segunda-feira, 8 de março de 2010

Pedro Passos Coelho: David/Golias (ou o Guardador de Pedras!)

No blog de MRamires, Sol de 8, um artigo que corroboro.
A previsão de que, se as directas no PSD fossem hoje, Pedro Passos Coelho seria o novo líder do partido. Comentário que não decorre de nenhuma sondagem, mas da análise da eleição de delegados ao congresso de Mafra, no próximo fim-de-semana, do frente-a-frente televisivo entre os três candidatos (pelo menos, os assumidos) à liderança dos sociais-democratas, na SIC Notícias, nesta semana, e da dinâmica das candidaturas em confronto. Falta quase um mês para as eleições internas do PSD, pelo que ainda há uma campanha eleitoral e um congresso de permeio.
Já da minha lavra, PPC, o menino ostracizado por alguns barões, alguns homenzinhos, e um ou outro menino bonito (seriam?!), está em vias de se assumir como a vitamina C dos laranjas. Curiosamente, Ângelo Correia, de que muitos o vêm como delfim, dizia, há tempos, sobre a situação interna no PSD, que o sumo de laranja está "um bocado ácido". Esta recente mania do PSD de apontar como Maior e Único defeito de PPC o de ser pupilo e afilhado de AC desperta alguma curiosidade. Até porque o PSD esteve sempre cheio de delfins deste ou daquele e nunca ninguém viu nisso problema nenhum. À excepção de Cavaco e de Rui Rio, um porque era visto como um recurso de contingência outro como um empregado da Lapa (e que vieram a mostrar que eram muito mais, a dar razão ao ditado que "o calado vence tudo"), não me lembro de nenhuma força da natureza que se tenha apoderado da máquina laranja e tenha surpreendido pela falta de apadrinhamento. Ou seja, ali (provavelmente como em todos os partidos, de resto), todos são de alguém. Filhos d'algo. Não fidalgos, obviamente. Hão-de explicar-me que tem de inédito ser mais um filho d'algo. Dificilmente, AC apoiaria outro candidado senão aquele que considerasse ser o Melhor. AC é um vencedor e apoia vencedores, ainda que os anteveja quando os outros não os percebem, que lhes antecipe o sucesso. AC é um padrinho do bom auguro, portanto. De um homem que avisa, há anos, que o partido precisa de uma “janela aberta”, que afaste o “mofo”, o “bafio”, o “mesmo do passado” e deixe entrar “uma lufada de ar fresco” no País, que exige, há muito, "Refazer a qualidade do partido, que foi perdida nos últimos anos, e refazer a necessidade de pensar", não sei que outro dom ver que não o de uma visão estratégica e antecipada do que pode ser o "novo" no PSD.
Voltando a MRamires, PPC está em vantagem, com a ‘máquina’ montada desde as últimas directas, o aparelho do seu lado, fez trabalho e tem o terreno preparado há muito tempo, dentro e fora do partido. A PPC, digo agora eu, roubaram-lhe o presente (não furtaram, que implica não-violência), mas não lhe podem tirar o passado no partido, apesar do adormecimento antes e após Marques Mendes dos lugares de direcção e de responsabilidade política na S. Caetano (mais uma vantagem, certo?), e, mais do que isso, dificilmente, lhe podem tirar o que é seu de direito: o futuro.
Paulo Rangel foi só mais um flop (sem tirar o lugar a Pedro Santana Lopes, até hoje o maior flop da vida política portuguesa, e, sobretudo, o maior do PSD) que não percebeu que apenas ganhou as eleições para as europeias, não por ser o melhor político da nossa praça, mas porque o povo deixou um voto de desagrado ao Governo - a confirmar pelos resultados das legislativas - que se limitou a alimentar expectativas, a fingir um espírito combativo e rasgo aparente. Tudo caído por terra com as hesitações sobre a candidatura (só concorro se souber que venço! senão nicles?) e com o arranque em falso nas primeiras intervenções no partido (esteve mal, muito mal no Conselho Nacional) e fora dele (esteve ainda pior no debate com PPC), e, mais não deixou, que o eco de um flop nos seus mais fiéis apoiantes.
Aguiar-Branco decidiu a posição do meio (alguém lhe terá dito que era onde se arrisca menos, que assim pode sempre no fim colocar-se estrategicamente de quem preciso de mais uns votos, e pelo jeito, ganharia sempre - ter-lhe-ão dito que no meio estava a virtude?). Provavelmente, pelos seus vícios burgueses, esqueceu que um Turbo não anda a gasolina verde e, por isso, não descola. Vai-se gabando de um ou outro (notável?!) apoio e fica-se por aí. Investiu na posição de lider parlamentar para afirmar a sua autonomia, e tem sido um errante à procura de consensos inatíngiveis (lembram-se do recuo de última hora na suspensão do pagamento especial por conta, depois de ter levado quase ao extremo o braço-de-ferro com o Governo?).
PPC leva, pois, vantagem. Com aquela posição de que quem nada ganhou e, portanto, nada tem a perder, foi em frente, quando os outros recuaram e empataram. Enquanto se perdiam em jogadas e angariações de apoios, tomou um impulso e apresentou-se como David para Golias. E, como diz MRamires, "E, salvo um golpe de teatro, daqueles em que a história do partido é fértil, a sucessão de Ferreira Leite dificilmente lhe escapará." É um facto que um golpe de teatro é até previsível. Tudo depende do que os barões destronados tiverem a perder, porque não acredito que PPC lhes dê algo a ganhar. Falta perceber como se vai calar Santana Lopes, que teima em não ir descansar para o Alentejo. "Sendo o congresso de Santana, pode virar o congresso de Marcelo." PSL está ainda, qual fariseu, a mercantilizar. Quando admitia, há dias, que o quadro de candidatos ainda não está fechado, houve quem lhe percebesse a vontade de Santana protagonizar uma candidatura. "Mas Santana desfez as dúvidas: ele não, porque o partido e o país, e até ele próprio, ainda estão fartos dele. Só que Santana nem por isso quererá deixar de fazer o seu ‘número’ em Mafra. E o ‘número’ provável (...) é um desafio a Marcelo para pegar no partido e liderar um projecto alternativo para o país." Falta ouvir o que Marques Mendes tem para dizer. "E se é verdade que o partido pode estar farto de Santana, não é menos verdade que, em congresso, sempre o ouviu com atenção, desde os tempos em que não tinha mais apoios do que o jet-5 – como ironicamente lhe chamava António Capucho, no Coliseu, em 1995 –, até às últimas directas, nas quais, mesmo em plena travessia do deserto, arrebatou quase um terço dos votos. E Marques Mendes também não deixará de ser atentamente escutado, sobretudo agora que muito do partido já dele terá saudades e estará por certo arrependido de não lhe ter dado mais ouvidos quando era líder. Acontece que o próprio Marcelo está, hoje, livre das funções de comentador da RTP e, que se saiba, ainda não decidiu o seu futuro televisivo. Ora, recuando no tempo, Marcelo condicionou uma eventual candidatura a um debate sério entre os sociais-democratas, sobre o programa e o futuro que queriam para o partido. Na altura, teve pouco eco. Mas, ainda assim, sucederam-se apelos de várias alas do partido anti-Passos. De Sarmento a Arnaut, de Alexandre Relvas a Capucho, de outros cavaquistas a barrosistas e ferreiristas – incluindo Paulo Rangel, antes de ter sentido o «apelo interior» que o fez regressar à pressa de Bruxelas. E, também na altura, Marcelo recusou ser candidato de facção – porque já não tem estatuto nem idade para isso. Assim, Mafra, mesmo com Marcelo remetido ao silêncio, pode servir para reunir as tais ‘condições’ que considerou indispensáveis à sua candidatura. Sobretudo porque, para os sociais-democratas que não se revêem em Passos Coelho, estando a balança claramente desequilibrada em desfavor de Rangel e Aguiar-Branco – e como nenhum admite desistir a favor do outro –, a única hipótese que restará será mesmo Marcelo atravessar-se no caminho. Marcelo pode até dizer que não está sequer a pensar ir ao congresso, mas de Lisboa (ou de Cascais) a Mafra é um saltinho – não serve para fazer a rodagem, só que a alternativa será deixar o carro definitivamente na garagem."
E se só um truque de magia pode negar o trono a PPC ( o tal sobre - quem foi que o disse, na noite das eleições que ditaram a derrota de Ferreira Leite? - que era só o que faltava o PSD cair nas mãos de Passos Coelho?), acrescento que talvez sejam precisos mais uns golpes baixos para o arredar do Caminho. David guardou as pedras e arremessa-as, agora, contra Golias. Lembra Pessoa: "Pedras no caminho guardo todas um dia vou construir um castelo". Porque "A Vida é este estranho caminho de curvas e contra curvas...de desejos e preces...num dia pedimos para ir noutro para ficar. Pedimos para parar no tempo e ficar aqui nesta pedra a descansar só mais um pouco...mas não dá...Tal como o rio a pedra precisa de ficar livre e nós precisamos de continuar. As marcas do nosso descanso permanecem em nós e acompanham a nossa alma no dia a dia...são coisas que deixam marcas mais profundas que a própria alma. Aquele tempo passado naquela pedra será sempre uma marca no nosso percurso e podemos dizer ou questionar: "O que acontecia se não tivesse parado?" Mas a decisão não se muda e neste caminho não há volta de regresso; é uma viagem só de ida sem regresso."
As pedras foi-as guardando. E o bilhete de ida está conseguido.
Do outrora "Não sei por onde vou mas sei que por aí não vou", PPC diz agora convicto "Posso não regressar, mas sei para onde vou".
E vai - não como o outro, que diz sempre que vai andar por aí - para Aí!