A preparar uma Conferência em que falarei de "As Carbonárias em Portugal" surge uma discussão com um amigo monárquico. Expliquei-lhe que nem sempre o mito e a história têm o mesmo rumo e que haverá sempre uma fronteira ténue entre ambos. Que alguns dos factos antecedentes ou concomitantes ao regicídio ficarão presos entre o imaginário e o momento histórico. Mas há pontos que merecem alguma unanimidade. A Carbonária não era uma organização exclusivamente republicana, embora fosse conhecida como o «exército secreto da República»), tinha adeptos monárquicos. Foi organizada de acordo com o modelo maçónico, adoptando uma nomenclatura diferente, e obedecia a grandes princípios, como a fé e a virtude, antes de admitidos no seio da Ordem, os iniciados tinham de provar que eram pessoas de bom carácter (homens de bons costumes), vencida a prova inicial, eram admitidos como “aprendizes”. Os carbonários tratavam-se entre si por tu e por “bons primos” (e não como “irmãos”, como na Maçonaria). As lojas maçónicas tinham como figura similar, as “choças”. 4 graus iniciáticos – rachadores, carvoeiros, mestres e mestres sublimes. “Choças” de 20 homens, cujos 20 chefes formavam uma “barraca”, e em que cada 20 chefes de “barraca”, constituíam uma “venda”. Uma «venda» teria perto de 8.000 homens. Cada responsável de “venda” integrava uma cúpula – a «Suprema Alta Venda». Havia os “canteiros”, grupos de base compostos por 5 Bons Primos, por "Rachadores" que se conheciam a todos entre si, mas que não conheciam mais ninguém. Uma medida que assegurava o anonimato em caso de prisão ou de tortura. Quando muito um "rachador" podia denunciar mais 4 "rachadores". Quando se reuniam nos outros órgãos apresentavam-se de capuz negro ou com a cara mascarrada de carvão, para impedir a identificação dos superiores (embora estes conhecessem os subalternos).
As primeiras Choças formaram-se com gente da Maçonaria Académica. Numa das primeiras sessões da “Alta-Venda provisória”, votou-se uma proposta para admitir elementos populares, a qual foi aprovada e que provocou a saída de «bons primos», que defendiam que só académicos podiam integrar a organização. A fórmula do juramento dos neófitos era a seguinte: «Juro, pela minha honra de cidadão livre, guardar segredo absoluto dos fins da existência desta sociedade, derramar o meu sangue pela regeneração da Pátria, obedecer aos meus superiores e que os machados dos rachadores de cada canteiro se ergam contra mim se faltar a este solene juramento." Os populares iniciados, operários quase todos, integraram as "Choças" e a primeira chamou-se “República”. A Alta-Venda, comando supremo da Carbonária, era composta pelo Grão-Mestre eleito na Venda Jovem-Portugal e por mais 4 Bons Primos nomeados e escolhidos por este de entre os membros da Carbonária Portuguesa, e era a instância máxima da Carbonária Portuguesa. Quem a ela pertencia permanecia em anonimato. Para além desta estrutura civil, existia uma organização constituída por militares, com um organograma similar ao do ramo civil, composta por gente mais disciplinada e enquadrada hierarquicamente. Após a implantação da República, a Carbonária ainda foi útil na mobilização popular contra as incursões monárquicas, mas as lutas internas nos partidos, com a divisão do Partido Republicano Português em diversas formações políticas, determinou a extinção do «exército secreto da República». Por várias vezes, até ao golpe militar de 1926, fizeram-se algumas tentativas de recuperar a Carbonária, sem resultado. Alguns núcleos de carbonários subsistiram, como os que Afonso Costa recrutou para a «Formiga Branca». Conseguida a República, muitos entenderam que estava esvaziada a razão da sua existência. Acabo a esclarecer o meu amigo que diz-se que foi da Carbonária que saíram as ordens para matar os membros da família real, embora os seus responsáveis máximos o negassem, provavelmente porque Manuel dos Reis da Silva Buíça e Alfredo Luís da Costa eram carbonários. Mas, concluo, que só porque integrava elementos ligados à monarquia e monárquicos - como a Maçonaria os tem - é que esta pôde ter conhecimento dos passos que a família real dava nesse dia, planear e executar o plano do regicídio. Sugiro que acompanhe, com mais pormenor a história, no Aventar, e pel'A Carbonária em Portugal, de António Ventura.
As primeiras Choças formaram-se com gente da Maçonaria Académica. Numa das primeiras sessões da “Alta-Venda provisória”, votou-se uma proposta para admitir elementos populares, a qual foi aprovada e que provocou a saída de «bons primos», que defendiam que só académicos podiam integrar a organização. A fórmula do juramento dos neófitos era a seguinte: «Juro, pela minha honra de cidadão livre, guardar segredo absoluto dos fins da existência desta sociedade, derramar o meu sangue pela regeneração da Pátria, obedecer aos meus superiores e que os machados dos rachadores de cada canteiro se ergam contra mim se faltar a este solene juramento." Os populares iniciados, operários quase todos, integraram as "Choças" e a primeira chamou-se “República”. A Alta-Venda, comando supremo da Carbonária, era composta pelo Grão-Mestre eleito na Venda Jovem-Portugal e por mais 4 Bons Primos nomeados e escolhidos por este de entre os membros da Carbonária Portuguesa, e era a instância máxima da Carbonária Portuguesa. Quem a ela pertencia permanecia em anonimato. Para além desta estrutura civil, existia uma organização constituída por militares, com um organograma similar ao do ramo civil, composta por gente mais disciplinada e enquadrada hierarquicamente. Após a implantação da República, a Carbonária ainda foi útil na mobilização popular contra as incursões monárquicas, mas as lutas internas nos partidos, com a divisão do Partido Republicano Português em diversas formações políticas, determinou a extinção do «exército secreto da República». Por várias vezes, até ao golpe militar de 1926, fizeram-se algumas tentativas de recuperar a Carbonária, sem resultado. Alguns núcleos de carbonários subsistiram, como os que Afonso Costa recrutou para a «Formiga Branca». Conseguida a República, muitos entenderam que estava esvaziada a razão da sua existência. Acabo a esclarecer o meu amigo que diz-se que foi da Carbonária que saíram as ordens para matar os membros da família real, embora os seus responsáveis máximos o negassem, provavelmente porque Manuel dos Reis da Silva Buíça e Alfredo Luís da Costa eram carbonários. Mas, concluo, que só porque integrava elementos ligados à monarquia e monárquicos - como a Maçonaria os tem - é que esta pôde ter conhecimento dos passos que a família real dava nesse dia, planear e executar o plano do regicídio. Sugiro que acompanhe, com mais pormenor a história, no Aventar, e pel'A Carbonária em Portugal, de António Ventura.