domingo, 9 de maio de 2010

Procurando caminhos para a crise



Escrevi há pouco dois artigos que enviei em primeiríssima mão para o António Centeio, do Jornal Alpiarcense, dando conta do quanto me irrita ler diariamente comentários negativos sobre a situação (altamente deficitária, ao que parece) do executivo, porque me custa ver degladiar em praça pública o espírito daquela gente que foi uma marca e um marco na História de Portugal, começando pelo seu papel na implantação da República e acabando na luta que levou à consagração dos ideais de Abril, a infligir-se, exangue, pelas ruas da amargura.
Somos um povo que tem esta terrível mania de dizer mal de si mesmo. A “piolheira” como dizia D. Carlos.
Mário Soares, ainda recentemente, proferiu uma alocução na Fundação em que foi de uma grande eloquência sobre o tema. Afirmava que tinha de se lutar contra o pessimismo dos economistas e este pânico do deficit. Até porque alguns Nobel da Economia aconselham a União que o deixe crescer, se necessário, para atacar o flagelo do desemprego, a maior de todas as preocupações. Para salvar a tranquilidade política e social, um elemento tão decisivo de uma boa governabilidade. Acresce que, para além deste terrível e temível vício de dizer mal de nós próprios, fomos cultivando um outro: o gosto das guerrilhas partidárias, em si mesmas, sem ideias nem ideologias claras e de discutir o acessório - as ambições partidárias e pessoais de poder e interesses mesquinhos - e, nesta inglória luta visceral, tendemos a esquecer o essencial. E o que é essencial, é vencer a crise, sem pôr em causa as conquistas sociais, lutando contra o desemprego, com inteligência e bom senso, contra o endividamento do Estado e das Famílias, e ainda contra o despesismo público e privado.
O essencial é, hoje, que o Estado e os Partidos, tanto do Governo como das Oposições, da Esquerda ou da Direita, abandonem o acessório, que ocupa mais de 80% da nossa Comunicação Social - as fugas ilegais, os escândalos ou pseudo-escândalos, o dize-tu direi eu, as frases assassinas, logo esquecidas, etc. - e se concentrem no debate que mais importa aos cidadãos: dar resposta a como sair da crise? Como vai concretizar-se, em detalhe, o Programa de Estabilidade e Crescimento, para nos conduzir até 2013? Como se vai combater o desemprego? E como se vai manter o trabalho dos empregados? E como se mantém activas as pequenas e médias empresas? São algumas das questões, para além das que sempre nos preocupam, como a Justiça ou a sustentabilidade do sistema de Segurança Social, as que, de facto, devem monopolizar a nossa atenção.