Oxalá esteja a tempo de conhecer Antonio de Macedo. Não propriamente porque é um místico rosacruciano, escritor, cineasta, Vencedor do prémio Consagração de Carreira da SPA, autor das Paginas Esotericas, mas porque é um homem de quem se diz que "está inteiro em toda a sua obra. Mesmo quando vai um pouco além e mergulha naquilo a que chama os "interstícios da realidade". «Que os próprios textos da Bíblia contêm material esotérico, é um dado observacional indiscutível, além do facto, também indiscutível, de terem sido objecto de interpretações esotéricas, quer por parte da tradição judaica, quer da tradição cristã desde os seus primórdios.», AM, in Preâmbulo de "Esoterismo da Bíblia".
Posso dizer que conheço razoavelmente as Escrituras. Do Gênesis ao Habacuque. De Mateus a São João. Com curiosidade por conhecer melhor AM, por motivos que não vêem ao caso, procurei no Google e o fascínio logo aconteceu. Salta aos olhos um dote evidente: heroísmos curriculares. Dono de uma obra imensa: classificação cronológica dos livros bíblicos, hermenêutica, mistérios e mitologemas da Bíblia, e tradicionalismo esotérico cristão. Não, não é, e muito dificilmente poderia ser, um padre. Diria que é um místico. Acho que ele prefere alquimístico. Se um padre escrevesse o que ele, seria excomungado em dois tempos. Se a Santa Inquisição existisse, ele não existiria. Dele não ficaria pedra sobre pedra. Não é padre, é alquimístico, parece mais um sábio. Um homem único, para além do tempo (do Templo). Fui criada no meio de religiosidades, entre extremos cruzados, na minha mesa de reflexão estão a Tora, a Bíblia e o Alcorão. É sobre a Bíblia que fala. O esoterismo biblíco. Algo muito parecido, para um cristão fundamentalista, como um atalho - no mínimo - para o Purgatório, a breves passos do Inferno de Dante. Não crê no cristianismo como uma religião revelada, porque opina que os textos fundadores estão plenos de significações por compreender. Por conhecimentos esotéricos. Entende a Bíblia como um texto carregado de "um cristianismo esotérico, com mistérios e textos de mensagem velada". AM não diz que tem de ser iniciado para a compreender, mas crê que implica um cristianismo iniciático. Conhecimento pressupõe pluralidade. Demos por certo que duas instituições detêm o monopólio do conhecimento - a universidade (conhecimento científico: O Único verdadeiro); e a Igreja católica (conhecimento cristão: A Única religião verdadeira), e perdemos, algures, a pré-disposição para continuar na procura da Palavra. Quem se arroga dono da Verdade? Se A Verdade fosse O Livro, o fogo de Alexandria legitimaria a destruição de todas as outras Fontes de Saber. AM conhece os textos bíblicos. E percepciona a Palavra para além da Letra. AM deve ser lido. Porque é um livre pensador e apenas arroga o superior direito-dever de o continuar a ser. E essa é uma ânsia de todos nós.