sábado, 15 de maio de 2010

A educação e a questão feminista no final do século XX (Parte III)


Todas estas iniciativas colheram maior ou menor inspiração em iniciativas com origem em França ou na Grã-Bretanha, filiando-se em discursos feministas que se afirmaram quer nos E.U.A. quer na Europa Ocidental nas décadas de 70 e 80 com algum vigor. Num estudo da O.C.D.E. de meados dos anos 80 afirmava-se, por exemplo, que o facto de os alunos serem mais repreendidos pelo seu comportamento por parte dos docentes do que as alunas e de o seu trabalho necessitar de maior atenção provoca naquelas sentimentos negativos. Afirma-se mesmo que “uma conclusão é que os rapazes têm capacidades mas não se esforçam, enquanto as raparigas se esforçam mas não têm capacidades”, opinião aparentemente partilhada por diversos autores. A percepção da existência de atitudes e áreas de interesses próprias de cada sexo desde a mais tenra idade é tomada, neste tipo de discursos, como sinal inequívoco da acção precoce de mecanismos sociais virados para a reprodução dos papéis sexuais tradicionais. As próprias conquistas femininas no sector da Educação são encaradas de forma céptica e próxima de uma “teoria da conspiração”: “Numa perspectiva ainda mais global e (ainda) mais polémica, podemos mesmo sustentar que o desenvolvimento da instrução feminina, na medida em que concerne à formação mais geral ou menos interessante para o mercado de trabalho constitui, ao nível da sociedade, um compromisso aceitável entre os valores dominantes, em função dos quais seria difícil recusar a instrução aos indivíduos em função do sexo, por um lado, e por outro a necessidade de «conter» a instrução das mulheres (…).”
No entanto, algumas leituras mais recentes de todas estas questões começam a sublinhar a necessidade de introduzir uma maior subtileza na análise das situações concretas e de evitar soluções unívocas que, em nome do combate pela igualdade, acabam por promover a indiferença pelas especificidades, ou que, numa outra perspectiva, em nome de “pedagogias diferenciadas” acabam por assumir mecanismos de efectiva discriminação.