Gari Kasparov é um ex-Campeão Mundial de Xadrez, activista político russo e escritor. Durante décadas, foi um dos grandes nomes do xadrez mundial. E se como tal não correu grandes riscos físicos, a política acabou de lhe provar que é um cenário bem mais arriscado. O feitiço virou-se contra o feiticeiro e Kasparov foi agredido, nem mais nem menos, do que com um tabuleiro de xadrez. O russo tomou para si a voz da Rússia e denunciou o autoritarismo de Vladimir Putin. No final de um encontro com activistas juvenis, um jovem aproximou-se, e, a pretexto de lhe pedir um autógrafo, desferiu-lhe um golpe na cabeça com o tabuleiro, enquanto o insultava. Kasparov, demonstrando que o xadrez é um jogo de far-play, brincou: «Ainda bem que na Rússia o basebol não é um desporto popular» (até porque o arremesso de uma bola podia provocar-lhe mais do que um simples hematoma).
Definitivamente, Kasparov ter-se-á apercebido que o xadrez é um jogo com 100% de informação, em que ambos os jogadores estão conscientes de toda a informação e do tempo, e, portanto, condicionados à sua aptidão para o cálculo. Mas, já que todos admitem que a política é um enorme tabuleiro de xadrez, creiam que também é um fantástico jogo de Poker. Também nela existem cartas ocultas e outras variáveis em jogo, como a sorte ou azar, o bluff e a gestão de risco. E estes são aspectos do jogo baseados unicamente na psicologia humana. O que significa que a decisão final não pode ser decidida por computadores. "Um computador pode calcular as probabilidades de cada mão, mas o que fazer face a um oponente com poucas odds que faz uma grande aposta?"", pergunta Kasparov.
Lusitana Fonseca, pouco tempo depois de ter entrado na política (prémio Carreira 2005, mentora do projecto Aveiro Digital) dizia que começava a conhecer as peças, a aprender a movê-las no tabuleiro e a perceber as regras. "No xadrez há dois exércitos que se defrontam. No início da partida, um jogador tem 16 peças de cor branca, o outro tem 16 peças de cor preta. O confronto só é possível graças aos espaços vazios no tabuleiro. Sem esses espaços, as peças permaneciam imóveis sem sair do lugar. O objectivo é mover as peças de tal forma que, no final o rei adversário fique sem saída e abdique. É o chamado xeque-mate.
A política assemelha-se muito a um jogo de xadrez. No xadrez as jogadas têm que ser feitas dentro do tempo estabelecido. Na política também existe um tempo determinado, e quem não o conhece, ou não o respeita, tem fortes probabilidades de ser um perdedor. No xadrez existe uma previsibilidade de jogadas e o bom jogador prevê a jogada do seu oponente e as próprias jogadas com relativa antecedência. Na política, também existe essa previsibilidade e isso faz a diferença entre o bom e o mau político. No xadrez os objectivos são, avançar as pedras, conquistar espaços no tabuleiro, capturar o rei e dessa forma vencer o jogo. Na política os objectivos são avançar no terreno do adversário, conquistar o seu espaço político, convencer os eleitores e dessa forma, vencer a eleição."
A política assemelha-se muito a um jogo de xadrez. No xadrez as jogadas têm que ser feitas dentro do tempo estabelecido. Na política também existe um tempo determinado, e quem não o conhece, ou não o respeita, tem fortes probabilidades de ser um perdedor. No xadrez existe uma previsibilidade de jogadas e o bom jogador prevê a jogada do seu oponente e as próprias jogadas com relativa antecedência. Na política, também existe essa previsibilidade e isso faz a diferença entre o bom e o mau político. No xadrez os objectivos são, avançar as pedras, conquistar espaços no tabuleiro, capturar o rei e dessa forma vencer o jogo. Na política os objectivos são avançar no terreno do adversário, conquistar o seu espaço político, convencer os eleitores e dessa forma, vencer a eleição."
Immanuel Wallerstein entende a geopolítica como "uma gigantesca série de jogos de xadrez, no qual os dois jogadores procuram obter vantagem de posição. Neste jogos, é crucial saber as regras que regem os movimentos. Os cavalos não podem andar na diagonal. Quando se joga o xadrez geopolítico, é melhor conhecer bem as regras, ou é-se enganado."
É, portanto, mais do que comum a analogia entre o xadrez e a política. Um amigo meu, obcecado por ambos os jogos, afirma que pensa a política como um tabuleiro de xadrez. Por mim, que nada percebo de xadrez e de política, pouco, muito pouco, acho esta afirmação exagerada. A relação entre quem joga xadrez e faz (ou joga com ...) política escapa à maioria. A analogia podia fazer-se, quando muito, aos poucos que são capazes, pela sua liderança ou poder político, de dispor e organizar suas açcões, de controlar as peças e de as movimentar de acordo com os seus objectivos tácticos e estratégicos. Quem não dispõe dessa qualidade, não joga na política, limita-se a ser jogado; quem não dispõe de força para controlar e organizar o seu jogo, acaba como peça que apenas é movimentada no tabuleiro. Sem espaço próprio ou autonomia.
Tal como no xadrez, também na política os movimentos dos jogadores são pensados a médio e a longo prazos, procurando encurralar o Rei do adversário e fazer xeque-mate. No jogo eleitoral do Poder Executivo (o tabuleiro nacional), as partidas tem a duração de quatro anos e iniciam-se antes de cada embate eleitoral. É aí que as peças são dispostas no tabuleiro. O resultado das eleições para o Governo representa um estágio onde cada jogador conquistou posições, avançou pelo centro do tabuleiro, anulou ou capturou peças. Essa vantagem inicial, proporcionada pela vitória eleitoral, não quer dizer que o xeque-mate seja apenas uma questão de tempo. Até porque a imprevisibilidade é outra das características coincidentes a ambos os jogos (xadrez e política). Um movimento errado, avançar demais no tabuleiro, sem perceber as regras do jogo democrático é um risco, e, na maior parte das vezes para a oposição, é um risco demasiado elevado. Será mesmo um factor que pode produzir efeitos de médio e longo prazo. Que podem tornar uma vitória tida por certa numa derrota iminente. Porque se esquece, precisamente, que o jogo da política também tem muito de Poker. E que a componente humana é forte e pesada. E imprevisível.
Mais táctica e estratégia do que há na política não há qualquer noutro tabuleiro. (No site Espanhol Ajedrez 32, existe o Xadrez-Obama! e até o ICC colocou à venda um Tabuleiro de Xadrez Político em porcelana pintada à mão, com as principais personagens que têm marcado a política mundial: George Bush, Condoleezza Rice, Tony Blair, Vladimir Putin, Kofi Anand, entre outros. Com este leque de figuras, é possível criar um fianchetto à Tony Blair, um xeque a George Bush ou colocar Jacques Chirac a ameaçar um ataque duplo.)
É certo que "A Vida Imita o Xadrez" (de Garry Kasparov, 2008), e que a Política tem muito de xadrez mas quanto maior a nossa capacidade de exercer uma livre cidadania, tanto mais ele se tornará um jogo de Poker. E em que a componente crítica de cada um pode contribuir para a imprevisibilidade do resultado final. Era bom que os que se dizem jogadores de xadrez político começassem a aprender poker político. E a não menosprezar a capacidade de todos nós para separar o trigo do joio. Sobretudo quando se trata de informação ambientalmente perigosa. Isto é, poluída. Porque informação de risco gera comportamentos de risco! E isso, este povo, é um luxo em que não podemos mais incorrer. Porque em causa está o xadrez nacional, este muito mais importante que um simples xadrez político-partidário.