Eduardo Lourenço, numa obra de referência – O Fascismo Nunca Existiu -, considera que «impensado enquanto presente», durante os quarenta e oito anos da sua real e concreta existência, o Fascismo passou a «impensável enquanto passado», para um povo com uma dificuldade proverbial em inscrever na sua história os episódios mais sombrios. Impensado enquanto presente, pelo silêncio imposto através de uma muito eficaz subtracção ou privação do direito à palavra, espaço público da cidadania em que os homens se reconhecem como iguais, discutem e decidem em comum, com vista a decisões que concernem a todos. Sem a palavra livre não há política. Salazar delimitou com rigor e método esse deserto da palavra que era o seu Estado Novo. A análise do discurso e dos discursos de Oliveira Salazar na dissertação do mestrado de José Martinho Gaspar. Convém não esquecer: " Não discutimos Deus e a virtude; não discutimos a Pátria e a sua História; não discutimos a autoridade e o seu prestígio; não discutimos a família e a sua moral; não discutimos a glória do trabalho e o seu dever".