sábado, 15 de maio de 2010

A educação e a questão feminista no final do século XX (Parte IV)


“Temos vindo a constatar que tentar separar pedagogia para raparigas da pedagogia para rapazes é interpretar mal a questão: a menos que compreendamos e consigamos desconstruir as dinâmicas do género na escolaridade, não poderemos desenvolver uma efectiva pedagogia para cada género. Incluir os rapazes no quadro é particularmente apropriado desde que, pelo menos no Reino Unido, existe uma considerável preocupação acerca do desempenho globalmente mais pobre dos rapazes ao longo do período da escolaridade obrigatória.”
Como sublinham as mesmas autoras, algumas perspectivas das pedagogas feministas acabam por ser tão autoritárias quanto o eram as perspectivas patriarcais que as antecederam. O próprio conceito de “Escola Amigável para as Raparigas” (Girl Friendly Schooling) desenvolvido em alguns pontos da Grã-Bretanha, destinado a fazer as raparigas sentir-se bem na Escola e nela colherem os necessários benefícios para a sua vida futura, tem sido questionado na sua prática, por vezes demasiado arrastada para acções de impacto imediato.
Por outro lado, e voltando novamente ao caso específico português, nenhuns indicadores parecem apoiar a existência de mecanismos discriminatórios especialmente desfavoráveis para com o sexo feminino nas escolas actuais, pelo menos que se façam sentir com tanta intensidade como os que actuam sobre as minorias étnicas ou as camadas sociais economicamente mais desfavorecidas. Se não chegassem os números que reflectem o progressivo domínio que as mulheres passaram a exercer enquanto alunas e professoras a todos os níveis, existem ainda os dados relativos ao aproveitamento que são há muito favoráveis ao sexo feminino. O melhor aproveitamento escolar entre as raparigas é um facto que se estende até à própria Universidade e que está bem presente no ritmo actual de diplomados nas mais diversas áreas do conhecimento, o anunciando a completa “feminização” a mais ou menos curto prazo do Ensino Superior e não só. As razões para esta dinâmica são objecto de discussão, mas nunca devem ser dadas de forma simplista, recorrendo a clichés anacrónicos ou a teorias de reprodução social muito datadas, que já tiveram o seu auge e assentam em dados ultrapassados. Por vezes, após duras lutas, é preciso ter consciência que a guerra, porventura, já terminou (e, ainda melhor, foi claramente vencida).