Pedro Passos Coelho, candidato à liderança do PSD, assumiu uma posição diferente da tomada pelo seu partido acerca da Lei das Finanças Regionais. Defendeu que os social-democratas devem tratar todo o país da mesma forma. É claro que PPC anteviu que Alberto João Jardim iria abrir guerra. As ideias do AJJ sobre a Madeira, a economia madeirense e os interesses regionais são públicas. Está bem de ver que PPC ponderou o impacto que essa atitude teria no seio do partido. E que isso lhe custaria a perda de apoios. Obviamente, Aguiar Branco e Rangel beneficiarão desta atitude. Por ricochete. Provavelmente, do que se conhece e pelo que se tem empenhado a dar a conhecer, Rangel pode mesmo ficar a dever a PPC a vitória.
O presidente do Governo Regional e líder do PSD/Madeira considerou «inaceitável» a posição de PPC, e acusou-o de ter «traído a unidade do partido contra a região». Para AJJ«um indivíduo que trai a unidade do partido contra a Madeira, está de fora».
Vale dizer que, em política, menosprezar alguém só porque parece mais discreto, mais reservado, nem sempre significa ganhar. Porque às vezes quem faz mais show-off tem (des)agradáveis surpresas. Não esqueçamos que Pedro Santana Lopes achava-se o actor e via Carmona Rodrigues como um seguidor cego, sem vontade animíca, sem potencialidades políticas. E teve (des)surpresas. Dá-se, portanto, um breve conselho a Rangel e a Aguiar Branco: não vejam PPC como um deus menor. Porque em política nem tudo o que parece é. E, se bem que me seja difícil acreditar que alguém se assemelhe a Carmona (porque se era ele o Homem-Sombra, o Homem-Sol percebeu que a sombra também queima), PPC pode reservar ainda alguns trunfos na manga e sacá-los quando menos esperam. Ninguém diria que Cavaco era um político quando apareceu do nada na Figueira. E foi o que se viu. E se ninguém dá nada por PPC, deixem-me acrescentar algo ao que já disse. A coragem é feita de pequenos/grandes gestos. E se a coragem política se medir em pequenos gestos e nas posições contra-sistema e da maioria, Pedro Passos Coelho perdeu votos nas directas, mas disse-o. Gabo-lhe a frontalidade. A disponibilidade para a atitude. O risco. Dizer o que tem de ser dito, mas que não devia ser dito, é um gesto que marcou a diferença de PPC. Agir contra o status, mesmo o do partido, vai-lhe sair caro. Passos Coelho corre o risco de ficar marcado como "um"risco. De ter perdido pontos na sua carreira política. Mas romper com os interesses instalados e as conveniências político-partidárias pode também arrecadar-lhe alguns apoios. E quando os demais tombarem e por fim cairem, PPC pode ser O Homem. Revelou impaciência e determinação. Mostrou-se impaciente para as manobras de bastidores, piruetas mediáticas e desvios passadistas, que se colaram à máquina laranja como uma imagem de marca. Mostrou determinação — e essa determinação costuma apaixonar as bases do PSD, que atingem o seu apogeu entusiástico com um bom assumo ideológico.
Alberto João Jardim não menospreza PPC. Senão estaria calado. Num gesto de desprezo. Se fala dele e contra ele, Passos Coelho pode ter mais importância do que ele próprio se atribui. Quem mais se levanta contra PPC, Pedro Santana Lopes? Outra vez? Marcelo Rebelo de Sousa? Outra vez? Manuela Ferreira Leite? Outra vez? Porque motivo AJJ defende um congresso à porta fechada? Receia o impacto límpido e clean de PPC? Como PPC não é homem de show-off, de que tem medo AJJ? Acaso Passos Coelho é político de agregar votos internos? Ou AJJ receia que os barões laranjas que já se manifestaram contra Rangel e outros contra Aguiar Branco, tentando reencontrar o discurso lógico que o PPD/PSD tinha quando tinham mão no partido, escolham o "menino laranja" em vez dos dois sucessíveis esperados e expectantes, oriundos do núcleo duro da máquina partidária?
Talvez AJJ, mais do que numa manobra de sobrevivência, tenha encetado uma manobra de preservação. Talvez se lembre de PSL e de CR e, afinal, esteja já a evitar que a história se repita, e a sombra volte, por fim, a ofuscar, de novo, os sóis.