sábado, 1 de maio de 2010

Vi a Ana do Castelo! E que Viana!




Uma semana em Viana do Castelo, a trabalho. A convite do IPVC, via Direcção, na pessoa da Margarida Amorim, e da NPF.
Fiquei por ali entre mais uma formação do Código dos Contratos Públicos, o magnífico verde, a cozinha gulosa, e a simpatia daquela boa gente. Uns de Moledo, outros de Ponte de Lima, de Aveiro e de outros locais que me parecem habilitantes para se viver em qualidade. Gente muito boa. Sem saber como responder àquela eterna pergunta: porque é que se mora em Lisboa?
Uma terra linda. Com uma bela história. Sem conhecer o José Maria de que dizem tanto bem, bom trabalho tem sido feito por aquela terra. Diz-se que Viana do Castelo começou no Monte de Santa Luzia (a convidar a um passeio até ao topo do zimbóri), mas não acredito que aquele mar a deixar-se ver do Flor-de-Sal tenha sido alheio a um sucesso de mistura dos vários povos que nos povoaram a Norte. Uma cidadezinha já falada como a nova Meca da Arquitectura. O traço de Fernando Távora seguido pelo João a coordenar, dentro maior harmonia, o velho com o novo. Uma vista a maravilhar os olhos, a seduzir a alma. Não fiquei na Pousada de Santa Luzia, mas na Margarida da Praça. Mulheres bonitas de uma grande simpatia. Art-deco com rocócó. Cores do arco-iris. Hei-de voltar. Ah! E a cozinha!!! Alternativa dizem. Qual quê!? Uma distribuição de sabores e cores a adormecer a solidão. Uma povoação habitada desde 2000 aC até 1500 dC. O seu declínio veio com a invasão romana que expulsou para o vale os habitantes celtas desta povoação, daí aqueles olhos claros de alguns, a contrastar com os filhos de Viriato, de peles e olhos mais escuros. Com a Reconquista Cristã terá surgido um pequeno núcleo populacional que deu lugar a freguesia de Santa Maria. A sua privilegiada situação e sua proximidade a uma via medieval asseguraram a economia que se beneficiava das peregrinações a Santiago de Compostela.
No ano de 1258 Viana foi fundada junto a desembocadura do Rio Lima por D. Afonso III. Com um porto muito importante durante a Época das Descobertas, desta Vila marinheira partiram muitas embarcações que voltaram repletas de tesouros que enriqueceram a população.
Em 1374, é concluída a muralha da Vila, na altura com quatro portas: Porta de S. Pedro, Porta da Ribeira, Porta do Postigo e Porta de Santiago. No século XVI, foi aberta a Porta da Vitória. Em 1502, para defesa em relação à pirataria, foi construída uma fortificação na barra denominada Torre da Roqueta. A 1 de Junho de 1512, D. Manuel concede Foral Novo a Viana por a considerar importante pólo de comércio marítimo. Em 1563, D. Sebastião classifica Viana como «Vila Notável», dizendo-a uma das mais nobres e de maior rendimento do reino. Ao longo da Idade Média, Viana torna-se um importante porto marítimo, e durante a época dos Descobrimentos Portugueses, o porto de Viana era mesmo o terceiro mais movimentado do País. Já no século XX viria a ser construída uma frota bacalhoeira nos estaleiros de Viana do Castelo para a pesca do bacalhau nos mares do norte.
A meados do século XIX a população recebe o nome de Viana do Castelo quando D. Maria lhe concede o título de cidade.
É difícil resistir ao encanto da cidade de Viana do Castelo, quando a luz clara cria sombras geométricas por entre os majestosos edifícios históricos, onde os estilos manuelino, barroco, revivalista e art-déco predominam. As ruas e ruelas do centro histórico, um dos mais belos e bem conservados do Pais, chamam a nossa atenção, quer pelas belas fachadas armoriadas, quer pelos painéis de azulejos preciosos no traço e na cor, constituindo um autêntico compêndio da história da arquitectura em Portugal. A lembrar uma Praga em ponto pequeno.
Viana do Castelo segue intimamente ligada ao mar, a economia ainda se sustenta nos estaleiros, mas sobretudo nos sectores dependentes do turismo, o comércio e os serviços, destaca também a indústria artesã.
E de lá trouve um coraçãozinho lindíssimo de filigrana oferecida pelos gentis formandos, uma pequenina e habilidosa malha de grãos, feitos a partir de uns fiozinhos ou de uma lâminazita de prata, à boa maneira etrusca ("o granulado”). Coraçõeszinhos que nasceram como objecto de devoção ao Coração de Jesus. A lembrar a fortuna pela qual foi vendida pela leiloeira Sala Branca, em Londres, o ano passado, a ora "Coração Independente Dourado", de Joana Vasconcelos, com a sua peculiar magnificiência de 3,70 m de altura por 2 m de largura.
Esta cidade do litoral Norte caracteriza-se por uma mescla de mar, rio e montanha e é cheia de monumentos e de obra estatutária que a elegem entre as mais belas do País.
Curiosidade acerca da origem do nome - Viana do Castelo: Conta-se que um cavaleiro se apaixonou por uma bela princesa. Rondava o castelo da sua amada, vezes sem conta, na esperança de a ver. Um dia, na varanda mais alta do castelo, viu a princesa, Ana de seu nome, que lhe acenava. Louco de alegria, o cavaleiro não se conteve e então gritava: "Vi Ana do Castelo! Vi Ana do Castelo!"
Tudo a acabar numa mesinha ao fim da tarde, com um "pneu" e uma bola de Berlim, de Viana, do Natário. Soberbo! Digno de ressuscitar o Eça. Quero lá voltar e até apetece por lá morar.