domingo, 23 de maio de 2010

SENTENÇAS DA VIDA - Carlos Santos Oliveira

Numa altura em que o drama da pedofilia alastra até dentro do Vaticano, as quatro paredes de um edificio que devia cumprir a sua missão de Templo, seguindo-se aos casos detectados nos Estados Unidos, Irlanda e Alemanha, até Roma, capital da cristandade, se transforma em palco de escândalos de pedofilia. No caso de um processo contra um padre que teria tido os seus crimes encobertos por um bispo. No banco dos réus, Dom Ruggero Conti, um padre de 56 anos com aparência bonachona que pregou durante 10 anos em Selva Candida, subúrbio de Roma, até a sua prisão em Junho de 2008. Convocado a depor na noite de quinta-feira, o bispo Gino Reali teve que explicar porque não agiu de imediato, quando dois jovens vieram se queixar de abusos sexuais praticados por Dom Ruggero quando eram adolescentes.
Recorde-se que a pedofilia é, hoje definida simultaneamente como doença, distúrbio psicológico e desvio sexual (ou parafilia) pela Organização Mundial de Saúde. Pode ser cometida por atentado violento ao pudor (prática de atos libidinosos cometidos mediante violência ou grave ameaça), por estupro (constranger criança ou adolescente à conjunção carnal mediante violência ou grave ameaça) ou pela pornografia Infantil (Apresentar, produzir, vender, fornecer, divulgar ou publicar, por qualquer meio de comunicação, inclusive rede mundial de computadores ou internet, fotografias, imagens com pornografia ou cenas de sexo explícito envolvendo crianças e pré-adolescentes).
Ciente desta preocupação, Carlos Santos Oliveira (Esfera Contemporânea: 14, p. 120) publicou em Agosto de 2009, SENTENÇAS DA VIDA (Editora: Esfera do Caos) um livro que recomendo vivamente. É um conterrâneo da família, que nasceu na Chamusca, no Ribatejo, onde durante alguns anos foi jornalista. Depois de várias passagens pelas carreiras da vida é hoje oficial de justiça. Tem textos publicados em vários jornais e alguns dos seus poemas fazem parte de colectâneas. Em 2008 publicou o romance É Tão Fácil Morrer e em 2009 o livro de poesia Redes. Mas este é pertinente e arrojado: Trata da pedofilia, dos abusos sexuais, dos maus-tratos, da droga, do alcoolismo, do incesto, da prostituição, dos suicidas e dos assassinos, da desgraça das crianças abandonadas, raptadas, torturadas, cedidas às famílias de acolhimento e à adopção, "usadas como granadas na guerra entre os pais". O autor, como disse, é oficial de justiça num Tribunal de Família e Meno­res, e, talvez por isso mesmo, uma testemunha do julgamento da condição humana. Assiste obrigatoriamente "ao calvário das famílias que se esboroam em ruínas, sem fé, num terramoto dos sentimentos. E estende as mãos para o pó dos escombros sob os quais as crianças continuam a chorar e a gritar por socorro."
SENTENÇAS DA VIDA Conta histórias que "são um repositório dra­má­tico e expressivo daquilo que no dia-a-dia vai desfilando por um Tribunal de Família e Menores. São descrições ade­quadamente ficcionadas de casos ocorridos, sem violação do segredo de jus­tiça. São relatos vívidos de algumas das maio­res tragédias huma­nas. Mas são principalmente um grito de alerta. E uma denúncia do submundo das lutas caninas dos pais dilacerando a inocência e a infância dos próprios filhos."
Mais um chamusquenho à conquista do mundo e na demanda da verdade fraturante!