segunda-feira, 15 de março de 2010

Congresso em Off: Era para ser trabalho, certo?!


O congresso do PSD visava esclarecer o conteúdo programático de cada candidato e agregar facções. Talvez por isso mesmo os candidatos evitaram dizer nomes em concreto, muito embora todos percebêssemos as "indirectas" acerca das menores-valias que os rivais trocaram entre si, excepção feita a Marcelo e a Marques Mendes que não hesitaram em atingir Passos Coelho, um aludindo à sua alegada não carreira profissional independente e outro pronunciando-se contra a urgência de mudança optando por via de gradualização. PPC, claramente beneficiado pela imagem física que tem e que lhe dão o tal ar "à Socrates" que tanto enervam os demais, que o fazem aparentar ser mais jovem do que de facto é - a que a militância na J ajudou, com certeza. PPC tem uma imagem "nova", apresenta-se bem, com um discurso fluído e desengasgado não tivesse escolhido para a sua equipa da gente mais competente que o partido tem. Fez muito bem. As travessais do deserto têm esta vantagem: dão tempo para observar, digerir, analisar e concluir. Optou por um discurso intimista, com o à-vontade de quem trata a máquina e o aparelho por "tu". Rangel tem um ar provinciano que lhe pode ser fatal - o que lhe pode ser fatal num partido de burgueses - e evidenciou a falta de rasgo esperada de um ferreirista puro. Desde há muito que os políticos eucalipto pulverizaram o PSD, matando tudo o que à sua volta represente competitividade e rivalidade. PR é um produto. O de uma sucessão sempre por fazer, sem sentido, desde que o narcisismo é a sombra dos lideres laranjas. Pretende fazer passar a imagem de que é o único capaz de "fazer mossa ao ex-líder da jota". E é mesmo capaz de o ser. Os barões do status quo instalado têm grande dificuldade em abandonar os interesses alcançados e duvidam muito que PPC continue a ser seu mandatário. Acho que têm toda a razão. Entretiveram-se de hà muitos anos a esta parte a "fazerem a folha" a PPC por isso não me parece que esta lhes dê agora a outra face. Até porque se Deus quer que sejamos bons não gosta, com certeza, que sejamos estúpidos. Esta foi uma das fases de PPC, como já foi de todos nós, mas é passado. PPC não tem de se preocupar com Aguiar-Branco, este foi um homem a solo, sem ninguém a cumprimentá-lo de forma a denunciar o seu apoio, não provocou faísca na audiência, não mereceu aplausos, nem na plateia nem no palco, faltou-lhe o lustro. É um cinzento-laranja. Lá foi ameaçando que não desiste, e diz que "não é pelas palmas que se avaliam candidaturas". Provavelmente, à espera da melhor oferta pelo lance.
Fim do espectáculo, Marcelo Rebelo de Sousa que, às vezes têm um complexo de adivinho ``a Maya" correu as três televisões e disse que nome do 18º líder do partido se escreve com P. Como qualquer bom médium, o oráculo não se há-de enganar: agora quis dizer Pedro Passos Coelho ou de Paulo Castro Rangel?.
Do Pavilhão Ministro dos Santos ficaram claras algumas linhas principais: o apoio inequívoco a uma recandidatura de Cavaco Silva - mal para ele, que tanto se tem esforçado por se demarcar do PSD e conseguir votos à esquerda! Já agora, porquê tanta coesão à volta de Cavaco, acaso algum social-democrata conhecido já disse que votava em Manuel Alegre, é que isso é que era o Diabo!. Muitas críticas ao Programa de Estabilidade e Crescimento que hoje dá entrada no Parlamento, com PPC a propor que Sócrates que discuta "com o futuro líder do PSD" o documento e que "adie a votação [prevista para dia 25 de Março] dez ou quinze dias" (um pouquinho excessivo, acha mesmo bem que o PM aguarde pela eleição de um lider de um qualquer partido para votar um documento vital para a economia das famílias e das empresas?); PR a discordar da decisão do Governo de colocar o documento a votação porque isso é uma "manobra para comprometer os outros partidos" (outra vez a megalomania!); e AB, muito aflito porque integra a comissão política e estão lá alguns dos seus apoiantes, a lembrar que tem esta ainda para viabilizar o PEC. Já, no sábado, no seu discurso inicial, Ferreira Leite afirmava que o PSD se deveria abster porque "A decisão do PSD é decisiva para acalmar os mercados".
Passos Coelho fez uma mise-en-scéne estilo Obama e teve a frontalidade de começar a sua intervenção pelos defeitos que lhe apontam: "Nunca fui funcionário da política, comecei a trabalhar aos 18 anos, fui pai aos 24, saí do Parlamento ao fim de 8 anos sem pedir reforma, fui tratar da minha vida, fui para a universidade e para as empresas. Não fui logo para o terrível Ângelo Correia". Foi de mestre, eliminar à partida o suposto trunfo dos adversários. E falar em AC, por quem todos, no mínimo, respeito. Conseguiu até captar alguma emoção da assistência quando soltou o desafio: "Se alguma insinuação existir que ma digam na cara para me poder defender" porque "vivo do meu trabalho com honestidade". Não compreende PPC que pode ser um grande defeito para muita gente do PSD. Quantos se podem gabar do mesmo? AB acaba de fazer, por intermédio do seu escritório, mais uns ajustes directos por conta do Parque Escolar, logo ele, que tanto criticou a medida, vai agora beneficiar dela. Mas enquanto for deputado, fará como os demais advogados-deputados, e angariará clientela. Não é bem desonestidade, é mais imoralidade. Mas, caraças, os homens também não têm de ser santos! PPC acabou dizendo que "não tem pressa para ir para o Governo" nem lhe "interessa chegar lá de qualquer maneira", mas que está convencido que Sócrates aguarda apenas "por um golpe de misericórdia". Vá-se convencendo, menino, vá-se convencendo! PR, querendo imitar alguém de que não chega nem sequer aos pés, foi dizendo que, após a "verdadeira des-Socratização" do país, aguarda que o sonho laranja se transforme em realidade: "Um Governo, uma maioria absoluta, um Presidente". Seria um sonho para ele, mas um pesadelo para o País!
O PSD apenas conseguiu a emoção de um congresso, pela mão de PPC, e o ânimo de um comício, com a intervenção de Fernando da Costa, presidente da CMCaldas da Rainha, que disse à direcção de MFL que "deviam ter vergonha por terem escorraçado" (PPC), e que "perderam as eleições" porque se entusiasmaram com a vitória nas europeias. Arrematando que até ele "ganhava ao Vital Moreira".
Santana, o animador de serviço, recebeu alguns elogios - que esperamos acalmem a sua vaidade e o mantenham apenas como militante, preservando o País dos seus delírios, agora que parece (de novo) tomado de amores (por Dina Vieira) - e, embora diga mal de poetas (a ver pela desconsideração com que diz que um nunca podia ser PR!) e nada perceba de música (lembram-se do incidente de Chopin ?), citou Chico Buarque: "Foi bonita a festa, pá." E nós acrescentamos É sempre bonita, pá! Mas como sempre 'tás enganado. Isto não era para ser festa, era para ser ... trabalho, pá!