quinta-feira, 25 de março de 2010

PEDOFILIA E IGREJA: EM NOME DE QUE JUSTIÇA?!

20 000 sacerdotes católicos podem estar envolvidos em escândalos de abusos sexuais de menores, segundo o Vaticano. 3 000 casos de abusos sexuais foram comunicados ao Vaticano desde 2001. 4 400 sacerdotes católicos dos USA cometeram abusos sexuais entre 1990 e 2002. 11 000 vítimas de abusos nos USA, no mesmo período. €1 479 milhões em indemnizações pagas pela Igreja Católica dos USA às vítimas. 18 das 27 arquidioceses alemãs estão a ser investigadas por crimes de pedofilia e maus tratos de menores. (VISÃO)
"Pelo que sabemos agora, houve ocultação, temos de o reconhecer dolorosamente, preocupámo-nos demasiado com a imagem da Igreja e de determinadas instituições", afirmou o delegado nomeado pela Conferência Episcopal Alemã para investigar o escândalo de pedofilia em instituições da Igreja Católica. Nos locais "onde não havia vontade de esclarecer os casos, os autores dos delitos foram apenas transferidos e temos de reconhecer que houve ocultação de uma série de casos", afirma Ackermann. O cardeal Joachim Meissner, de Colónia, uma das mais altas figuras da Igreja alemã, afirmou que, nos seus 48 anos de sacerdócio, nunca viveu "tempos tão difíceis para a Igreja" e diz-se "desesperado e inconsolável pela tristeza, a dor e a ira causada pelo terrível fracasso de alguns sacerdotes e outros funcionários da Igreja".
Os bispos portugueses, que se reúnem em Abril, por altura da assembleia plenária da CEP, vão reflectir "sobre a carta do santo padre e em geral as linhas que a lei promove, como sejam o clarificar a verdade, o fazer a justiça às vítimas, o reforço da prevenção e o colaborar construtivamente com as autoridades", disse Manuel Morujão. A CEP "nunca" tratou de questões relacionadas com pedofilia no último ano e meio, "nem dossier, nem sequer uma simples carta", diz Manuel Morujão, sublinhando tratar-se de um assunto novo para a Igreja Católica portuguesa. - No último ano e meio, se calhar, não, mas permita-me que lhe recomende a leitura do estudo «Abusadores Sexuais - Uma perspectiva Neuropsicológica», o qual revela que, entre 2003 e 2007, 10 padres foram indiciados pelo Ministério Público em casos de pedofilia. (O número é apontado por um estudo de Nuno Pombo, da PJ, que investigou os 5128 casos denunciados nesses 5 anos).
Entretanto, na carta lida por Bento XVI aos fiéis irlandeses -aqui -, este exprimiu "vergonha" e "remorso" de toda a Igreja face ao escândalo de pedofilia no clero daquele país e anunciou iniciativas para promover "a cicatrização e a renovação".
Comentários interessantes aqueles que relacionam o escândalo de pedofilia com membros da Igreja Católica com o modelo «autoritário e fechado» seguido pela mesma (declarações do grupo português do movimento internacional Nós Somos Igreja). «A hierarquia católica, em vez de procurar causas externas, devia olhar para a sua própria maneira de funcionar e para as suas próprias estruturas, pois é por causa do sistema autoritário e fechado que essas coisas aconteceram», defendeu Maria João Sande Lemos. «Quando um caso de pedofilia na sociedade civil é descoberto, a pessoa vai presa», acrescentou, lamentando que no seio da Igreja o procedimento seja diferente: «A criança faz queixa, os pais vão falar com o prior ou com o bispo e este dá-lhes uma indemnização e fá-los jurar silêncio.» «Não contentes com isso, em vez de se castigarem o culpado e de o entregarem à justiça civil, as hierarquias escondem o facto e mandam-no para outra paróquia, onde ele volta a fazer as mesmas infâmias, como aconteceu centenas de vezes», critica. Na opinião do movimento Nós Somos Igreja, também é grave que a Igreja Católica, «que está sempre disponível para excomungar estes e aqueles - como a mãe daquela criança de nove anos que tinha sido repetidamente violada pelo padrasto por a criança ter feito um aborto -, não excomungue os pedófilos». «Será que a hierarquia católica atinge a enormidade do crime que é abusar sexualmente de uma criança que lhe foi entregue?», questionam. Acreditam que «a Igreja, agora, vai tomar medidas enérgicas» e esperam que a carta dirigida pelo Papa Bento XVI aos clérigos irlandeses seja «o princípio de uma mudança de estratégia da hierarquia católica no tratamento destes casos, que não podem continuar a ser escondidos, abafados, pagando o silêncio das vítimas». «O que nós pedimos ao Papa Bento XVI é que esta carta que ele escreveu aos bispos da Irlanda seja o princípio de uma mudança total de atitude quanto a estes casos, o fim do secretismo e o castigo, nos tribunais civis, das pessoas que abusam de crianças». O movimento internacional divulgou um comunicado de imprensa em que considera que a Igreja tem «a sua credibilidade bastante posta em causa neste momento». «O Papa acusa a sociedade de esperar demasiado dos membros do clero, em termos éticos, contudo invoca o mistério do sacerdócio como um chamamento superior, estabelecendo efectivamente que os padres deve ser considerados um tipo especial de ser humano». Consideram o Vaticano «cúmplice e responsável pela ocultação dos abusos sexuais», e que é "essencial uma análise dos ensinamentos sexuais da Igreja".
NÃO É O QUE TODOS ACHAMOS, TAMBÉM? EM NOME DA JUSTIÇA!