domingo, 28 de março de 2010

Mercado do Bolhão: Lá p'ra Abril vai saber-se o final da história de "renovação"


Foi o Mercado do Bolhão: ex-libris da Rua Sá da Bandeira e da Rua Formosa, Alexandre Braga e Fernandes Tomás. Nome com origem no local do mercado, edificado sobre uma nascente de água que ali existia. Há dois séculos, onde é o coração da baixa do Porto, havia um grande lameiro numa quinta dos condes de S. Martinho, serpenteando ribeiros e serventias, vielas e ruelas já desaparecidas (a Travessa das Almas -que ainda existe-, do Grande Hotel, de S. Marcos e de S. Marçal). Em 1837, a Câmara do Porto construíu um mercado e em 1851 começaram-se a edificar as barraquinhas. A actual Rua do Bolhão não é nenhuma das ruas à volta do mercado, fica a noroeste, 5 minutos a pé, e liga a Rua Fernandes Tomás à Rua Guedes de Azevedo, com as paralelas Rua Sá da Bandeira, a oriente, e a Rua do Bonjardim, a ocidente, o nome de Rua de São José do Bolhão aparece num documento da Misericórdia de 1763, e deve-se a uma bica - a Fonte do Bolhão.
Parece que lá para o fim de 2012, o tempo pode voltar para trás e trazer-lhe o tempo que ele perdeu. Consta que voltará a fazer parte do coração do Porto. De manhã à noite. Um novo pólo de dinamização da Baixa da cidade. O Bolhão seguirá o modelo dos mercados de Barcelona. Um interior do mercado requalificado. Legumes, fruta, peixe ou flores. Lojinhas com produtos regionais do país e da Galiza. Lojas de vinhos, queijos e pastelarias. Música, exposições e animação. Garantem-nos que os comerciantes manterão as suas banquinhas, excepto para os que entreguem as lojas à câmara as trespassem que terão de adaptar os novos negócios ao novo conceito do Bolhão. Os dois torreões vão ser transformados em unidades comerciais únicas. A mesma loja ocupará todos os andares do torreão. Reabiltam-se as fachadas exteriores, e o projecto do Igespar incluirá a cobertura do espaço, que lhe arescerá leveza e confortabilidade. Sem parque de estacionamento subterrâneo, embora esteja em estudo uma alternativa: a intervenção do lado sul do mercado, ao nível das fundações, pode equacionar uma passagem subterrânea, sob a Rua Sá da Bandeira, até ao Quarteirão de D. João I, aí sim com grande parque de estacionamento. Ligação directa à estação de metro do Bolhão.
Espera-se que mantenha os tons e os sons que o tornam único. Está desenhada a intervenção da Direcção Regional de Cultura do Norte e os estudos de reabilitação e recuperação do edifício serão apresentados, a 14 de Abril, no Congresso Património Intervenção 2010, na Faculdade e Engenharia da Universidade do Porto.
Que não se lhe retire a beleza das formas deste exemplar condigno da arquitectura civil comercial, em estilo neoclássico tardio, a monumentalidade dos torreões nas esquinas em contraste com as linhas horizontais das fachadas. Construção iniciada em plena 1.ª Grande Guerra Mundial, o actual edifício tem a traça de Correia da Silva. Foi uma obra de vanguarda para a época, com a utilização do betão armado conjugado com as estruturas metálicas, coberturas em madeira de riga e cantaria de pedra granítica, em planta rectangular alongada. Traços idênticos aos que o arquitecto José Marques da Silva usou para a Estação de S. Bento, o que não admira já que ambos cursaram em Paris e se renderam à influência da École de Beaux Arts. Na fachada sul, e no telhado, por cima da entrada principal, que fique por lá o frontão com o brasão e as suas magníficas esculturas de Bento Cândido da Silva. Não é pedir muito, pois não?