo que iria enfrentar, muitos maçons alemães forçaram-se à clandestinidade e substituíram o óbvio Compasso e Esquadro por uma pequenina flor azul: o miosótis. Aquela flor azul servia para identificar I:. Nas cidades e até nos campos de concentração, o miosótis adornava, singela e discretamente, as suas lapelas. Conta-se que Rudolf Martin Kaiser, VM da L:. Leopold zur Treue, de Karlsruhe, quebrou a jóia do V:.M:. em pequenos pedaços para que não fosse reconhecida pela Gestapo. Em 1945, o nazismo caía. Nas fileiras vitoriosas que o derrotaram, contavam-se muitos maçons – ingleses, americanos, franceses, dinamarqueses, tchecos, poloneses, australianos, canadenses, neozelandeses e brasileiros. Monarcas, presidentes, comandantes, soldados rasos. Entre os alemães maçons que sobreviveram, o miosótis ficou como o símbolo da memória da histeria colectiva nazi, o penhor da consciência alemã, a prova de que a velha chama da civilização alemã se manteve viva na barbárie. Em 14 de junho de 1954, a G.L. Zur Sonne foi reaberta, em Bayreuth, pelo Venerável Theo Vogel, núcleo da G.L. Unida da Alemanha, e o o miosótis finalmente consagrado em homenagem aos que sobreviveram àqueles anos de obscurantismo, "para além da força humana". Na platéia, imagine-se o V:. M:. da Loja Leopold ZurTreue (agora nº 151), usando na sua lapela aquela jóia recuperada, a partir de emendas de solda, como se fosse testemunhasse o fim e o início da História. Quando os G:. M:. se encontraram nos USA, o G:.M:. da recém formada G.L. Unida da Alemanha ofereceu simbolicamente a todos os representantes das Grandes Jurisdições ali presente um pequeníssimo miosótis. A flor associa-se ainda às forças britânicas que serviram na Alemanha, na região do Rio Reno, após a guerra e há mesmo uma Loja, jurisdicionada à G.L. Unida da Inglaterra, a Forget-me-not Lodge nº 9035, em Ludgershall, Wiltshire, que adoptou a flor como seu estandarte. E foi assim que aquela mimosa florzinha azul se tornou um sinal de fraternidade e, se ainda hoje é o símbolo mais usado pelos maçons alemães, e em muitas L:., o miosótis passa de M:. para M:., permanece como símbolo de uma história de honra, fraternidade, de liberdade e de amor, perante a adversidade da arrogância, a força da prepotência, pode dizer-se que ela exteriorizará sempre um exemplo de força, de luta, de sobrevivência, um acto de guerrilha por ideais, um dote de liberdade para as futuras gerações de maçons livres.
Importa repor o pensamento humano, em parte perdido, do pensamento maçónico de então. É o que se ensaia de seguida. Em 1934, com a ascensão de Hitler ao poder, a maçonaria alemã tomou consciência do risco de desaparecer. A que conhecera dias gloriosos, com colunas perfeitas e compostas pelos mais ilustres filhos da pátria alemã (Goethe, Schiller e Lessingn) sabia-se um bem moral e espiritual a exterminar. Quando a GL Alemã do Sol se deu conta do grave perigo que iria enfrentar, muitos maçons alemães forçaram-se à clandestinidade e substituíram o óbvio Compasso e Esquadro por uma pequenina flor azul: o miosótis. Aquela flor azul servia para identificar I:. Nas cidades e até nos campos de concentração, o miosótis adornava, singela e discretamente, as suas lapelas. Conta-se que Rudolf Martin Kaiser, VM da L:. Leopold zur Treue, de Karlsruhe, quebrou a jóia do V:.M:. em pequenos pedaços para que não fosse reconhecida pela Gestapo. Em 1945, o nazismo caía. Nas fileiras vitoriosas que o derrotaram, contavam-se muitos maçons – ingleses, americanos, franceses, dinamarqueses, tchecos, poloneses, australianos, canadenses, neozelandeses e brasileiros. Monarcas, presidentes, comandantes, soldados rasos. Entre os alemães maçons que sobreviveram, o miosótis ficou como o símbolo da memória da histeria colectiva nazi, o penhor da consciência alemã, a prova de que a velha chama da civilização alemã se manteve viva na barbárie. Em 14 de junho de 1954, a G.L. Zur Sonne foi reaberta, em Bayreuth, pelo Venerável Theo Vogel, núcleo da G.L. Unida da Alemanha, e o o miosótis finalmente consagrado em homenagem aos que sobreviveram àqueles anos de obscurantismo, "para além da força humana". Na platéia, imagine-se o V:. M:. da Loja Leopold ZurTreue (agora nº 151), usando na sua lapela aquela jóia recuperada, a partir de emendas de solda, como se fosse testemunhasse o fim e o início da História. Quando os G:. M:. se encontraram nos USA, o G:.M:. da recém formada G.L. Unida da Alemanha ofereceu simbolicamente a todos os representantes das Grandes Jurisdições ali presente um pequeníssimo miosótis. A flor associa-se ainda às forças britânicas que serviram na Alemanha, na região do Rio Reno, após a guerra e há mesmo uma Loja, jurisdicionada à G.L. Unida da Inglaterra, a Forget-me-not Lodge nº 9035, em Ludgershall, Wiltshire, que adoptou a flor como seu estandarte. E foi assim que aquela mimosa florzinha azul se tornou um sinal de fraternidade e, se ainda hoje é o símbolo mais usado pelos maçons alemães, e em muitas L:., o miosótis passa de M:. para M:., permanece como símbolo de uma história de honra, fraternidade, de liberdade e de amor, perante a adversidade da arrogância, a força da prepotência, pode dizer-se que ela exteriorizará sempre um exemplo de força, de luta, de sobrevivência, um acto de guerrilha por ideais, um dote de liberdade para as futuras gerações de maçons livres.