sábado, 15 de maio de 2010

A educação e a questão feminista no final do século XX (Parte II)



Afastada a questão da participação feminina na Educação, em termos globais, a partir de meados dos anos 80 e na década de 90, a luta principal das feministas na área da Educação transitou para a questão da “igualdade de oportunidades” e, muito em especial, para o protesto contra a subrepresentação feminina nas instâncias de maior responsabilidade e poder de decisão na esfera político-administrativa do Ministério da Educação, o que aconteceu em paralelo com reivindicações semelhantes para os cargos de topo na esfera económica e em outros planos da vida social e cultural do país.
Entre outras iniciativas, divulgou-se entre nós nos anos 90 o conceito da “Pedagogia da Igualdade” cujo objectivo primordial passa pela eliminação de todos os obstáculos discriminatórios para a Mulher no sistema de ensino, assim como pelo combate a todas as representações estereotipadas do papel familiar e social dos géneros. Foram objecto de particular crítica, neste caso, os manuais escolares, acusados de promoverem a percepção de estereótipos sexuais nos alunos e assim colaborarem para a reprodução de uma ordem social desigual e discriminatória para as mulheres.
Foi ainda sublinhada a questão da chamada “invisibilidade feminina” nos contextos educativos e na educação, a qual passaria pela maior taxa de analfabetismo, por um abandono escolar precoce mais elevado, pela manutenção de estereótipos na representação do género nos manuais escolares (área que pemitiu a produção de variadíssimos estudos de cujas conclusões se pode encontrar uma panorâmica em Martelo 1999, 34-36), pela forma de organização das salas de aula, pelos princípios orientadores do currículo escolar, pela dicotomia entre “Humanidades” e “Tecnologias” na organização das áreas de ensino, pela desvalorização social do papel dos docentes (que são maioritariamente professoras) e pela não abordagem das questões do género e da desigualdade na formação inicial de professores.
Entre outras acções, chegou mesmo a ser produzida uma proposta para novos “Indicadores para a Igualdade” em diversos sectores, entre os quais a Educação e foram promovidas diversas iniciativas como o projecto “Igualdade de Oportunidades em Educação – Formação de Professoras para uma Escola Não-Sexista” da Escola Superior de Educação de Setúbal, que se integrava no projecto TENET da Comissão Europeia, ou o projecto “Igualdade de Oportunidades e Formação Inicial de Docentes” da Universidade Aberta.