quarta-feira, 24 de março de 2010

Niobe, Regina di Tebe: No São Carlos, amanhã.

Estreia amanhã no São Carlos. Obra de Agostino Steffani: Niobe, Regina di Tebe. Interpretada por Alexandra Coku. É um drama para música em três actos com libreto de Luig Orlandi baseado na obra Metamorfoses, de Ovídio. A adaptação da narrativa mitológica de Ovídio descreve o conflito entre os reis de Tebas e os deuses Zeus e Leto. Embora o texto se centre em Niobe, e no seu atrevimento em se achar mais abençoada, por ser mais fértil, que Leto, é nas árias de Amphion, cujo mito diz ter sido um músico de invulgar e mágico talento, que se acha o maior requinte de composição e orquestração. Niobe foi a que tudo teve para ser feliz. Um casamento feliz com Anfião o Rei de Tebas. Foi rainha querida. 7 filhos corajosos. 7 belas filhas. O marido Anfião e o seu irmão gémeo Zeto construiram a fortificação de Tebas. O marido, músico, superou a enorme força do irmão, arrancando, apenas com a sua lira, sons tão arrebatadores, que as grandes pedras o seguiram para a construção das muralhas de Tebas. Entre tamanha prosperidade e felicidade, seu pai, Tântalo, desafia os Deuses e exige do Povo de Tebas as honrarias e o incenso que queimavam no templo de Leto, a mãe de Apolo e Artemisa, em Delos!!! A arrogância e a insolência são mal vistos pelo Olimpo. E por causa delas, Apolo (Febo) e Artemisa (Diana) deslizam dos seus tronos celestiais, enquanto que o Deus do Arco de Prata e da Flecha de longo alcance e a Divina Caçadora, descem a Tebas e abatem, sem piedade, os filhos e filhas de Niobe (um dos motivos da sua arrogância perante a rival que só tinha tido dois filhos!). Atingida pela dor, Niobe desfez-se em lágrimas mudas, silenciosa, incapaz de gritar, e transformou-se em pedra. Daí que esta tenha ficado húmida para sempre. Porque as lágrimas lhe correrão, pelo resto da eternidade. Por isso Níobe se transforma em fonte (adaptado de Ovídio): "Os cabelos embora o vento passe Já não se agitam leves. O seu sangue, Gelando, já não tinge a sua face. Os olhos param sob a fonte aflita. Já nada nela vive nem se agita, Os seus pés já não podem formar passos, Lentamente as entranhas endurecem E até os gestos gelam nos seus braços. Mas os olhos de pedra não esquecem. Subindo do seu corpo arrefecido, Lágrimas lentas rolam pela face, Lentas rolam, embora o tempo passe."
Uma história lindíssima. Oxalá, que, no São Carlos, estejam à altura.