O bom político governa em prol dos cidadãos, protege e valoriza o património do povo. O mau político governa em prol de si próprio e dos seus comparsas e não se interessa minimamente com o património de todos. Marques Mendes preocupou-se com a corrupção já no fim de carreira, e naquele bocadinho de tempo, tramou-se. Contestou Santana Lopes quando este o retrato da indigência. Foi serventuário do cavaquismo e foi aí que criou endurance. Aprendeu com Cavaco Silva a arte de ser esfíngico, encriptado, líder, carismático. À ruína do cavaquismo e à queda de credibilidade do PSD e do Estado, com a deserção de Durão Barroso, a desgovernação de Santana, e o recuo de Manuela Ferreira Leite na liderança, Marques Mendes respondeu como a ética republicana, contra impropérios de Pacheco Pereira e espirros de Vasco Pulido. MM falou na racionalidade no trato da (res)pública (coisa pública/interesse público/erário público), como se apregoasse uma prática do cavaquismo no seu melhor. Portou-se como um cowboy no Texas laranja com um saco de víboras às costas. Julgou que a "sua" casa tudo faria em prol do bem comum. Instigou a justiça. MM parece nada saber de corrupção, o que é estranho num partido habituado e conformado com acusações de crimes financeiros, a leis que nascem de vírgulas reputadas de corruptoras. MM foi-se afastando subtilmente, primeiro, depois, ostensivamente, de Valentim Loureiro e Isaltino Morais. Quis, mas não conseguiu ir mais longe. Alguém lhe deve ter dito: Pá, julgas que isto é a Madeira? Não, MM subiu ao púlpito e não se viu a si próprio - o tamanho também não ajuda - nem ao partido que o gerou e alimentou durante 25 anos. MM entendeu que a corrupção tornou-se uma "impenetrável Tróia, e o bem comum a saudosa Ítaca", compreendeu que "A justiça é um desafio para heróis, como se ouve em Homero." Lamantámos que MM, qual filho de Azurém, não tenha chegado a ser o Dom Sebastião, O Messias que o centro-direita esperava. Marques Mendes ficou-se como um estudante de Coimbra, mas deu uma lição a caloiros e veteranos. Quando interviu na Universidade de Verão do PSD, voltou a pôr o dedo na ferida. Lembrou João Cravinho. E devia ter aprendido, com a lição que o sistema deu a ambos, que um discurso que defenda a transparência do sistema não se limita a um problema judiciário, é, antes de mais, um problema político. E a última coisa que estes querem discutir. É tema a sacudir como água do capote. Mas isto merece insultos ou respostas fugidias. O que não retira razão a Marques Mendes.
João Cravinho voltou ao tema. E ainda bem, porque o que não digo, sob pena de parecer simplista, disse ele. Criticou as recentes medidas tomadas contra a corrupção. Mostrou-se preocupado com a criação do Conselho para a Prevenção da Corrupção e qualificou-o como «uma entidade de forte pendor governamental» em que alguns membros «vão ser juízes em causa própria». Sabe do que fala! Um organismo composto por figuras sacrosantas: inspectores-gerais, na dependência do Tribunal de Contas, e em que 8 dos seus elementos só 3 têm Estatuto de Independência, que o levou a concluir que até a própria independência do Tribunal de Contas «não é favorecida» pelo facto de ter «o presidente a presidir a uma comissão que é de pendor governamental». «Eu olho para aquele CPC e penso que nem sequer é uma cereja em cima do bolo, porque não há bolo, não há cereja, não há nada. É evidentemente uma entidade de forte pendor governamental», frisou. «Depois, para um problema tão complicado, profundo e complexo como a corrupção, este conselho é constituído por gente que vai a sessões e mais nada. Não tem ninguém a tempo integral ou parcial. Vão a sessões por inerência como vão a dezenas de outras e ganham uma senha de presença», acrescentou.
Posso completar o raciocínio de Luís Marques Mendes e de João Cravinho? O que me preocupa não é o grito dos maus. É o silêncio dos bons. Dizia Martin Luther King.