No PressEurope, Questões Éticas, de Sandra Kegel. A matéria remete para o último relatório da OMS (Organização Mundial da Saúde) que aponta para que a depressão como a quinta maior questão de saúde pública, prevendo que, em 2020, seja a segunda. Todos temos amigos depressivos. Não que sofram de depressão estrutural mas de depressão conjuntural. De pessoas pesarosas, continua e constantemente mal dispostas, sistematicamente mal com o mundo, com a vida e consigo próprios.
A depressão aparece associada ao transtorno de humor, à falta de energia e à diminuição e degradação do prazer de viver. Mas afecta também outras áreas do organismo, de que decorre a falta ou o excesso de sono, a alteração do apetite, a destruição da auto-estima, a lentidão de raciocínio, a fraqueza de memória, a redução de atenção, um sentimento de culpa sem causa, crises de choro por tudo e por nada, uma sensação de tristeza ou uma excessiva agitação. A falta de atenção dos familiares, dos amigos, dos cônjuges e/ou dos colegas de trabalho deixa que a depressão se instale e que seja detectada a tempo e horas e a que o problema se agrave e dificulta o caminho de volta à estabilidade e à serenidade "normais". A depressão não deixa de ser uma enfermidade da alma e é como tal que a entendo. Seja uma depressão reactiva ou endógena, a atenção de quem está à volta é fundamental. A prudência exige uma sensibilidade especial para nos aproximarmos de alguém depressivo. É preciso investir tempo e energia num acompanhamento afectivo que gere no alvo uma vontade de sobreviver e de encontrar o caminho de volta. Se é difícil que uma mulher admita que está depressiva é muito mais difícil admitir a um homem que o está. E ajudar um amigo com tiques de machismo muito mais. Perdi um amigo porque me excedi em sinceridade e frontalidade. Claro que acredito que um dia voltará ao meu regaço. Para que regresse o quanto antes, vou tentar explicar-me. Talvez conte alguma coisa dizer que algures no tempo e no espaço já todos tivémos momentos depressivos. Simplesmente cada um exterioriza o que sente à sua maneira. Em vez de me desculpar com o cansaço, a fadiga, de ficar agressiva, me mostrar fraca ou frágil, de beber mais um copo, fumar um charro, e afundar-me num viciozinho menor, enterrei-me em trabalho - daí a minha fama de workaholic. O trabalho foi a minha válvula de escape, a minha fuga, uma forma de me salvar da perda de mim mesma. Depois desta terapia de choque, reassumi que saber parar era importante e o ócio criativo impõs-se.
No PressEurope, o artigo é ilustrativo deste estado de alma. O relato é o de Miriam Meckel, professora de sucesso, apresentadora de televisão e assessora de imprensa, um modelo para os seus compatriotas alemães, até ter caído numa profunda depressão. Quando recuperou, escreveu sobre a sua experiência e alertou para os perigos de uma sociedade escrava da comunicação, e a forma como o trabalho invade a vida privada. Como hoje a voltámos a ver, viva, efervescente e encantadora, é difícil imaginá-la, há um ano e meio, com a crise que a afundou, física e psicologicamente. Até aos 42 anos, viveu em alta velocidade e percorreu o mundo durante nos últimos quinze. E estoirou. Em Setembro de 2008, de regresso de uma viagem de várias semanas, Miriam Meckel foi animar uma sessão sobre as eleições presidenciais norte-americanas. Na manhã seguinte, não conseguia sequer levantar-se. “Era como se estivesse a passar ao mesmo tempo por uma 'overdose' de tranquilizantes e de estimulantes”, recorda.
Teve dores e acessos de febre, ficou quieta, sentada, a chorar. Nada a aliviava e sentou-se diante do computador, para ler os mails. Ao ver que tinha cinco dezenas de mensagens não lidas, foi-se abaixo. Foi a apresentadora de televisão, Anne Will, sua companheira, que lhe salvou a vida, ao levá-la ao médico. O diagnóstico não se fez esperar: Miriam Meckel tinha sido atingida pela síndrome de esgotamento profissional. A solução estava à vista mas esta filha de teólogo, viciada em sucesso recusava-se a olhar. “Não conseguia acreditar que não poderia continuar o que fazia”. Aos 31 anos, diplomada em Ciências da Comunicação, Miriam Meckel foi a mais jovem professora universitária da Alemanha, era porta-voz do governo de Wolfgang Clement, dinamizava uma emissão de televisão, escrevia ensaios científicos, artigos e vários livros, foi convidada a dar aulas na universidade suíça de Saint Gallen. Mas esta imagem que lhe ficou colada foi a vida que a levou ao caos. Com a sua biografia, Miriam Meckel afasta o discurso da mulher de sucesso e volta-o para a maravilhosa sensação de estar disponível para a vida. Esta é uma aprendizagem retirada a ferro e fogo pela enorme vontade de viver. Três anos antes, publicara "Das Glück der Unerreichbarkeit" [A alegria de ser incontactável], um livro sobre os riscos associados ao excesso de comunicação. Foi o primeiro sinal de alerta. Recusa que lhe seja aplicado o termo “burnout”, porque “corresponde a um esquema no qual os que têm êxito na vida são atingidos pela síndrome de esgotamento enquanto os outros, os que tiveram menos êxito, os falhados, sofrem de depressão”. Estudou a percepção mediática do fenómeno e este despertou a sua sensibilidade para a doença que a atacaria desprevenidamente mais tarde. Descobriu que esta doença tinha um reconhecimento clínico relativamente recente (em 1974, pelo psicanalista Herbert Freudenberger, que sofreu dela), como o anti-herói de Thomas Mann, Miriam Meckel não percebeu que sobrestimava as suas forças em situações de fraqueza, resgatava as últimas energias para corresponder às suas próprias expectativas e às dos outros. Submetia-se e aceitava todas as pressões, porque sabia que a síndrome não era “bem aceite”. Com este livro, a escritora toca numa corda sensível. Nos países industrializados, as doenças psicológicas têm tido um aumento constante. Em causa está a vida moderna, onde a individualização e a flexibilização provocaram o acréscimo das responsabilidades de cada um. Os indivíduos foram ultrapassados pelo facto de terem de tomar decisões apressadas e a todo o tempo. Ontem, o mundo do trabalho e o mundo da família estavam claramente separados. Hoje, cada um tem um computador portátil e um Blackberry em casa: "Somos como rãs, contentes com o seu novo pântano quente e agradável, sem se aperceberem que ele é de facto um tacho ao lume, a fazer ensopado de rã – deixamo-nos cozinhar em stress e burnout", diz. Miriam Meckel está decidida a deixar de se forçar a fazer tudo e a “fazer uma triagem, atribuindo a cada coisa o lugar que merece”. Foi para isso que escreveu este livro. E é por isso que espero que o meu amigo o leia. Eu, aguardo que um dia perceba que lhe dei a mão quando ele não estava pronto para aceitar ou devolver o abraço, e que regresse.
Teve dores e acessos de febre, ficou quieta, sentada, a chorar. Nada a aliviava e sentou-se diante do computador, para ler os mails. Ao ver que tinha cinco dezenas de mensagens não lidas, foi-se abaixo. Foi a apresentadora de televisão, Anne Will, sua companheira, que lhe salvou a vida, ao levá-la ao médico. O diagnóstico não se fez esperar: Miriam Meckel tinha sido atingida pela síndrome de esgotamento profissional. A solução estava à vista mas esta filha de teólogo, viciada em sucesso recusava-se a olhar. “Não conseguia acreditar que não poderia continuar o que fazia”. Aos 31 anos, diplomada em Ciências da Comunicação, Miriam Meckel foi a mais jovem professora universitária da Alemanha, era porta-voz do governo de Wolfgang Clement, dinamizava uma emissão de televisão, escrevia ensaios científicos, artigos e vários livros, foi convidada a dar aulas na universidade suíça de Saint Gallen. Mas esta imagem que lhe ficou colada foi a vida que a levou ao caos. Com a sua biografia, Miriam Meckel afasta o discurso da mulher de sucesso e volta-o para a maravilhosa sensação de estar disponível para a vida. Esta é uma aprendizagem retirada a ferro e fogo pela enorme vontade de viver. Três anos antes, publicara "Das Glück der Unerreichbarkeit" [A alegria de ser incontactável], um livro sobre os riscos associados ao excesso de comunicação. Foi o primeiro sinal de alerta. Recusa que lhe seja aplicado o termo “burnout”, porque “corresponde a um esquema no qual os que têm êxito na vida são atingidos pela síndrome de esgotamento enquanto os outros, os que tiveram menos êxito, os falhados, sofrem de depressão”. Estudou a percepção mediática do fenómeno e este despertou a sua sensibilidade para a doença que a atacaria desprevenidamente mais tarde. Descobriu que esta doença tinha um reconhecimento clínico relativamente recente (em 1974, pelo psicanalista Herbert Freudenberger, que sofreu dela), como o anti-herói de Thomas Mann, Miriam Meckel não percebeu que sobrestimava as suas forças em situações de fraqueza, resgatava as últimas energias para corresponder às suas próprias expectativas e às dos outros. Submetia-se e aceitava todas as pressões, porque sabia que a síndrome não era “bem aceite”. Com este livro, a escritora toca numa corda sensível. Nos países industrializados, as doenças psicológicas têm tido um aumento constante. Em causa está a vida moderna, onde a individualização e a flexibilização provocaram o acréscimo das responsabilidades de cada um. Os indivíduos foram ultrapassados pelo facto de terem de tomar decisões apressadas e a todo o tempo. Ontem, o mundo do trabalho e o mundo da família estavam claramente separados. Hoje, cada um tem um computador portátil e um Blackberry em casa: "Somos como rãs, contentes com o seu novo pântano quente e agradável, sem se aperceberem que ele é de facto um tacho ao lume, a fazer ensopado de rã – deixamo-nos cozinhar em stress e burnout", diz. Miriam Meckel está decidida a deixar de se forçar a fazer tudo e a “fazer uma triagem, atribuindo a cada coisa o lugar que merece”. Foi para isso que escreveu este livro. E é por isso que espero que o meu amigo o leia. Eu, aguardo que um dia perceba que lhe dei a mão quando ele não estava pronto para aceitar ou devolver o abraço, e que regresse.